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A Näz é uma marca de moda sustentável 100% portuguesa, que nos despertou de imediato o interesse, até pela sua forte presença em mercados internacionais . Contactámos a Marta Ferreira, marketing specialist da marca, para nos responder a algumas questões, relacionadas com a recetividade do consumidor português à moda sustentável, os pilares sustentáveis da Näz, o impacto da moda no futuro do planeta e da pandemia no consumo atual. Não percam, está tudo abaixo. 

 

A Näz nasceu da ambição de criar uma marca na área da moda, ou da vontade de criar um projeto sustentável? 

A Näz surgiu da ambição de criar uma marca de moda sustentável 100% portuguesa

Apresentam 3 grandes “forças” na área da Sustentabilidade:

  1. Social Integration,

  2. Democratic Design 

  3. Share Information.

Podem explicar melhor o que é cada uma delas e de que forma se incorporam no negócio? 

No que toca a social integration, a Näz tem grande parte da sua produção localizada na região da Beira Interior, que, apesar de ser um ponto de referência na industria têxtil, é, ao nível nacional, uma das áreas mais afetadas por desigualdades sociais, quer ao nível de acesso a serviços, quer ao poder de compra dos habitantes da região. Os nossos produtos são produzidos e criados em cooperação com os nossos parceiros, num processo de aprendizagem conjunto e contínuo, onde se pretende aliar técnicas e conhecimentos da industria, com metodologias alinhadas com a sustentabilidade.

Em relação a Democratic Design, todas as nossas peças são pensadas de forma a que tenhamos um menor range de tamanhos, mas que consigamos incluir um maior número de corpos diferentes nas nossas peças. Linhas minimalistas, e oversized, são as principais características das nossas peças. Ainda nesta linha de pensamento, uma parte da nossa coleção é feita em fibras prontas a tingir, permitindo que um certo tipo de material, como o linho em natural pronto a tingir, seja moldado a diferentes designs. 

Por fim, em Share Information, a Näz pretende tornar-se 100% no que toca à sua produção. No nosso website, temos uma área dedicada aos nossos parceiros, materiais, e transparência, onde exemplificamos o cost brakdown de uma peça. As redes sociais são um veículo de informação muito importante para nós, e aqui também concentramos a nossa comunicação na partilha de informação em torno dos nossos produtos e métodos de produção.

Estamos a trabalhar de forma a trazer aos nossos clientes e seguidores ainda mais transparência neste sentido e estamos a trabalhar para que, já no próximo ano, consigamos partilhar o impacto ambiental e social das nossas peças, bem como o life-cycle acessment dos nossos produtos. 

 

Uma marca que se pauta pela sustentabilidade analisa todo o ciclo de vida dos seus produtos, desde a busca de matérias, ao fabrico, transporte, experiência e descarte.

De que forma a Näz contempla este desígnio na sua proposta de valor?

No nosso website, é possível encontrar informações sobre o ciclo de produção das nossas peças, desde a escolha de materiais, até às fábricas envolvidas no processo. 

Estamos a trabalhar de forma a trazer aos nossos clientes e seguidores ainda mais transparência neste sentido e estamos a trabalhar para que, já no próximo ano, consigamos partilhar o impacto ambiental e social das nossas peças, bem como o life-cycle acessment dos nossos produtos. 

 

 

Qual tem sido a receptividade do consumidor? O que valorizam mais na vossa marca?

Desde que a marca surgiu, em 2017, sentimos uma maior adesão dos nossos consumidores, principalmente devido ao facto de as questões relacionadas com as alterações climáticas e o impacto da moda no ambiente começaram a ser mais discutidas. 

Os consumidores valorizam a qualidade das nossas peças, quer ao nível do design como materiais, o facto de ser um produto produzido na Europa, com uma produção transparente, e a nossa comunicação, que é voltada para um público jovem.

 

De que forma envolvem a comunidade na vossa marca? 

A nossa comunicação é muito orientada para o brand love, pelo que o nosso objetivo é criar uma experiência de 360º em torno da nossa marca. 

Trabalhamos sempre com pessoas que nos seguem nas nossas plataformas para as nossas sessões fotográficas, quer de estúdio, quer lifestyle. Isto permite não só trazer pessoas que à partida se identificam com a nossa marca, mas mostrar que trabalhamos com pessoas “reais”, no sentido em que não são modelos. O resultado é um conteúdo muito mais orgânico, e alinhado com o estilo e personalidade dos nossos clientes e seguidores.  

A nossa comunicação é muito pessoal, e próxima do consumidor. Tratamos o consumidor diretamente por Tu, e expomos nas nossas plataformas questões relacionadas com a sustentabilidade dos produtos, feedback dado por clientes. Temos uma secção no Instagram dedicada aos looks dos nossos clientes, e damos rewards aos nossos melhores compradores em cada coleção. Fazemos também giveaways dos nossos produtos nas redes sociais. 

Criamos parcerias com outros negócios e marcas alinhados com os nossos valores, quer para as nossas sessões, quer para integrarem as nossas encomendas online (com ofertas de produtos por exemplo), de forma a dar a conhecer à comunidade outras iniciativas.

 

Consideramos que os Portugueses colocam em primeiro lugar o facto de ser um produto feito em Portugal, com uma excelente qualidade. Ser sustentável é um plus.

 

 

A Näz está presente, além de Portugal, em vários países como a Bélgica, Finlândia e Alemanha.

Notam diferenças no que diz respeito à valorização dos atributos sustentáveis dos vossos produtos de país para país? Alguma curiosidade que queiram partilhar? 

Quando a marca começou, a distribuição da marca por retalhistas era fundamental, pois possibilitou um crescimento sustentável da marca em termos de produção. Os nossos primeiros retalhistas foram na Bélgica, um país onde moda de autor e sustentável em 2017 já era um consumo generalizado, e normal. Atualmente vendemos em 22 retalhistas pela Europa, e temos apenas um em Portugal (para além de nós), o que revela a recetividade para este tipo de produtos em lojas convencionais, de rua, em Portugal, quando comparado com outros países Europeus.

 

 

 

Tendo o comparativo do mercado português com internacionais, sentem que o consumidor português valoriza mais, menos ou igual os produtos sustentáveis? 

Consideramos que os Portugueses colocam em primeiro lugar o facto de ser um produto feito em Portugal, com uma excelente qualidade. Ser sustentável é um plus, neste contexto. E mesmo quando procuram moda sustentável, querem que seja um produto feito em Portugal.

 

Vários estudos afirmam que os consumidores valorizam a sustentabilidade, contudo existe um gap entre o que pensam e o que fazem.

Simpatizam com estes produtos mas não os compram, muitas vezes por serem mais caros do que os convencionais. Sentem este facto na vossa indústria? Como combatem o obstáculo que o preço possa representar?

Realmente, é importante ter em conta o poder de compra de cada cidadão, nos diferentes países, e isso nota-se no average cart dos diferentes tipos de consumidores do nosso website. Também é importante considerar que a sociedade ocidental foi educada a consumir produtos que têm como objetivo ser descartados, e isso é transveral à moda. Se juntarmos estas duas questões, é fácil de perceber porque é existe este gap entre o que pensam e conversão de compra, principalmente nos países do Sul da Europa. 

A nossa estratégia passa mais uma vez pela transparência, e pela educação. Temos uma pergunta na nossa FAQ que é exatamente “Why are Näz pieces so expensive”, temos uma página de transparência onde fazemos o cost breakdown de uma peça, e estamos a trabalhar para que consigamos partilhar o impacto ambiental e social das nossas peças, bem como o life-cycle acessment dos nossos produtos. 

 

 

A sustentabilidade tem também o pilar social. De que forma o incluem na vossa estratégia?

O pilar social existe na marca desde a sua fundação. Inicialmente, muito baseado na nossa produção, localizada na Beira Interior, uma zona muito demarcada pelas desigualdades sociais, quando comparadas a outras regiões. O nosso parceiro de reciclados, inicialmente apenas produzia para estofagem, e nós trouxemos uma nova forma de escoar o produto deles, levando a uma valorização da zona, e da indústria, por consequência. Grande parte dos nossos parceiros são pequenas empresas familiares com um impacto enorme na região onde operam. Em Loriga, onde são confecionadas as nossas malhas de lã, os nossos parceiros da MPL são responsáveis por 38 trabalhadores, ou seja, 38 famílias. Numa região com 1053 habitantes e uma média de agregado familiar de quatro pessoas, esta fábrica impacta, ainda que indiretamente, quase 15% do total da população desta região.

Em 2020, e graças ao aumento de vendas e lucro que temos verificado, sentimos a necessidade de alargar os nossos esforços na esfera social, e desenvolvemos duas parcerias. Doamos mais de 100 peças de roupa de coleções antigas à associação Citador de Sonhos, e estamos com uma campanha onde 10% de todas as vendas dos nossos acessórios revertem para o Just a Change, cuja missão é reabilitar casas de pessoas em situação de pobreza habitacional.

 

Qual consideram ser o papel da moda num futuro mais sustentável? 

A moda vai sempre ter um papel fundamental na nossa vida em sociedade, e no futuro, para além de continuar a ser um integrador social, terá um papel de harmonização entre a esfera social e a esfera ambiental, através de tecnologias que permitem utilizar fontes mais sustentáveis na produção das peças, quer ao nível da matéria prima, com novas formas de utilização de fibras, e até novas fibras, quer ao nível de utilização de água e energia, mas também no fim de vida de cada peça de moda, ao criar tecnologias e serviços que permitem cada vez mais a reciclagem e tratamento das mesmas de forma eficiente e sustentável.

 

 

Sentiram o impacto da pandemia no vosso negócio? Se sim, sentem que pelo aumento das compras online ou por uma maior consciência ambiental dos consumidores? 

A pandemia trouxe inicialmente uma grande incerteza, principalmente ao nível das nossas lojas. Quando o estado de emergência se generalizou na Europa, estávamos prestes a entregar a coleção de Verão. Felizmente, grande parte dos nossos parceiros prosseguiram com as encomendas, o que nos trouxe algum alívio financeiro.

Em relação ao online, foi uma excelente surpresa. Desde o início do ano que estávamos a trabalhar numa nova imagem para o nosso website, e quando a pandemia rebentou, as nossas vendas online começaram a rebentar também, talvez devido a um mix entre o facto de os consumidores terem mais rendimento disponível por estarem em casa, e por uma maior consciência ambiental, mas definitivamente ligado a uma estratégia online que já estava muito bem definida antes da pandemia, e que não desistimos dela mesmo no momento económico difícil que estávamos a viver. 

Deixe-se encantar pela moda sustentável da Näz em: www.naz.pt

Marta Ferreira 

Marketing Specialist na Näz

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