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A diversificação alimentar nas crianças foi o foco da conversa com a Nutricionista Mariana Batista, mas fomos mais longe e falámos de dicas para o confinamento, para a compra de alimentos e até para sermos bem-sucedidos nas resoluções de ano novo relacionadas com a alimentação.

O que a motivou a ser Nutricionista? 

A área da saúde sempre me interessou muito, nomeadamente a prevenção da doença. 

Como disse Hipócrates “que o teu alimento seja o teu medicamento” e esta é sem dúvida a mais valia que o conhecimento na área das Ciências da Nutrição nos traz. O facto de podermos usar este conhecimento tanto a nível profissional como pessoal foi também o que me cativou nesta profissão.

 

Quais são os pedidos mais comuns das pessoas que a procuram? 

Como me dedico essencialmente à saúde materno-infantil, quem me procura são essencialmente mães (ou famílias). Muitas delas com bebés na fase da diversificação alimentar, que é uma fase que traz muitas inseguranças e preocupações aos pais, nomeadamente sobre que alimentos oferecer aos seus bebés e de que forma.

Alguns precisam de ajuda para saber apenas como começar, outros preferem um acompanhamento ao longo de toda a diversificação alimentar, até o bebé estar integrado na alimentação da família.

Surgem também pedidos de ajuda relativos à fase de rejeição de alimentos, a que chamamos ”anorexia fisiológica” e que normalmente acontece durante o segundo ano de vida, estando muito relacionada com uma desaceleração do crescimento e consequente perda de apetite.

Por fim chegam-me muitos pedidos de ideias de refeições saudáveis, receitas simples para o dia-a-dia e ainda sugestões para lanches e pequenos-almoços que é onde as famílias sentem que não variam tanto.

 

diversificação alimentar

 

Identifica uma maior preocupação das pessoas com a sua alimentação? 

Sem dúvida! Cada vez mais as pessoas estão conscientes da importância de uma alimentação saudável, equilibrada e também sustentável. A crescente procura por alimentos de produção local, de origem biológica e também uma maior tendência para optar por mais refeições de origem vegetal reflete isso mesmo.

 

Normalmente, nas resoluções de ano novo a alimentação é um dos objetivos. Como dar os primeiros passos para ter uma alimentação mais saudável, evitando a frustração?

O mais importante é não querer mudar tudo de uma só vez!

Normalmente a motivação inicial é bastante forte, mas rapidamente se desvanece se surge alguma dificuldade ou falha. Nas minhas consultas de reeducação alimentar gosto de enumerar com o paciente uma pequena lista de coisas que identificamos, em conjunto, que poderiam ser melhoradas, e dessa lista vamos trabalhando 1 a 3 coisas de cada vez.

Quando temos objetivos já alcançados, acrescentamos mais da nossa lista inicial. É um processo que pode levar alguns meses mas é sem dúvida bem mais consistente do que mudanças rápidas que serão pouco duradouras.

O mais importante é criar hábitos saudáveis que possam integrar-se facilmente na nossa rotina e não sejam vistos como um esforço extra por parte de quem os pratica.

 

O termo poderá ser arriscado, mas identificam-se atualmente “tendências” na alimentação saudável? 

A alimentação sempre esteve rodeada de tendências, modas e muitos mitos.

No entanto, gosto de acreditar e de olhar para as boas mudanças e o que se tem observado é realmente uma maior tendência para uma alimentação mais simples, de base vegetal e preparada em casa.

As marmitas estão de volta, a preocupação com a origem dos alimentos e com o que está no rótulo também, e isso tem feito diferença na forma como as pessoas se alimentam e nas suas escolhas na hora de comprar.

Claro que ainda há um grande caminho a percorrer, ainda há uma enorme prevalência de obesidade infantil que nos preocupa muito e por isso, muito trabalho a fazer. O caminho é longo, mas acredito que estamos na direção certa.

 

Com a entrada de um novo confinamento, que dicas pode dar para mantermos uma alimentação regrada e, acima de tudo, saudável? 

Passar muitas horas em casa pode levar a mais idas à dispensa e ao frigorífico.

Assim, pensarmos naquilo que vamos comprar e trazer para casa, planear bem as refeições da semana para comprar apenas aquilo que precisamos é essencial.

Ter sempre alimentos frescos (frutas e vegetais) disponíveis e evitar ter na dispensa alimentos menos interessantes que por vezes se tornam viciantes pela facilidade com que lhes acedemos e rapidez com que os preparamos e consumimos. 

Para quem está em teletrabalho é também muito importante organizar e planear as refeições com antecedência para evitar a falta de tempo e o recorrer a refeições processadas.

Não nos podemos esquecer do exercício físico, já que em casa, facilmente temos hábitos mais sedentários.

 

Cada caso é um caso, mas que alimentos considera fundamentais numa dieta equilibrada e em que momentos do dia?

De facto devemos olhar para cada pessoa de forma individualizada e a alimentação pode ser saudável e equilibrada em variadas formas. Assim torna-se injusto enumerar alimentos específicos já que nem todos se adequam a todas as pessoas e respetivas condições de saúde.

No entanto posso dizer que uma alimentação que tenha por base alimentos de origem vegetal, alimentos simples, pouco ou nada processados, alimentos da época e de produção local, será sempre uma alimentação mais saudável.

Hortícolas, frutas, leguminosas, oleoginosas devem fazer parte do nosso dia-a-dia e devem ser distribuídos pelas diferentes refeições ao longo do dia.

 

alimentação

 

Para comprarmos produtos verdadeiramente saudáveis, o que devemos analisar e ponderar na escolha? 

A origem e frescura dos alimentos – optar por alimentos de produção local, alimentos da época, pouco ou nada embalados.

Observar o rótulo e verificar a lista de ingredientes – se não é demasiado extensa e se não tem ingredientes desconhecidos ou difíceis de ler.

Verificar a forma como esses alimentos foram produzidos – se foi de forma segura para nós e respeitando o meio ambiente. São tudo pontos que devemos ter em conta na hora de adquirir os alimentos que vamos consumir.

Pensar sempre que o melhor é descascar mais e desembalar menos. E se conseguirmos plantar alguns deles melhor ainda.

 

Trabalhando a Mariana essencialmente na Saúde Materno-Infantil, que importância assume a fase da Diversificação Alimentar na saúde da criança no futuro?

A Diversificação Alimentar, inicia-se com a introdução de qualquer alimento que não o leite habitual do bebé e termina quando a criança se integra na alimentação da família durante o segundo ano de vida.

No entanto, não se resume apenas à oferta de alimentos sólidos:

  • É uma fase onde o bebé contacta com uma grande variedade de sabores e texturas;
  • Estimula as gengivas para o futuro nascimento dos dentes;
  • Activa os músculos da mastigação e da fala;
  • Desenvolve a motricidade grossa e fina sempre que tenta alimentar-se sozinho e aprende por imitação enquanto observa os pais à mesa. 

É ainda uma fase onde normalmente os bebés estão muito recetivos a conhecer novos alimentos, gostam de provar, têm muita curiosidade.

Isto deixa de acontecer uns meses mais tarde, por volta dos 18-24 meses onde muitos dos bebés entram numa fase de neofobia alimentar muito relacionada com a desaceleração do crescimento própria desta idade e que se pode estender até aos 6-8 anos.

Nesta fase de grandes oscilações do apetite e maior tendência à rejeição de alimentos, as crianças tendem a aceitar melhor aqueles alimentos que já conhecem e que estão habituadas a comer. Aqui reflete-se a importância da fase da Diversificação Alimentar onde devemos aproveitar para oferecer a maior variedade de alimentos com diferentes sabores e texturas, criando assim uma boa base para termos crianças habituadas a comer bem, a comer alimentos saudáveis, como os diferentes vegetais e frutos, mesmo que os comam em menor quantidade em alturas de menor apetite.

Lembro, no entanto, que embora a maioria dos alimentos deva ser oferecida até aos 12 meses pelos motivos acima referidos, sempre que oferecermos um alimento novo à criança, independentemente da sua idade, estaremos a fazer a introdução alimentar desse novo alimento. Estas crianças que contactarem com a maior variedade possível de alimentos mais cedo, serão também, no futuro, adolescentes capazes de fazer escolhas mais saudáveis.

 

Se tivermos vontade de fazer mais questões à Nutricionista Mariana Batista, onde a podemos encontrar? 

Podem encontrar-me na minha página do Instagram Chico-Papão @chicopapao, que está também no Facebook, ou através do email geral@chico-papao.pt.

mariana batista - nutricionista de saúde materno-infantil

Mariana Batista 

Tem 33 anos, é mãe de dois meninos e essa é, sem dúvida, a sua grande e principal missão.

É também nutricionista, licenciada pela FCNAUP (Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto). A saúde materno-infantil foi desde sempre a área que mais a cativou e à qual se dedicou com mais carinho desde o início da sua atividade profissional.

Vive fora do país há quase 8 anos e para poder continuar a apoiar as famílias no que respeita à sua alimentação e à dos seus bebés, aliando a sua paixão pela maternidade, criou a página do Instagram Chico-Papão @chicopapao onde partilha várias dicas sobre a diversificação alimentar (fase de grandes dúvidas e ansiedade para os pais) e alimentação saudável para toda a família.

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Cada um de nós procura ser o melhor de si mesmo, incluindo no que consome. No entanto, a forma como sempre fomos impactados e estimulados a consumir, nas últimas décadas, e mesmo o modo como a nossa qualidade de vida imediata depende da gestão de custos e valorização do fator preço leva a que tenhamos dificuldade de incorporar um consumo sustentável na nossa vida. E o desconhecimento sobre o que é ser um consumidor sustentável também.

Assim, é legítimo questionarmo-nos: como posso começar a ser um consumidor sustentável?

Neste artigo vamos apresentar o que é um consumidor sustentável e 3 dicas para que inicie este caminhofugindo às sugestões relacionadas com a poupança de água e eletricidade em casa, que já todos vimos e são importantes, mas não alinham com o conteúdo do Green Purpose.

 

 

Ser Um Consumidor Sustentável

O primeiro facto para o qual deve estar alerta, no que se refere a um consumo sustentável, que é o oposto de um consumo desenfreado, é que 20% da população mundial é responsável por 80% do consumo global. Ou seja, um consumidor sustentável pondera não apenas o que consome, mas se consome. A um nível um pouco mais adiantado, extremado se assim o pretendermos definir, para a fase de maturidade em que estamos, pode ver o documentário “Minimalism: a documentary about the important things”, da Netflix. Se retirar uma ideia para aplicar, já estará a dar passos para ser um consumidor sustentável.

Uma das áreas onde é mais imperiosa esta ponderação (“será que necessito mesmo?”) é na moda. O fast fashion – pode perceber melhor no que consiste na entrevista a Maria Beatriz Costa que para conseguir responder a uma necessidade de consumo cada vez mais acelerada e a baixo custo, tem impactos ambientais e sociais elevadíssimos. O que, felizmente, já tem acontecido é um aumento da preocupação dos consumidores sobre as questões ambientais. Levando inclusive a que grandes marcas de fast fashion criassem linhas sustentáveis,  que, atenção, não é o mesmo que serem sustentáveis.

Porque a sustentabilidade tem 3 pilares: ambiental, social e económico, como a Inês Ribeiro da BoG – Environmental Consulting nos explica em entrevista.

Em paralelo à resposta das marcas de fast fashion, surgem cada vez mais marcas de slow fashion, que respeitam todos os princípios da sustentabilidade e são uma excelente opção para compra de roupa com maior durabilidade.

 

consumidor sustentável - slow fashion

 

Outro ponto é perceber o que implica um consumo sustentável, para que se possa tornar um consumidor sustentável. E é comprar:

Além disto, é importante compreender um conceito chamado value for money, que é o custo-benefício de uma compra. Normalmente, os produtos sustentáveis têm um custo superior, mas que se deve a alguns fatores que devem ser ponderados no momento da tomada de decisão. Nomeadamente:

  • Não tem economias de escala, que são obtidas com grandes volumes de produção. No fundo, permitindo aumentar as vendas, mas sem mexer nos custos fixos – como empregados, fornecedores de matérias-primas, etc, que se tornam reféns – e assim obterem maior rentabilidade de cada venda, mesmo com preços baixos.
  • As matérias-primas são mais escassas e sujeitas a tratamento, que têm um custo, mas asseguram uma maior sustentabilidade do planeta;
  • Durabilidade, que é obtida em consequência das melhores matérias-primas utilizadas, bem como de processos muito mais manuais e especializados do que as economias de escala;
  • Apoio à economia local e ambiente, por serem produtos na sua generalidade produzidos localmente, sem recurso a países de terceiro mundo onde os valores pagos pela mão de obra são muito baixos e que levam a longas e variadas viagens pelo mundo dos produtos, até chegarem a si com uma forte pegada ambiental;

Em forma de conclusão, o consumidor sustentável tem presente, em todos os seus momentos de compra, estas questões:

  • Preciso mesmo? Não poderei reutilizar algo que tenha?
  • Quais as matérias-primas utilizadas neste produto?
  • Quem fabricou? Foi remunerado justamente?
  • Quando deixar de usar, o que posso fazer com este produto?
  • O custo-benefício deste produto é ajustado?

 

 

Dicas Para Dar os Primeiros Passos Como Consumidor Sustentável

 

consumidor sustentável - partilha

#1 – Não seja fundamentalista.

Se pretender, imediatamente, ter um consumo absolutamente imaculado, encontrará frustrações e levará a que se culpe e perca a motivação. Lembre-se que existiu um consumo irresponsável e generalizado durante muitos anos, tendo sido o que nos trouxe ao ponto atual, pelo que qualquer mudança que faça entrará em choque com muitas das suas rotinas. Não será fácil. Tente inspirar-se nas dicas para mudar hábitos de consumo e vida da psicóloga Ana Rita Freitas.

#2 – Troque o fast pelo slow

Na comida o consumo desenfreado de carne tem levado a prejuízos ambientais muito superiores a andarmos de carro, como podemos ver no documentário Cowspiracy da Netflix ou na Grande Reportagem da SIC, do dia 02/01/2021, em que se apresentam os prejuízos do tipo de alimentação que temos, bem como soluções inovadoras para reduzir o impacto ambiental da produção de carne e pescas. Mas para começar com passos mais pequenos, pode seguir as dicas da Sara Oliveira, autora do livro Saudável e Sem Desperdício ou lendo a entrevista do Professor Duarte Torres sobre a Snood Food, os snacks com leguminosas.

Ainda na alimentação, olhar com mais atenção para os rótulos é fundamental para compreender o tipo de produto que está a comprar e se ele é saudável, para si e para o ambiente. Aconselhamos vivamente a que leia a entrevista à Milene Rodrigues, com o título “Sabe Ler Rótulos?”. Ficará muito mais alerta para a importância dos rótulos no nosso consumo.

Na moda, antes de comprar, pondere mesmo se necessita e, necessitando, adote marcas de slow fashion ao invés de fast fashion. São mais caras, em muitos casos, mas um dos pressupostos do slow fashion é garantir uma maior durabilidade do produto. Sabe o que é slow fashion? Está tudo explicado na entrevista à Inês Vaz.

#3 – Partilhe

É verdade, se optar por partilhar mais coisas, desde boleias a participar em trocas de roupa, estará a dar um enorme passo para ser um consumidor mais sustentável. O exagero é que nos trouxe ao ponto de rutura em que estamos. Reduzi-lo é dar passos para melhorar.

 

 

Conclusão  

Os primeiros passos são desafiantes, mas possíveis. Não falamos, num primeiro momento, de grandes mudanças de estilo de vida, mas sim de pequenos passos.

  • Pondere se precisa do que vai comprar
  • Analise as origens do produto e o seu rótulo
  • Opte por qualidade e durabilidade em vez de quantidade e preços baixos

Com estes 3 fatores, já se começou a tornar um consumidor sustentável.

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