Dia Internacional da Mulher: (Des)Igualdade de Género – Elisabete Ferreira

por Marta Belchior

O Dia Internacional da Mulher celebra as conquistas das mulheres provenientes dos mais diversos contextos étnicos, culturais, socioeconómicos e políticos. É um dia em que todos devemos refletir acerca do progresso a nível de direitos humanos, e honrar a coragem e determinação das mulheres que ajudaram e continuam a ajudar a redefinir a história, local e globalmente.

Apesar de todos os avanços relativos aos direitos das mulheres, nenhum país atingiu a igualdade plena entre homens e mulheres.

O Green Purpose pretende assinalar esta data e desafiou algumas mulheres com cargos de liderança a responder a 5 perguntas sobre a desigualdade de género no meio laboral. São testemunhos que revelam a realidade que ainda se vive e refletem que, no que diz respeito a Portugal, na prática, ainda estamos longe de alcançar a igualdade.

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Elisabete Ferreira,
Executive Board Member & Digital Transformation at Decskill | Founder at New Normal

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Já sentiu algum tipo diferença no tratamento dos outros para consigo no ambiente de trabalho por ser mulher?

Num contexto tecnológico e criativo onde a liderança é maioritariamente masculina, o tema da desigualdade salarial surge na remuneração entre pares.
A entrega era a mesma e a disponibilidade para agarrar oportunidades também, o espaço para crescer existiu e a desigualdade também tanto em empresas nacionais como multinacionais.

Em 2003 fui mãe e apesar de ter cumprido objetivos não recebi o prémio de desempenho porque excedi o limite de dias de ausência por ano. Ou seja, o número de dias da licença de maternidade era contabilizado de igual forma como uma baixa médica ou faltas. Sendo mulher, confesso que considerei o critério injusto.

 

Acha que é mais fácil liderar uma equipa sendo homem ou mulher?

Os desafios de liderança são os mesmos, os estilos é que diferem entre os géneros. A mulher tende naturalmente para uma liderança mais próxima, participativa, estimulante e empática. Um estilo de liderança que trás bons resultados, mas que exige um maior esforço emocional e auto-controle.

 

Sente que teve de se esforçar mais para atingir o cargo que ocupa por ser mulher?

Ao longo da minha vida profissional, todas as oportunidades e desafios que abracei foram possíveis com esforços na vida pessoal. Num contexto familiar em que o papel da mulher foi sempre construído com o ideal de dever maternal, os primeiros esforços foram em combater conceitos sociais e culturais no seio familiar e lutar contra sentimentos de culpa.

 

Algum conselho que gostaria de deixar para as jovens mulheres que entram no mercado de trabalho?

A sociedade cria uma percepção de liderança com características maioritariamente masculinas. A força, a ambição, a autoridade, a coragem, etc. Precisamos mudar este paradigma, porque na realidade os atributos que são valorizados numa boa liderança são maioritariamente e naturalmente femininos: a sensibilidade, a intuição, a capacidade de trabalhar em equipa e tomar decisões rápidas em contextos adversos. Não tenham receio de assumir responsabilidades e papeis de liderança, temos atributos nativos.

 

Em que pontos considera que Portugal ainda tem de evoluir para que sejamos um país com uma sociedade com total igualdade de género no mundo laboral?

Social e culturalmente ainda temos um caminho a percorrer. Não adianta existirem políticas de cotas e igualdade de oportunidades, quando as mulheres crescem com o dever da casa, da maternidade e de cuidar da família. Há um trabalho a fazer em casa, para que os nossos filhos cresçam sem preconceitos e possam olhar para o futuro sem modelos de profissões ou limites de ambição.

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