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Nem sempre estamos alerta para os cuidados que devemos ter com as aves e para a diversidade que existe em Portugal. Por esse motivo existe a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), que tem realizado um trabalho extraordinário na proteção das aves e dos seus habitats, bem como no reconhecimento de Portugal internacionalmente, sendo o parceiro português da BirdLife International, uma rede internacional de organizações de ambiente que atua em mais de 100 países.

Para melhor compreendermos o enquadramento das aves em Portugal, o impacto do birdwatching, inclusive no turismo, e que ações a SPEA leva a cabo para a proteção das aves e promoção da sustentabilidade, contámos com a gentileza da Joana Domingues, responsável de comunicação e marketing, que prontamente aceitou o desafio da nossa entrevista. Leia tudo abaixo.

 

Quais as principais espécies de aves que em Portugal estão ameaçadas?

Os tempos são críticos para a Natureza, por isso esta pergunta não tem uma resposta muito simples. Se olharmos para os grupos de aves, sabemos que as aves marinhas são o grupo de aves mais ameaçado. A captura acidental, a pesca exagerada, a poluição e as alterações climáticas, são das principais razões para esta situação. Mas, paralelamente,  também temos presenciado nos últimos anos uma diminuição das populações das aves que habitam os campos agrícolas, devido ao uso de pesticidas e à agricultura intensiva. Um bom exemplo é o sisão, que em apenas 10 anos, viu a sua população reduzida para metade, de acordo com o último censo nacional da espécie.

 

Os recursos financeiros são, de facto, essenciais para cumprirmos o nosso papel na sociedade. São usados em ações de conservação muito variadas, desde a remoção de plantas invasoras e o restauro de habitats até ao trabalho com pescadores

 

Que iniciativas desenvolve a SPEA para as proteger?

Nós trabalhamos para proteger as aves e os locais onde elas vivem. Tendo em vista este fim, trabalhamos em várias “frentes”, um pouco por todo o país e também lá fora, em São Tomé e em Cabo Verde, por exemplo. Neste momento temos o Life Ilhas Barreira a decorrer na Ria Formosa, temos o Life Rupis a terminar no Douro Internacional, e outros projetos relacionados com pescas, salinas e iluminação pública, por exemplo.  Paralelamente, trabalhamos temas como o crime ambiental, lutamos contra o novo aeroporto de Lisboa e promovemos um turismo mais amigo do ambiente. Somos também muito solicitados para esclarecer dúvidas que as pessoas têm relativamente a assuntos como remoções de ninhos e aves feridas. Tentamos sempre dar resposta a estes pedidos, nem que seja encaminhar para as entidades competentes.

 

Qual a evolução do birdwatching em Portugal?

Este hobby tem vindo a crescer cada vez mais no nosso país. Algo que há uns 20 anos era visto como uma atividade apenas de biólogos, agora já é encarada como uma atividade de lazer. Para dar a conhecer os encantos do  birdwatching, a SPEA organiza regularmente atividades em locais estratégicos para a observação, que permite mostrar as aves que por ali andam e muitas vezes passam despercebidas  pelas pessoas que por ali passam. O Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza, que já vai na sua 11ª edição, também contribuiu para uma maior notoriedade do birdwatching no nosso país. As pessoas já olham para a observação de aves como algo relaxante, que pode ser apenas um bom pretexto para passar algum tempo na natureza.

 

De onde vêm maioritariamente os turistas que valorizam esta oferta?

Portugal é um país privilegiado para o birdwatching. Temos bom tempo, uma gastronomia fabulosa, outros produtos turísticos apelativos e sobretudo somos um país pequeno. Isto permite que num curto espaço de tempo e a pouca distância, um turista possa no mesmo dia ver diversas espécies de aves, em habitats muito diferentes. Estes fatores juntos tornam Portugal num país muito apetecível sobretudo para os turistas ingleses e nórdicos.

 

Foto: José Luís Barros

 

Ao longo do ano em Portugal, que circuitos de birdwatching, são a seu ver imperdíveis e que aconselharia a um principiante?

O Algarve tem vários locais excelentes para birdwatching durante todo o ano (embora seja melhor evitar o verão) e ao longo da costa pode-se ir parando em sítios como a Quinta do Lago, a Lagoa dos Salgados, o Estuário de Alvor, chegando finalmente a Sagres. Castro Verde, no Alentejo, é um local de excelência na primavera onde se podem ver bandos de abetardas e várias aves de rapina grandes e pequenas. Os estuários do Tejo e Sado, perto de Lisboa, são locais imperdíveis no inverno onde se podem observar grandes bandos de aves como íbis-preta e flamingos.

 

Que conselhos daria a quem queira enveredar por este hobby? Como começar? Que grupos e comunidades existem em Portugal?

Para começar não é preciso muito. O fundamental é ter uns binóculos, que devem ser escolhidos consoante o objetivo da pessoa, e um guia de aves simples. Ambos os materiais podem ser encontrados na nossa loja, onde estamos ao dispor para um aconselhamento personalizado. Uma pessoa que se está a iniciar, pode começar por ir a atividades organizadas por nós, visitar o Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (Sesimbra) ou outros semelhantes e procurar eventos dedicados ao birdwatching, como o Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza, em Sagres (outubro). Também organizamos cursos de iniciação à observação de aves, que podem proporcionar uma boa base para começar. O ideal é começar com algum apoio para receber orientações e também partilhar o entusiasmo.

 

Gostaríamos apenas de salientar que cada vez é mais importante os cidadãos apoiarem as ONGs de ambiente. Sem eles, “nós” não existimos.

 

Cerca de 70% dos rendimentos da SPEA são investidos em conservação da natureza e educação ambiental. Quais as principais ações que desenvolvem?

Os recursos financeiros são, de facto, essenciais para cumprirmos o nosso papel na sociedade. São usados em ações de conservação muito variadas, desde a remoção de plantas invasoras e o restauro de habitats até ao trabalho com pescadores ou à construção de ninhos artificiais para aves marinhas. Fazemos também  campanhas como a recolha de assinaturas contra a venda de armadilhas ou a mobilização por políticas europeias mais sustentáveis. Organizamos também ações que envolvem escolas e cidadãos, com o intuito de sensibilizar e educar para um futuro melhor.

 

Existe algum tema relacionado com a sustentabilidade e a vossa atuação que queira destacar?

Gostaríamos apenas de salientar que cada vez é mais importante os cidadãos apoiarem as ONGs de ambiente. Sem eles, “nós” não existimos. Portanto apoiar como sócio, é não só uma ajuda monetária, mas também significa dar mais força à luta pelo ambiente e pelo futuro do país e do mundo. Às ONGs cabe muitas vezes o papel ingrato de ir contra o sistema, lutar contra atentados ambientais e para isso é preciso ter força e apoio. É muito importante apoiarem o nosso trabalho, que prometemos desempenhar da melhor forma.

Descubra tudo sobre as atividades, oferta e casos de sucesso da Sociedade Portuguesa Para o Estudos das Aves em: www.spea.pt

 

Joana Domingues

Técnica Principal de Comunicação e Marketing na Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves há mais de 10 anos.

É licenciada em Comunicação Empresarial, com uma pós-graduação em Planeamento e Desenvolvimento de Produtos Turísticos e a sua paixão pelo turismo de natureza foi uma das motivações que a fez querer trabalhar nesta associação.

 

 

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