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A capacitação para o empreendedorismo e o apoio à criação de pequenos negócios são as novas prioridades da TESE na Guiné-Bissau, em São Tomé e Príncipe e em Cabo Verde. Não pode perder esta entrevista, com Luís Matos Martins, Presidente da TESE

Quais são as principais áreas da atuação da TESE?

A TESE é uma organização não governamental (ONG) para o desenvolvimento que se dedica à promoção do emprego, água, saneamento e energia. Utiliza a inovação social como instrumento da sua atuação em Portugal e em países em desenvolvimento, nomeadamente os que fazem parte da comunidade dos países de língua portuguesa (CPLP). A TESE investiga, cria, implementa e sensibiliza, construindo um ciclo de soluções socialmente inovadoras e sustentáveis como resposta a necessidades tradicionais e emergentes.

Desde o dia 30 de julho – data em que fui eleito presidente – a TESE colocou São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Cabo Verde como destinos prioritários dos seus projetos. A capacitação da população ativa destes países para o empreendedorismo e para o lançamento dos seus próprios negócios – identificando pessoas com potencial para organizarem pequenas empresas a partir da prestação de serviços para os quais vão ser preparados – passou a ser a missão principal da TESE nestes territórios. Para isso, a TESE está a dinamizar programas de formação em mentoria de micronegócios e irá lançar, de forma gradual, programas de formação básica em ciências empresariais (noções de contabilidade, processos administrativos, gestão de stocks, etc.).

Para além de constituir as equipas que irão apoiar os negócios nos países em causa, a TESE irá também dinamizar um programa de formação em mentoria de micronegócios para capacitar técnicos locais no apoio aos projetos que forem lançados. Os negócios apoiados nos seus programas de formação em empreendedorismo poderão ser em diversos setores, sendo que a TESE tem particulares competências em áreas em que já trabalha, como o fornecimento água, de energia, o saneamento ou a recolha e tratamento de lixo.

Se antes o foco estava apenas em fazer um sistema de painéis solares numa escola ou um sistema de bombas de água numa tabanca na Guiné-Bissau, neste momento a TESE envolve-se também na complementaridade dos projetos que já desenvolvia: capacita os agentes locais para montarem os seus próprios negócios e, assim, conseguirem eles próprios fazer a instalação, manutenção e reparação, quer das bombas de água, quer dos painéis fotovoltaicos.

 

A TESE é a promotora de projetos de instalação de centrais solares na Guiné, tendo inaugurado em 2016 uma grande unidade que abastece mais de 600 famílias na cidade de Bambadinca

 

Quais são os principais desafios que a pandemia vos colocou?

Devido à pandemia da Covid-19, os projetos comunitários desenhados para Portugal tiveram que ser realizados on-line, o que criou algum distanciamento e dificultou a angariação de novos participantes. Ainda assim, acredito que este processo foi superado com sucesso.

Os projetos desenvolvidos fora de Portugal estiveram pouco tempo parados, uma vez que os países a que se destinavam – São Tomé e Guiné – tinham um número reduzido de casos de infetados. Conseguimos rapidamente voltar à atividade, adotando sempre as medidas de segurança recomendadas pela Direção Geral de Saúde.

 

 

Ao longo do seu percurso na TESE quais os projetos que tiveram maior significado para si?

O projeto que estamos atualmente a desenvolver na Guiné-Bissau é muito interessante. Para além de instalarmos painéis solares e bombas de água em algumas tabancas, vamos também dar formação a 30 potenciais técnicos de instalação, manutenção e reparação de bombas de água e de painéis fotovoltaicos.

A TESE é a promotora de projetos de instalação de centrais solares na Guiné, tendo inaugurado em 2016 uma grande unidade que abastece mais de 600 famílias na cidade de Bambadinca. É também responsável pela instalação de pequenos sistemas fotovoltaicos autónomos para fornecer energia elétrica a centros comunitários. Tem igualmente projetos de saneamento básico em curso, os quais contam com programas de apoio à construção de latrinas para unidades familiares, de latrinas comunitárias e de ações de sensibilização à população. Na região do Oio e em Bafatá desenvolve projetos de abastecimento de água, para uso doméstico e comunitário, associando os seus projetos de energia elétrica à construção de sistemas de irrigação de campos de arroz.

Através do projeto que está em curso, a TESE montará em cada um dos seus projetos unidades de formação que irão preparar as mulheres e os homens guineenses do ponto de vista técnico para a manutenção dos sistemas ao longo dos anos e para a reparação de inevitáveis avarias. Também irá capacitá-los para desenvolverem essas mesmas atividades a partir de pequenas empresas, pessoais ou familiares, que prestem esses serviços às entidades que gerem os projetos, às comunidades ou ao próprio Estado guineense.

Através da capacitação da população local para o empreendedorismo, a TESE irá contribuir para o desenvolvimento da Guiné-Bissau, para o aumento das suas produções e para a redução da sua dependência do exterior.

 

TESE - ONG Guiné Bissau

 

Alguém que esteja interessado em desenvolver projetos e carreira nesta área, com que apoios por parte da TESE pode encontrar? 

De acordo com as linhas de financiamento, com os apoios e com as necessidades dos Governos, a TESE apresenta propostas de inovação institucional, inovação de processos, inovação social e inovação tecnológica com vista a implementá-las nos países onde atua.

Atualmente temos escritórios em Portugal, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e em Moçambique. Prevemos que, a curto prazo, a TESE tenha também delegações em Angola, Cabo Verde e Timor. Esta previsão passa também pela transferência de competências inter-países, adaptando-as sempre a cada contexto e a cada país.

Por exemplo: queremos transferir as competências que temos no âmbito do emprego e do empreendedorismo em Portugal para os outros países – algo que já está a acontecer na Guiné-Bissau e em São Tomé e Príncipe – e transferir para Portugal o conhecimento que a TESE tem em várias áreas, nomeadamente na da água.

Assim, a TESE tem dois tipos de “cliente”:

  1. As instituições que querem desenvolver os projetos de intervenção
  2. Os beneficiários que acabam por usufruir destes projetos, que podem ser desde tabancas a jovens de um determinado bairro ou de uma comunidade em Portugal que querem desenvolver um projeto de vida ou querem criar um pequeno negócio.

Estes dois tipos de público-alvo podem vir ter connosco para trabalharmos em conjunto.

 

Através destes projetos de capacitação da população local para o empreendedorismo, iremos contribuir para o desenvolvimento destes países, para o aumento das suas produções e para a redução da sua dependência do exterior.

 

No que diz respeito aos projetos em África, quais os próximos passos? 

Vamos identificar oportunidades de financiamento junto da União Europeia e do Instituto Camões para a África Ocidental, dirigindo-as para a Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde – onde a TESE já está instalada ou tem projetos – para capacitar pessoas locais para a iniciativa empresarial e fomentar o seu empreendedorismo e a criação do seu próprio negócio.

A TESE irá lançar de forma gradual programas de formação básica em ciências empresariais (noções de contabilidade, processos administrativos, gestão de stocks, etc.), identificando pessoas com potencial para empreenderem negócios a partir da prestação de serviços para os quais vão ser preparados. Os formadores da TESE terão depois programas de mentoria para acompanhar os formandos que lancem pequenas empresas sozinhos ou com sócios, ajudando-os a identificarem oportunidades de mercado. Haverá também sessões de marketing e de angariação de clientes, bem como apoio para elaborar candidaturas para financiamento com base em microcrédito.

Através destes projetos de capacitação da população local para o empreendedorismo – que já estão a ser implementados na Guiné e em São Tomé – iremos contribuir para o desenvolvimento destes países, para o aumento das suas produções e para a redução da sua dependência do exterior.

 

ONG TESE - Guiné Bissau

 

Para lá da TESE, existem os Territórios Criativos. Em que consiste este projeto?

Os Territórios Criativos, para além de um projeto, são uma empresa de consultoria, formação, apoio à gestão e inovação, focada nas áreas do empreendedorismo, estratégia e gestão. Estamos presentes em 116 territórios, distribuídos por seis países.

Em Portugal atuamos de norte a sul do país – incluindo Madeira e Açores – através do desenho, montagem e desenvolvimento de incubadoras e de centros de negócios, programas de formação para empreendedores, empresários e técnicos de municípios. Organizamos programas de curta duração, como “bootcamps”, e apoiamos organizações sociais, autarcas e autarquias a definirem a sua visão estratégica, privilegiando sempre territórios do interior de baixa e média densidade.

Atualmente, os Territórios Criativos contam com mais de 8.000 empreendedores envolvidos nas suas iniciativas e projetos e com 66 “bootcamps” realizados. Ao nível internacional, para além de alguma experiência no mercado angolano, temos projetos na Roménia e em Cabo Verde: são locais onde também prestamos apoio ao nível da consultoria, elaboração de planos estratégicos e planos de negócio.

Neste momento estamos a dinamizar o “Green UP”, um programa de ideação na área do Turismo. Procuram-se ideias inovadoras, com soluções interessantes para apresentar, quer a empresas do setor, quer ao consumidor final.

Essas soluções que irão ser propostas às empresas do setor turístico, deverão inspirar-se nos princípios da economia circular e cumprir as metas de sustentabilidade definidas pelo Turismo de Portugal. A valorização dos produtos e dos serviços endógenos, a sustentabilidade dos territórios e a promoção da economia circular são os pilares deste programa. O aumento de procura turística no interior só será bem aproveitado por novos empreendedores se os investimentos potenciarem os produtos e os serviços locais, ou seja: se qualificarem a oferta turística adaptando-a à identidade de cada território. Só com essas lógicas se conseguirá qualificar uma oferta turística que seja competitiva e sustentável nos tempos em que vivemos.

 

A TESE foi eleita para integrar a direção da plataforma portuguesa das Organizações Não-Governamentais para o Desenvolvimento – ONGD. Enquanto representante da TESE nesta plataforma, fale-nos um pouco sobre o que espera deste novo desafio.

A TESE tem vindo a participar na plataforma portuguesa das ONGD através de seminários, iniciativas e identificação de parceiros para candidaturas. Neste âmbito, fomos desafiados e entendemos que estávamos disponíveis para assumirmos um lugar na direção desta plataforma. Iremos trabalhar em diversos projetos, fazer advocacy e apoiar todas as ONGD portuguesas.

Destaco o evento que irá decorrer – em formato online, disponível para todos aqueles que queiram assistir – no próximo dia 12 de janeiro: “Por uma Europa aberta, justa e sustentável no mundo”. Irão ser apresentadas e debatidas as prioridades para a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, com especial foco nos temas priorizados pela sociedade civil resultantes de um processo de consulta realizado no quadro do projeto.

 

Com tanta ‘obra feita’, o que ainda lhe falta concretizar?

Ainda falta concretizar muita coisa. À semelhança do que acontece com o conhecimento – em que quando mais sabemos, mais percebemos que não sabemos nada e mais vontade temos de saber – também este fenómeno acontece com a concretização de tarefas: quanto mais fazemos, mais percebemos o que ainda há por fazer.

Portanto, falta trabalhar muito estas questões do desenvolvimento do empreendedorismo e da criação de negócios próprios, quer nos territórios portugueses de média e baixa densidade, quer nos PALOP-TL. Só assim haverá desenvolvimento da economia, aumento de produção e redução da dependência do exterior dos países em causa.

Luís Matos Martins 

Presidente da TESE e CEO dos Territórios Criativos.

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