Projeto iRec – Luís Capão

por Marta Belchior

Ao conversar com Luís Capão, Presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente, conseguimos perceber a importância do Projeto iRec ao implementar Sistema de Depósito com Retorno para promover uma atitude mais proativa no que diz respeito à reciclagem por parte dos consumidores e qual o impacto que este projeto teve no conselho de Cascais.

No que é que consiste o projeto-piloto iREC – Inovar a Reciclagem, e como surgiu esta iniciativa? 

É o primeiro Sistema de Depósito com Retorno (SDR) a entrar em funcionamento em Portugal. É um sistema que introduz uma compensação pelo comportamento correto do munícipe: a devolução de embalagens de bebidas numa máquina junto do retalhista. Hoje a recompensa é um ponto ou dois por garrafa recebido na aplicação Citypoints, mas quando a legislação entrar em vigor, o que teoricamente acontecerá em 2022, torna-se obrigatória a devolução ao consumidor do valor da embalagem. Em Cascais já temos 15 máquinas de SDR em funcionamento que nos permitem enviar para reciclagem material de ótima qualidade.

 

Qual o impacto deste projeto na pegada ecológica de Cascais? 

Nestes 10 meses de projeto recolhemos quase 700 mil embalagens de bebidas. São 49 toneladas de resíduos que não estão contaminados e que vão otimizar pela sua qualidade os processos de reciclagem. Este material poderá ser transformado, por exemplo, em mais de 150 mil novas garrafas de bebidas de vidro e 50 mil t-shirts feitas a partir de PET. É matéria-prima que não se vai buscar à natureza. Evitando a deposição em aterro, evitamos também a produção de CO2.

Como incentivam a comunidade a participar nesta iniciativa e qual a adesão que tem tido?

Tudo foi pensado para alcançar bons níveis de participação. A localização das máquinas junto aos supermercados a que as pessoas vão, a simplicidade de utilização das máquinas, o próprio design das máquinas e a clareza das campanhas de comunicação são essenciais para que as pessoas adiram. As ações de esclarecimento por parte de voluntárias junto das máquinas para explicar a importância deste novo sistema mostram-se muito importantes para o sucesso. A gamificação foi introduzida neste projeto para ser uma forma prática de receber os incentivos. Dar pontos que se podem trocar por experiências ou produtos com valor, como cabazes de alimentos biológicos, sapatos feitos a partir de material reciclado ou passeios a cavalo no Pisão, é um incentivo extra à adesão.

 

A pandemia fez-nos refletir sobre os nossos estilos de vida, hábitos de consumo, alimentação, etc. Acredita que essa questão incentivou/facilitou a comunidade a ser parte ativa deste projeto? 

É possível que se tenha tornado mais evidente essa reflexão. A verdade é que em Cascais essa mudança de mentalidade já foi feita há mais tempo. Costumamos dizer que este executivo tem por missão fazer de Cascais o melhor município para viver, o presidente Carlos Carreiras refere-se várias vezes à Felicidade Interna Bruta como uma métrica a ser aplicada, e esta ideia reflete-se em políticas públicas amigas do ambiente que são amigas das pessoas: estamos há vários anos a construir um ecossistema agrícola biológico que tem hortas de produção e hortas para autoconsumo, que chamamos hortas comunitárias, estamos a desenvolver uma rede de corredores ecológicos que ligam o Parque Natural aos centros urbanos, de que é exemplo a Ribeira das Vinhas, estamos a aumentar o número de espaços verdes urbanos e a incentivar a biodiversidade desses parques… E de cada vez que construímos um parque urbano ou um trilho novo, as pessoas apropriam-se dele imediatamente, de cada vez que inauguramos uma horta comunitária a nossa lista de espera cresce. Isto significa que as pessoas de Cascais estão conscientes que o que promovemos no concelho é um estilo de vida saudável tanto do ponto de vista alimentar, como físico e mental. A comunidade retribui fazendo a sua parte na adesão a estes projetos que visam tornar o mundo, e não apenas Cascais, um lugar melhor.

Qual o próximo passo para tornar Cascais uma cidade ainda mais sustentável?

Só na Cascais Ambiente estamos num processo de descarbonização da frota, através da utilização de eletricidade e de novas tecnologias. Vamos alargar a recolha de biorresíduos em sacos óticos, que já testámos num projeto-piloto com grande adesão das 5000 mil famílias e nos vai permitir reduzir esses restos de comida a composto, retendo enormes quantidades de CO2. Temos um grande projeto em fase de implementação, o Plano Paisagem, que desenha as linhas mestras de uma utilização do solo que promove a biodiversidade e as atividades económicas enquanto protege o ambiente. Queremos aumentar a área de espaços verdes urbanos. Depois, temos todas as outras áreas de ação da CMC com um pensamento muito inovador e que se reflete nos transportes públicos gratuitos, na descarbonização desta frota, no aumento da mobilidade suave com bicicletas e trotinetes partilhadas, no crescimento das ciclovias… A lista é muito grande, podia continuar.

Luís Almeida Capão

Luís Almeida Capão, 42 anos, exerce funções como Presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente – EMAC S.A., do qual faz parte desde 2013. Tem responsabilidades na definição estratégica da empresa em toda a sua linha de atividade, desde as operações de limpeza urbana e recolha de resíduos à adaptação às alterações climáticas, passando ainda pela manutenção de espaços verdes urbanos, agricultura urbana e gestão da estrutura ecológica e promoção da biodiversidade de Cascais. As equipas da Cascais Ambiente têm desenvolvido um consistente trabalho na área da inovação e otimização operacional no setor do ambiente, que já valeram a obtenção de relevantes distinções, bem como uma abordagem de reconhecimento do cidadão como co-criador do território. 

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