Autor

Ricardo Lopes

Nem todos estamos no mesmo estágio de maturidade em relação aos hábitos compra e vida saudáveis. Por esse motivo, decidimos conversar com Ana Rita Freitas, psicóloga, para compreender melhor o que tem influenciado positivamente os hábitos de compra e vida e o que podemos fazer para mudar o que está menos bem.

Vários estudos indicam que os consumidores procuram cada vez mais produtos sustentáveis. Que variáveis poderão estar a contribuir para esta tendência?

Os conceitos de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável têm vindo a ganhar força e são cada vez mais debatidos na nossa sociedade. Isto denota uma preocupação com o meio ambiente, com os recursos naturais, com a economia e em simultâneo com a saúde do ser humano (em todos os domínios). É importante satisfazer as necessidades da sociedade presente sem comprometer as necessidades e a qualidade de vida das próximas gerações. 

Esta preocupação e procura por produtos sustentáveis pode dever-se a inúmeros fatores. Acredito que o surgimento de vários estudos de diversas áreas tenha permitido uma maior compreensão do funcionamento dos sistemas e até mesmo uma antecipação daquilo que poderá ocorrer no caso de não haver uma rápida alteração de comportamento.

Efetivamente, estes estudos apresentam de forma explícita quais os comportamentos a adotar para a prevenção de possíveis consequências e fazem-no tendencialmente com recurso a uma linguagem simples o que permite chegar a todos com a mesma clareza e entendimento.

 

As gerações mais novas tendem a ser mais preocupadas com estas questões. Porque motivos?

As gerações mais novas têm acesso a informação sobre a sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável cada vez mais cedo através das escolas e dos meios de comunicação social. Isto faz com que desde crianças procurem adoptar comportamentos considerados adequados para a manutenção de uma vida sustentável não só durante a sua existência como nas próximas. Inegavelmente, a sensibilização para estes temas ocorre cada vez mais cedo e por esse motivo a tomada de decisão também. As mudanças climáticas e ambientais por exemplo eram pouco debatidas nas gerações anteriores e quando se refletia sobre o tema, pensava-se ser algo que ocorreria passado muitos séculos, o que não é verdade. 

Hoje todos somos confrontados com esta realidade e até há medidas que nos obrigam a operacionalizar mudanças no nosso comportamento, como é o caso da obrigatoriedade de reciclar.

 

 

 

Existe também uma questão social relacionada com a compra de produtos verdes, pois existe uma conotação positiva associada. Acredita tratar-se de altruísmo genuíno?

Efetivamente, a compra de produtos verdes, bem como outros comportamentos sustentáveis, envolve questões sociais como é o caso da saúde e da qualidade de vida de todos nós. Acredito que muitas das pessoas que adotam estes comportamentos o fazem de forma puramente altruísta, ou seja, dedicando-se aos outros, porém, outros poderão fazê-lo de forma egoísta o que é igualmente válido. Adotar um comportamento “egoísta”, não no sentido mais rude da palavra, mas sim na lógica de “faço isto por mim, para me sentir bem, para me sentir feliz e realizado”. Esta atitude é inteiramente adequada. 

Se refletirmos, apesar de tendencialmente o altruísmo e o egoísmo serem considerados conceitos opostos, eles podem estar inteiramente associados. O altruísmo também pode ser “egoísta” no sentido em que eu luto pelo bem estar e pela qualidade de vida dos outros porque isso me faz sentir bem comigo mesmo e me faz sentir realizado. 

Se cada um adoptar comportamentos adequados para si e para se sentir bem consigo mesmo, toda a sociedade beneficiará e as gerações futuras também. 

 

Quais as motivações que levam a seu ver as pessoas a querer mudar o seu estilo de vida e adotar práticas sustentáveis?

Tal como disse anteriormente, acredito que hoje as pessoas estão mais conscientes dos verdadeiros riscos que a nossa geração e as futuras gerações correm em consequência dos comportamentos tomados até então. 

Hoje, há uma maior valorização do mundo no geral, incluindo por exemplo da natureza que no nosso país reflete inteiramente a sua beleza.

Hoje, nós sabemos que o futuro depende de nós e há uma maior preocupação nesse sentido. Queremos que os nossos filhos, netos, bisnetos e todas as pessoas que virão, possam usufruir de um mundo tão belo como nós usufruímos. Viver com qualidade de vida é um privilégio e não podemos ter comportamentos que irão ter um impacto negativo na vida das próximas gerações. 

 

 

 

A pandemia está também a contribuir neste sentido?

A pandemia veio, acima de tudo, demonstrar-nos que somos frágeis e que em segundos a nossa vida, em particular o nosso estilo de vida, pode mudar. Embora ainda existam muitos debates sobre a verdadeira origem do vírus, há uma coisa que nenhum de nós pode negar: o mundo está a dar sinais dos exageros e do desleixo que cometemos ao longo das gerações passadas e da nossa. O mundo está cansado e a ficar doente. Cabe a cada um de nós dar o seu melhor para lutar e travar esta realidade. Espero que a pandemia e o facto de termos ficado em casa fechados, nos tenha dado a oportunidade de refletir sobre isto e de operacionalizar mudanças nas nossas vidas! 

 

Acredita que se trata de uma moda ou é um estilo de vida que veio para ficar?

Descobrir as verdadeiras razões pelas quais as pessoas adotam um determinado estilo de vida ou um determinado “padrão de consumo” é uma tarefa extremamente difícil. Cada pessoa terá as suas motivações para o fazer. De modo geral, acredito que a influência dos meios de comunicação social seja um fator de enorme relevo e que se trata de um estilo de vida com tendência a reforçar-se nas próximas gerações. Espero, sinceramente, que seja uma realidade “para ficar”.

Este tipo de conteúdo e de debate poderá ajudar a que isso ocorra. Vamos falar sobre isto, vamos alertar constantemente as pessoas para estas realidades. É a nossa missão.

 

Há pessoas que querem mudar o seu estilo de vida mas depois a inércia e a falta de tempo tornam-se obstáculos. Que conselhos daria para que tal não aconteça?

Para uma mudança de estilo de vida a palavra de ordem terá que ser Organização. Se quer mudar a sua vida precisa de se organizar! Tudo o que é importante para nós tem data e hora marcada. Faça um horário semanal com todas as atividades que precisa e quer fazer, incluindo por exemplo passeios ao ar livre, a reciclagem, as compras, a confeção de refeições previamente, a plantação dos seus próprios alimentos, etc. Escolha os comportamentos que quer adotar e inclua-os na sua vida diária não como uma opção mas como uma atividade com a mesma importância do que o trabalho por exemplo. Isto irá combater a procrastinação. Nós não temos falta de tempo, temos é o nosso tempo desorganizado. 

Numa fase inicial, comece por operacionalizar pequenas mudanças e ao longo do tempo vá optando por mudanças cada vez mais desafiantes para si. 

Um número grande de pequenas coisas pode em conjunto representar um grande contributo para o desenvolvimento sustentável.

Vamos deixar-nos de “desculpas”. Comece hoje! 

Para terminar, gostaria de expor a ideia basilar que tem sido apresentada sempre que falamos de sustentabilidade: “Comportamentos individuais podem alcançar transformações globais”. Vamos a isso! 

Ana Rita Freitas 

Psicologia | Neuropsicologia | EMDR | Hipnose Clínica.

Conheça o trabalho em www.facebook.com/anaritafreitaspsicologia/

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É cada vez mais comum e procurada a comida Vegan, o que nos chamou a atenção no Capim Talho Vegan foi precisamente o termo talho e a promessa de recriar os pratos típicos portugueses. Fomos falar com a equipa e valeu muito a pena, para percebermos a ideia, o conceito e a promessa “queremos afastar-nos da nova vaga de comida vegan que é altamente processada”.

Identificaram alguma oportunidade de mercado, ao reinventarem o talho tradicional? 

A oportunidade de mercado identificada está no crescimento exponencial da procura de alternativas vegan à carne e derivados. Como não consumidores de carne sentimos a falta no mercado de uma oferta de produtos diversificados, com base em ingredientes saudáveis e uma experiência de compra fácil e conveniente.

 

Queremos afastar-nos da nova vaga de comida vegan que pretende simular o sabor da carne e é altamente processada e produzida em “laboratório”

 

A vossa inspiração está no típico talho, ainda sentem o preconceito de que “é bom, mas fartava-me”? 

A nossa inspiração em produtos que podemos encontrar tipicamente num talho tradicional vem do facto de julgarmos que é a forma mais fácil / intuitiva para o comum consumidor deste tipo de produtos começar a introduzir alternativas vegan e saudáveis na sua dieta e ao mesmo tempo não abdicar de refeições deliciosas e que vai querer repetir várias vezes

 

Como asseguram ingredientes reais, sem corantes, conservantes e açúcares? 

Todas as nossas receitas foram elaboradas de raiz com esses pressupostos como base e somos muito exigentes no que toca a abrir exceções. Queremos afastar-nos da nova vaga de comida vegan que pretende simular o sabor da carne e é altamente processada e produzida em “laboratório”

 

 

Qual o vosso produto estrela, com mais saída? Porque se destaca? 

Talvez o Welllington de Castanhas e “Queijo” por ser um produto mais fora da caixa e pelo tamanho familiar que permite partilhar em ocasiões de grupo

 

Como caracterizam o vosso cliente? É maioritariamente jovem? 

O nosso cliente são maioritariamente mulheres dos 25-45 anos com uma dieta flexitariana, pescetariana, vegetariana ou vegan. No entanto a nossa marca é destinada a todos que queiram reduzir o consumo de carne, adotar uma alimentação mais saudável ou que procurem alternativas saborosas e fáceis de preparar.

 

Preocupação constante em trabalhar com fornecedores com uma oferta “amiga do ambiente”, sem plásticos e com materiais biodegradáveis

 

No vosso cliente, a principal motivação de compra é saúde ou ambiente? 

As motivações dos nossos clientes são bastante distintas, podem ser temas mais estruturais como a saúde, ambiente ou ética animal ou mais levianos como sabor, conveniência e facilidade de preparação dos produtos vendidos

 

Sentem que o Capim Talho Vegan teria potencial fora de um grande centro urbano? 

Temos a certeza, aliás temos tido pedidos de várias zonas do país que infelizmente nesta fase ainda não conseguimos satisfazer

 

 

 

 

 Como asseguram um packaging sustentável? 

Com uma preocupação constante em trabalhar com fornecedores com uma oferta “amiga do ambiente”, sem plásticos e com materiais biodegradáveis

 

A pandemia aumentou as encomendas online. Sentiram isso no Capim Talho Vegan? Pensam que é uma tendência para manter? 

Sentimos o impulso nas compras tanto por as pessoas passarem mais tempo em casa mas também por procurarem alternativas mais saudáveis que promovam o reforço do sistema imunitário e as defesas do corpo. Sobretudo esta última tendência acreditamos que está para ficar!

 

Gostariam de destacar algum tema que não foi tratado nestas questões?

As nossas entregas ao domicílio são realizadas todas as segundas e quintas-feiras em Lisboa, Oeiras, Cascais, Margem Sul, Odivelas e Loures. As encomendas são realizadas online através do nosso site capimtalhovegan.com ou Instagram capimtalhovegan. Obrigado!!

Equipa Capim Talho Vegan

Marta Penaguião, Madalena Stilwell e Tomás Penaguião

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A GREENSENSE nasce de uma necessidade específica de Joana Lemos, para ela e para o seu filho, o que deixa logo a ideia  que é uma marca com propósito. E é. A conversa com a fundadora leva-nos a conhecer por dentro uma marca de cosmética natural e vegan, que se preocupa com a produção, embalagens e em criar um estilo de vida saudável e sustentável nos seus consumidores. Lê tudo abaixo.

Como nasce a marca GREENSENSE? 

Após anos de procura e de experimentar várias opções para pele atópica do meu filho e para a  minha pele extremamente reativa, eu estava à procura de produtos que me dessem respostas  eficazes mas que fossem naturais.

Assim, a GREENSENSE nasceu desta motivação aliada à  possibilidade de ajudar todos os que escolhem os nossos produtos, para a sua rotina de higiene e  beleza, a abraçar um estilo de vida mais saudável, juntando cuidado corporal e o cuidado do  planeta. 

 

Que ingredientes naturais podemos encontrar nos vossos produtos de cosmética? 

Os produtos GREENSENSE distinguem-se por serem mais completos e específicos para cada pele ou couro cabeludo, e por utilizarem apenas ingredientes naturais. Utilizamos óleos essenciais pelos  seus benefícios amplamente reconhecidos e uma grande diversidade de óleos vegetais e manteigas,  maioritariamente de origem biológica. 

As pessoas estão mais sensíveis para as questões ecológicas quando compram cosmética? 

As pessoas mostram uma preocupação crescente não só com o ambiente mas também com as  condições de desenvolvimento e de teste dos produtos de cosmética. Por isso tem aumentado a  procura por produtos cruelty free e biodegradáveis, com o menor impacto ambiental mas que sejam  uma verdadeira alternativa à cosmética convencional. 

 

Qual o perfil dos vossos clientes? Como os caracterizam? 

O nosso cliente procura produtos saudáveis, sustentáveis e com resultados reais. Temos uma gama  para toda a família e somos procurados por um público muito diversificado mas com um interesse  comum: cuidar de si e do planeta.  

 

 

Qual o vosso produto best-seller? O que é que os clientes mais valorizam nesse produto? 

A grande maioria dos nossos clientes refere o excesso de oleosidade da raiz como algo que os  incomoda e procuram um champô formulado especificamente para essa situação. O champô para cabelo oleoso é o nosso best-seller, com um excelente feedback por parte dos nossos clientes. O aroma que se nota logo ao abrir a embalagem, o facto de durar muito mais que a alternativa  líquida convencional e a sensação de cabelo lavado por mais tempo são as qualidades mais referidas pelos nossos clientes. 

 

Defendemos a liberdade e a vida de todos os seres vivos, na prática para além de não fazermos  testes em animais, também não utilizamos matérias-primas de origem animal.

 

Para além de ingredientes naturais os vossos produtos são também vegan. O que é que isto  significa na prática? 

Defendemos a liberdade e a vida de todos os seres vivos, na prática para além de não fazermos  testes em animais, também não utilizamos matérias-primas de origem animal.

 

 

A linha de cuidados para a barba tem tido procura? O público masculino tem vindo a crescer nesta área?  Notam evolução? 

Apesar de o nosso público ser maioritariamente feminino, notamos um interesse crescente na nossa  linha de cuidados para barba, afinal, a procura por produtos sustentáveis é algo comum a todos. Acreditamos que o grande segredo para uma barba saudável e perfeita está mesmo na utilização de  óleo para a barba. Os nossos óleos oferecem uma hidratação profunda da barba e rosto e ainda  garantem um aroma agradável que facilmente se pode tornar uma “marca” distinta e pessoal. Criámos um kit que reúne um champô sólido e um óleo para barba que tem sido uma excelente  opção para presente de Natal. 

 

As embalagens mais sustentáveis são uma preocupação vossa? 

A marca foi pensada para que todo e cada detalhe seja sustentável e saudável, desde os ingredientes  às embalagens, passando pelo processo de produção, sem esquecer as caixas e os autocolantes. Damos sempre preferência a embalagens de papel reciclado e proveniente de gestão  ambientalmente responsável.  

Onde é que podemos encontrar GREENSENSE à venda? 

A nossa gama completa de produtos está à venda na nossa loja online em  

www.greensensecosmetics.com e na Coimbra Concept Store.  

 

Joana Lemos 

Natural de Coimbra, cidade berço da GREENSENSE. Com 10 anos de experiência  no mundo empresarial, abraçou este projeto no final de 2019 com a motivação especial de  proporcionar alternativas sustentáveis e naturais para todos.

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A Lili Dreyer é dinamarquesa, estudou empreendedorismo sustentantável em Londres  e produz a sua marca de calçado em Portugal. Não podíamos perder a oportunidade de falar com uma Nerd em Sustentabilidade, como a própria se define, que nos apresenta conceitos como o upcycling e detalha como a WAIR nasceu, se desenvolve de forma sustentável e o que trará de novo.

Como surgiu a ideia da Wair?

A ideia por trás da Wair resulta de uma mistura da minha paixão de longa data pela sustentabilidade e pelo upcycling e de um problema muito prático que é não ser capaz de encontrar ténis sustentáveis, que fossem bonitos e não custassem uma fortuna.

Quando estudei Sustentabilidade, Empreendedorismo e Design na Brunel University tivemos que fazer uma análise ambiental de um produto e redesenhá-lo na ótica sustentável. O meu colega e eu optámos por dar a um par de sapatos uma vertente sustentável e, a partir daí, decidimos continuar a trabalhar juntos, com particpações em concursos de empreendedorismo com o nosso conceito de ténis upcycled – e a Wair nasceu.

Quais são os principais desafios que a Indústria Têxtil enfrenta atualmente, na tua opinião, em relação à sustentabilidade?

Essa é uma pergunta realmente difícil, porque há tantos, mas no geral eu diria que o principal desafio da indústria têxtil diz respeito a volume, ritmo e direção. Grandes quantidades de fast fashion num sistema linear resultam numa indústria da moda muito insustentável, que usa muitos recursos limitados para criar moda que é deitada fora após um período de vida muito curto.

Um desafio crítico da indústria têxtil é, portanto, fazer a transição para um sistema circular.

Os produtos de moda e os têxteis de que são feitos não foram concebidos para serem reciclados quando atingem o fim da vida. São frequentemente uma mistura de muitas fibras e materiais diferentes que não podem ser desmontados – e, portanto, é muito difícil separar e reciclar.

Para criar uma indústria da moda circular, precisamos projetar para a circularidade e, em seguida, permitir que sejam reciclados, construindo e apoiando tecnologias e empresas que podem reciclar e recircular os têxteis não reutilizáveis.

 

O que significa upcycling?

Upcycling é transformar um material residual num novo produto de valor igual ou superior ao produto / material original. Em termos de têxteis, significa usar o tecido “tal como está”, em vez de o desfiar e usá-lo para produzir outros materiais.

 

Foram apenas duas fábricas portuguesas que quiseram trabalhar connosco devido ao facto de estarmos a reciclar resíduos têxteis – o que torna tudo mais desafiante para a fábrica.

 

Quais foram os principais desafios que enfrentou ao lançar o produto no mercado?

Este é o primeiro negócio, o primeiro produto – basicamente o primeiro de tudo para nós. Portanto, eu diria que os principais desafios foram:

  • Descobrir como fazer todas as tarefas envolvidas no lançamento de um produto;
  • Como comunicar o que fazemos;
  • Quem são os nossos clientes,
  • Como promover o produto

Tudo coisas que nunca tínhamos experimentado fazer. Foi, portanto, muito na base da tentativa e erro, mas foi bom lançar através de uma campanha de crowdfunding, porque que tínhamos uma meta e um prazo claros, com os quais poderíamos trabalhar.

 

Este tipo de produto, mais do que um produto, é um estilo de vida. Concorda?

Sim, definitivamente. É um estilo de vida e é uma revolução contra o desperdício da indústria da moda.

Para nós, tudo começou como uma reação às quantidades assustadoras de resíduos têxteis que são gerados todos os dias e um propósito de criar moda que realmente faça o bem e não apenas menos mal. Esperamos que isso também se reflita no estilo de vida de nossos clientes e possa ser uma forma de alinhar o seu consumo de moda com os seus valores de sustentabilidade.

 

Como caracteriza os seus clientes? Qual é o seu perfil?

Carcaterizo como consumidores conscientes. Em termos demográficos, temos mulheres e homens e temos clientes em muitas faixas etárias – mas o fator comum é a missão de contribuir para um mundo melhor. Conhecemos alguns deles, desde que entregamos a maior parte do primeiro lote de produção nas nossas bicicletas – e são todos muito “cool”. Muitos deles têm empregos onde trabalham com sustentabilidade, o que é muito bom!

 

Estão sedeados na Dinamarca, no entanto, o produto é fabricado em Portugal. Porquê Portugal?

Sabíamos que queríamos trabalhar com uma fábrica de calçados localizada na UE e com foco na sustentabilidade. Encontrámos algumas fábricas em Portugal, mas também na Europa de Leste, Itália e Reino Unido. No entanto, no final, foram apenas duas fábricas portuguesas que quiseram trabalhar connosco devido ao facto de estarmos a reciclar resíduos têxteis – o que torna tudo mais desafiante para a fábrica.

 

 

Quais são os próximos passos em termos de desenvolvimento da Wair? O que podemos esperar?

No próximo ano podem esperar novos produtos reciclados da Wair. Nos últimos meses, temos trabalhado muito numa coleção limitada de ténis e num produto de moda totalmente novo.

O nosso objetivo é permitir que o maior número possível de tecidos descartados seja reciclado e, portanto, também tem sido importante para nós desenvolvermos novos produtos onde possamos reciclar outros fluxos de resíduos têxteis além daqueles com os quais estamos a trabalhar atualmente. À medida que a nossa rede cresce, vemos outros tipos de têxteis que tentaremos trabalhar nas nossas próximas coleções.

Conheça os ténis e as ações da WAIR em sustainablewair.com

Lili Dreyer

É uma empreendedora dinamarquesa de 25 anos, que se autodenomina-se “nerd em sustentabilidade. Enquanto estudava empreendedorismo sustentável em Londres deparou-se com a enorme quantidade de resíduos têxteis que a indústria da moda gera. Fundou Wair em 2019, de modo a criar uma solução que possa ser escalável e que permita dar uma nova vida aos têxteis “imperfeitos” através do poder do upcycling.

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Somos da área de marketing, pelo que a comunicação e design são temas que nos dizem muito. Mas como é que se incorporam na Sustentabilidade?

Foi com esta questão em mente que fomos falar com o Luca Padovani, communication designer com diversos projetos na área da  sustentabilidade, para entidades como as Nações Unidas e 4Change. Lê tudo abaixo.

 

 

De onde vem a tua paixão pela sustentabilidade? O que te move?

Vem da altura da universidade – não vou dizer quantos anos já passaram, porque a idade de um designer nunca se revela! Na altura de acabar o meu curso em comunicação em Itália, as poucas certezas que tinha é que queria desenvolver a minha carreira num contexto internacional e aplicar o conhecimento adquirido até então em algo que não estivesse diretamente ligado a uma vertente de negócio, mas que ainda não sabia definir com precisão. Digamos que se naquela altura me tivessem perguntado por qual organização teria gostado de trabalhar, a resposta mais frequente teria tido nomes como: Amnistia Internacional, Greenpeace ou Oxfam.

 

O que faz um communication designer na área da sustentabilidade?

A resposta curta é “o mesmo que costuma fazer um communication designer na área da comunicação empresarial, mas com um foco mais específico”. Ou seja, mudam os temas e, em alguns casos, os interlocutores, mas as ferramentas estratégicas e criativas mantêm-se. 

A resposta mais longa, na realidade, é uma pergunta: “o que é que um designer pode fazer na área da sustentabilidade?” E aqui os horizontes são muitos amplos, a começar por:

  • desempenhar um papel de ativismo em que há uma apropriação dos temas sociais e ambientais, anterior à formulação de uma estratégia de conteúdos e visual;
  • promover ativamente os valores da sustentabilidade junto dos clientes e parceiros, destacando quais podem ser as opções com menores impactos negativos, por exemplo, no momento de escolher se optar por um relatório de sustentabilidade impresso ou em formato digital, na escolha dos materiais (o papel, as tintas, os acabamentos), no ciclo de vida do produto de comunicação (será que o packaging do kit de imprensa ou os produtos de merchandising podem ter uma segunda vida?);
  • educar para uma ética visual em que todos devemos ser retratados de forma digna, em que se respeita e promove a diversidade, como base por uma maior equidade social. Enfim, os temas são muitos!

 

Cartaz da FCB Lisboa, para o Festival Política

 

A tua carreira na área já é longa. Quais os três projetos relacionados com a sustentabilidade que mais gostaste de realizar e porquê?

Uma caraterística que considero extremamente valiosa do meu percurso profissional é a possibilidade que tive e continuo a ter de misturar áreas, temas e metodologias muito diferentes, o que resulta numa grande diversidade de projetos. Só porque perguntaste (!), vou destacar três:

  1. A minha participação na Campanha para os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (os antecessores dos atuais ODS), pela possibilidade de trabalhar num contexto internacional e de me tornar ao mesmo tempo um ativista da causa para a qual estava a contribuir com o meu trabalho (ainda hoje visto com orgulho uma t-shirt que me foi oferecida quando ajudei na preparação da campanha Make Trade Fair, num concerto dos Cold Play em Lisboa);
  2. Segue-se na lista uma aventura enquanto mentor de organizações da economia social em Portugal, para a área da avaliação de impacto com a metodologia SROI, no âmbito de um projeto da 4Change em parceria com a Fundação Montepio e a CASES;
  3. O terceiro é um projeto que vai ser lançado muito em breve – e em relação ao qual, por esta mesma razão, não posso desvendar muitos detalhes – que consiste num movimento para a promoção da economia circular, livremente inspirado pelos temas da atualidade (leia-se movimento “Fridays for Future”) e alguns documentários interessantes como o Demain ou a série produzida pela SIC, É p’ara Amanhã.

 

Trabalhaste recentemente para um projeto das Nações Unidas. Em que consistiu?

Recentemente trabalhei pelo UNCDF, o Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento de Capital, na criação de manuais de normas para a aplicação do branding de dois projetos relacionados com a sustentabilidade ambiental: o LoCAL (Local Climate Adaptive Living, em inglês), um programa de apoio ao investimento “verde” em países particularmente vulneráveis às consequências das alterações climáticas,  e o GrEEN, um projeto que visa à promoção da resiliência climática e da criação de oportunidades de trabalho no Ghana.

Neste caso foram claramente os temas a tornar o trabalho interessante. Os temas e talvez alguns desafios que não tinha antecipado: por exemplo, tive que considerar as eventuais limitações de impressão a nível local e propor algumas alternativas em preto e branco, com um consumo reduzido de tinta e opções de layout que permitissem um melhor aproveitamento de papel. Pedidos estes que não são muito frequentes neste meio, apesar da sua pertinência e relevância.

 

O importante é que a sustentabilidade deixe de ser encarada como uma limitação e passe a ser usada como uma oportunidade para alavancar o potencial criativo da comunicação

 

Por onde começa um projeto de consultoria nesta área? Quais as etapas do processo?

Por enquanto, é ainda difícil padronizar o processo de consultoria nesta área, pois depende muito do tipo de cliente e das exigências que são postas encima da mesa. Trabalhando como freelancer, nem sempre tenho a margem que gostaria para trabalhar de forma integrada. Mas na minha opinião deveria existir sempre uma parceria entre o cliente e o consultor, em que o próprio communication designer assume um papel estratégico de diagnóstico e aconselhamento. 

 

O que diferencia a comunicação na área da sustentabilidade de uma comunicação convencional? Que princípios ou valores têm que ser tidos em conta?

Já falámos de alguns temas, mas acho que o importante é que a sustentabilidade deixe de ser encarada como uma limitação e passe a ser usada como uma oportunidade para alavancar o potencial criativo da comunicação. Para que isso seja possível, é necessário olhar para os processos de comunicação de forma integrada, além das questões de impacto e eficácia visual.

  • Qual é o ciclo de vida do produto de comunicação?
  • De que forma podemos reduzir o seu impacto no ambiente ou até promover a sua reutilização?

Todos conhecemos a pintura do Magritte, “Ceci n’est pas une pipe”… da mesma forma temos que aprender a olhar para um kit de imprensa, como algo mais de que um produto de comunicação. Aproveitando esta reflexão, queria partilhar um exemplo recente que considero inspirador: o cartaz do Festival Política assinado pela FCB Lisboa.

 

person holding click pen

 

 

Há muito greenwashing na comunicação da sustentabilidade. Como separar “o trigo do joio”?

Há, claro que sim. E a comunicação é muitas vezes a principal ferramenta da greenwashing. Mas a pressão sobre as organizações que, por miopia ou oportunismo, não querem incorporar com seriedade a sustentabilidade na sua cadeia de valor (ou até repensar esta última em função da primeira), é cada vez maior. Os consumidores são mais informados do que nunca – apesar de existir alguma resistência residual ou até mesmo oposição em alguns segmentos.

Os compromissos internacionais (redução das emissões, reciclagem de resíduos, etc.) são cada vez mais exigentes. E o próprio contexto ambiental e social parece ser progressivamente menos favorável a um tipo de desenvolvimento humano que não tenha em consideração os princípios da sustentabilidade. Enfim gosto de acreditar que irá haver um processo de seleção natural a médio prazo, do qual sairão como vencedoras somente aquelas organizações que estão realmente dispostas e capazes de mudar. Sonhar não custa, certo?  

 

Qual ou quais são na tua opinião as marcas que melhor comunicam o seu compromisso com a sustentabilidade neste momento?

Algo que se aprende rapidamente na área da sustentabilidade é que sem o devido escrutínio – isto é, sem ter olhado com atenção para toda a cadeia de valor que suporta uma determinada marca – é sempre arriscado destacar exemplos virtuosos. Por isso, vou só dizer que fiquei com curiosidade em saber mais sobre os esforços de marcas como LIDL ou IKEA, para citar só duas das mais recente. A primeira com a progressiva eliminação de embalagens de plástico das suas lojas. A segunda, pela iniciativa de promover a economia circular através de um serviço de retoma de móveis usados. Falei neste dois exemplos para não citar os clássicos da área, como Patagonia ou outras B-Corps

 

Que livro recomendarias a quem queira dar os primeiros passos na tua área?

Esta é a tua especialidade, não vou competir contigo! Até porque, na área mais específica do design gráfico sustentável o conhecimento ainda não está bem sistematizado. Porém há um documentário que aconselho sempre e que é um “murro no estômago” necessário para afastar qualquer dúvidas sobre a necessidade de repensarmos os nossos hábitos de vida: O Pesadelo de Darwin (2004). Depois de o ver, nunca irão fazer olhar para a balcão da peixaria da mesma forma.

 

Luca Padovani

Especialista em comunicação e design há cerca de 15 anos, já colaborou com várias organizações internacionais, no setor da cooperação e para o desenvolvimento e da sustentabilidade. Tem uma longa experiência no setor da economia e da responsabilidade social em Portugal, tendo colaborado em vários projetos de promoção e gestão de impacto social. Paralelamente desenvolveu também uma carreira de especialista em comunicação estratégica no setor privado. A sua formação junta as áreas da comunicação e marketing, cooperação internacional, sustentabilidade. Um desejo atual? Voltar a viajar.

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Muitas são as empresas e organizações que no mês de Natal direcionam esforços no sentido de fazer algo pela comunidade na vertente social. Um destes exemplos é-nos dado pela Ellegantia, empresa na área da estética e do bem-estar, que este ano, e uma vez mais, apoia a Casa de Tires.

A iniciativa passa por incentivar os clientes a escolher um dos enfeites da árvore de Natal que tem o nome de uma criança e a respetiva idade. O objetivo é oferecer uma camisola nova, quentinha, para uma criança que esteja institucionalizada.

 

 

A  Casa da Criança de Tires é uma casa de acolhimento residencial, que acolhe filhos de reclusas do Estabelecimento Prisional de Tires e crianças que viviam em situação de perigo. Garantindo os cuidados adequados às suas necessidades e proporcionando condições que promovam os direitos das crianças consagrados na Convenção dos Direitos da Criança, nomeadamente, o direito a ter um Lar e uma Família.

 

As camisolas serão depois entregues pela Ellegantia à Casa de Tires antes do Natal. Como forma de agradecimento a quem aderir à iniciativa, a empresa oferece um vale de 70% de desconto em tratamentos.
Caso pretenda ajudar esta causa e aderir à iniciativa, contacte por favor a Ellegantia! O Green Purpose já aderiu e vai oferecer uma camisola quentinha à “Bruna de 10 anos”.
E a Ellegantia em www.ellegantia.pt

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Luís Rochartre Álvares é uma referência nacional e internacional na área da sustentabilidade, com um trabalho notável na direção do Forest Solutions Group (FSG) do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e temos o privilégio de ter falado com ele. Uma entrevista que não vai querer perder, para compreender melhor o universo das florestas e o que está em causa para termos uma planeta mais sustentável, na perspetiva do próprio. 

 

 

reflection on trees on clear body of water during sunset

 

Quando assumiu, em 2018, a liderança executiva do Forest Solutions Group, do grupo World Business Council For Sustainable Development (WBCSD), disse numa entrevista que se tratava de cumprir um desejo antigo de ter uma ocupação com capacidade de impacto no setor florestal.

Passados dois anos, o desejo está cumprido? Que desafios enfrenta?

Como sempre que vamos para uma responsabilidade nova, nunca temos a perfeita noção de tudo o que pode acontecer. Mas confirmo que a minha vontade de contribuir para o impacto do sector se confirmou, hoje o Forest Solutions Group reforçou a sua voz na arena internacional. Os desafios corporizam-se em dar sequência a uma agenda ambiciosa que aponta os caminhos da sustentabilidade para as empresas de base florestal.

Foi muito estimulante contribuir também para a diversificação, e aumento, dos sectores representados no Grupo. Onde antes tinhamos sobretudo empresas dos sectores da pasta, papel e embalagem, hoje temos também empresas líderes nos materiais de construção, texteis de base florestal e área financeira.

 

O que é uma “working forest”?

Explique-nos um pouco o conceito (onde se situam, quais as características e diferenças com natural forests como a Amazónia).

O termo “working forest” é um conceito anglo saxónico, que explica que as florestas que nós representamos são as florestas geridas pelo homem, sejam áreas semi-naturais, como na Escandinávia ou América do Norte, ou plantações em latitudes mais a Sul. Assim, estamos  falar de toda e qualquer floresta na qual a gestão humana é determinante no seu funcionamento.

A floresta da Amazónia trata-se de um complexo ecossistema natural, onde o homem está presente, mas tem um impacto reduzido na evolução do sistema natural (ou deveria ter, se não quisermos quebrar o equilíbrio natural).

Existem hoje referenciais, aceites em todo o Mundo, que permitem certificar a gestão florestal sustentável.

 

photography of tall trees at daytime

 

É muito importante aproximar o setor florestal aos objetivos do desenvolvimento sustentável.

Quais são os principais desafios que existem para que tal se concretize?

Hoje é fundamental que qualquer atividade humana possa saber como está a contribuir para que se alcancem os ODS. No caso especifico do sector florestal, tive o privilégio de coordenar a elaboração de um roteiro para o sector. Trabalhámos durante mais de 18 meses com os nossos membros, com consultores e um grupo de stakeholders para construir este roteiro.

No final, para lá da caracterização dos impactos positivos e negativos do sector, definimos 22 acções para potenciar o impacto positivo do sector.

Hoje estamos a ultimar o primeiro relatório de implementação das recomendações entre os nossos membros. Este exercício revelou-se de grande importância para a Grupo, bem como para muitos stakholders externos, por exemplo muitas empresas usam-no hoje nas suas análises de materialidade ou a associação canadiana das indústrias florestais adoptou o roteiro como a sua visão para os ODS.

 

Outra estratégia passa por assegurarmos que as nossas mensagens passem nos grandes palcos mundiais onde a sustentabilidade seja o tema

 

Um dos principais desafios quando abraçou o cargo foi o de construir de uma nova abordagem de comunicação para os diferentes stakeholders na área da floresta a nível global.

Que ações têm sido ou vão ser implementadas neste sentido?

Temos vindo a adotar o nosso plano de comunicação aos diversos momentos que a agenda vai propiciando, bem como a edição dos nossos conteúdos, como por exemplo o roteiro para os ODS. Como o sector florestal é um sector eminentemente B2B e as principais necessidades de comunicação estão nos consumidores e nos media, existe um desafio muito grande a ultrapassar.

Assim, de um plano virado para os stakeholders mais próximos, estamos a evoluir para construir conteúdos que nos permtiam alcançar stakeholders mais distantes. Outra estratégia passa por assegurarmos que as nossas mensagens passem nos grandes palcos mundiais onde a sustentabilidade seja o tema, as conferências das diferentes agencias das Nações Unidas, processos intergovernamentais bem como as principais conferências sobre florestas e produtos florestais.

 

body of water surrounded by pine trees during daytime

 

Em Portugal, quais são as dificuldades que as indústrias florestais têm para comunicar? São partilhadas a nível global, ou temos especificidades próprias? 

Em Portugal não estamos muito longe das preocupações globais de comunicação do sector. Por um lado temos um grande goodwill, que advém da origem dos nossos produtos e das suas características sustentáveis, recicláveis e circulares, por outro existe uma rejeição ao corte de árvores, à gestão das florestas ou ao impacto das actividades industriais. Existe um problema de percepção pública dos impactos do sector, que é amplificado pelo “senso comum” e os media tradicionais.

Assim, o desafio é muito grande, mas o facto de ser global não o torna mais difícil em qualquer geografia.

 

Nós, enquanto sociedade, temos trabalhado mais no combate à insustentabilidade, ao diminuir a poluição, ao dar atenção ao equilíbrio social das diversas regiões, etc. Não temos estado tão apostados em construir a sustentabilidade.

 

Numa entrevista que deu afirma que: “nós, enquanto sociedade, temos trabalhado mais no combate à insustentabilidade, ao diminuir a poluição, ao dar atenção ao equilíbrio social das diversas regiões, etc. Não temos estado tão apostados em construir a sustentabilidade”.

A seu ver que passos têm que ser dados para se construir a sustentabilidade?

É uma afirmação que mantenho, as abordagens tendem a ser curtas em relação às necessidades. Como se vê, por exemplo na caso das emissões de dióxido de carbono, temos estado a tentar diminuir as emissões usando ligeiros ganhos incrementais, mas que no geral são insuficientes.

Precisamos de uma transformação radical do sistema económico, em que sejam efectivamente eliminadas as emissões. Conhecemos onde o devemos fazer, sabemos como o poderíamos fazer, mas efectivamente não o estamos a fazer. Não estou a afirmar que é fácil, temos consciência que esta transformação tem que ser sistémica, pois existe um grande interrelacioamento entre os diversos sistemas.

Não terá efeito mudar-se umas coisas e deixar outras iguais, há que transformar todos os sistemas fundamentais.

 

Na sua perspetiva, como está o desempenho de Portugal na área da sustentabilidade?

O que precisamos colmatar ao nível da sustentabilidade empresarial?

Em Portugal estamos a fazer um caminho interessante. Temos muitos bons exemplos em algumas áreas, mas ainda temos muitos sectores onde pouco se está a fazer. Não acredito na compartimentação da sustentabilidade, logo não acho que deva haver qualquer análise especificamente empresarial. Considero, sim, que a generalidade das empresas ainda não olham para os desafios da sustentabilidade com a intensidade que deveriam estar a fazer.

Ainda é frequente ouvirmos dizer que a sustentabilidade é muito bonita, mas que há que ganhar dinheiro, estas afirmações só demonstram que ainda não entenderam que não existe um plano b, só há um caminho e se o negarem hoje, estão a aumentar o risco de se tornarem irrelevantes a curto prazo.

Este ano temos vindo a testemunhar importantes avanços na agenda com tomadas de posição a favor do caminho da sustentabilidade de entidades insuspeitas de radicalismo, como o fundo BlackRock, o maior fundo de investimento do Mundo.

 

green tree near body of water under white and blue sky

 

Peter Bakker (presidente e CEO do WBCSD) e John Elkington (executive chairman na Volans), recentemente escreveram que a pandemia COVID-19 ofereceu-nos a oportunidade de mudarmos para um mundo mais resiliente e mais sustentável.

Quais são, no seu entender, estas oportunidades?

Qualquer acontecimento traumático, como este que vivemos actualmente, tem a capacidade de gerar mudança, pois há a tendência de se por a realidade em causa. As oportunidades podem ser concretizadas se realinharmos as prioridades das nossas sociedades.

Os principais desafios que enfrentamos são:

  • urgência climática
  • perda da biodiversidade
  • desigualdade social.

Em todas estas frentes, podemos verificar que a crise pandémica nos fez ver melhor os riscos que corremos. Com a diminuição da actividade económica e a impossibilidade de nos deslocarmos assistimos a uma brusca diminuição das emissões de dióxido de carbono, demonstrando que é possível diminuir drasticamente as emissões. Verificamos também o súbito aumento da presença dos animais em espaços humanizados, mostrando que a convivência é possível desde que os nossos impactos sejam controlados.

Infelizmente as questões da desigualdade social não tiveram um alívio, antes pelo contrário, verificamos que as populações mais pobres são as que sofrem mais com a pandemia. Logo, temos alguns bons sinais e demonstram que é possível empreendermos um caminho de transformação do nosso modelo económico.

 

O WBCSD resume o futuro em três palavras: “clean, lean e mean”. Concorda?

A nossa visão do futuro sustentável é que em 2050 os cerca de 9 mil milhões de habitantes da Terra viverão bem, dentro dos limites do planeta.

O trinómio “clean, lean and mean” traduz, em relação ao que conhecemos hoje, a visão de como conseguirmos viver bem dentro dos limites do Planeta, com uma melhor utilização dos recursos de que dispomos.

Conheça o trabalho de Luís Rochartre Álvares no Forest Solutions Group em www.wbcsd.org/Sector-Projects/Forest-Solutions-Group

Luís Rochartre Álvares

Diretor do Forest Solutions Group (FSG)

Engenheiro florestal, nasceu há 58 anos em S. Miguel (Açores). É desde 2018, diretor do Forest Solutions Group (FSG) do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). O WBCSD é constituído por conselhos empresariais de diversos países e mais de 200 das maiores empresas mundiais, o FSG junta as empresas líderes com actividades ligadas à floresta e aos produtos florestais. Engenheiro florestal, formado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, exerceu, ao longo de 20 anos, cargos em quase todas as áreas ligadas à floresta e à gestão de empresas.

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A Näz é uma marca de moda sustentável 100% portuguesa, que nos despertou de imediato o interesse, até pela sua forte presença em mercados internacionais . Contactámos a Marta Ferreira, marketing specialist da marca, para nos responder a algumas questões, relacionadas com a recetividade do consumidor português à moda sustentável, os pilares sustentáveis da Näz, o impacto da moda no futuro do planeta e da pandemia no consumo atual. Não percam, está tudo abaixo. 

 

A Näz nasceu da ambição de criar uma marca na área da moda, ou da vontade de criar um projeto sustentável? 

A Näz surgiu da ambição de criar uma marca de moda sustentável 100% portuguesa

Apresentam 3 grandes “forças” na área da Sustentabilidade:

  1. Social Integration,

  2. Democratic Design 

  3. Share Information.

Podem explicar melhor o que é cada uma delas e de que forma se incorporam no negócio? 

No que toca a social integration, a Näz tem grande parte da sua produção localizada na região da Beira Interior, que, apesar de ser um ponto de referência na industria têxtil, é, ao nível nacional, uma das áreas mais afetadas por desigualdades sociais, quer ao nível de acesso a serviços, quer ao poder de compra dos habitantes da região. Os nossos produtos são produzidos e criados em cooperação com os nossos parceiros, num processo de aprendizagem conjunto e contínuo, onde se pretende aliar técnicas e conhecimentos da industria, com metodologias alinhadas com a sustentabilidade.

Em relação a Democratic Design, todas as nossas peças são pensadas de forma a que tenhamos um menor range de tamanhos, mas que consigamos incluir um maior número de corpos diferentes nas nossas peças. Linhas minimalistas, e oversized, são as principais características das nossas peças. Ainda nesta linha de pensamento, uma parte da nossa coleção é feita em fibras prontas a tingir, permitindo que um certo tipo de material, como o linho em natural pronto a tingir, seja moldado a diferentes designs. 

Por fim, em Share Information, a Näz pretende tornar-se 100% no que toca à sua produção. No nosso website, temos uma área dedicada aos nossos parceiros, materiais, e transparência, onde exemplificamos o cost brakdown de uma peça. As redes sociais são um veículo de informação muito importante para nós, e aqui também concentramos a nossa comunicação na partilha de informação em torno dos nossos produtos e métodos de produção.

Estamos a trabalhar de forma a trazer aos nossos clientes e seguidores ainda mais transparência neste sentido e estamos a trabalhar para que, já no próximo ano, consigamos partilhar o impacto ambiental e social das nossas peças, bem como o life-cycle acessment dos nossos produtos. 

 

Uma marca que se pauta pela sustentabilidade analisa todo o ciclo de vida dos seus produtos, desde a busca de matérias, ao fabrico, transporte, experiência e descarte.

De que forma a Näz contempla este desígnio na sua proposta de valor?

No nosso website, é possível encontrar informações sobre o ciclo de produção das nossas peças, desde a escolha de materiais, até às fábricas envolvidas no processo. 

Estamos a trabalhar de forma a trazer aos nossos clientes e seguidores ainda mais transparência neste sentido e estamos a trabalhar para que, já no próximo ano, consigamos partilhar o impacto ambiental e social das nossas peças, bem como o life-cycle acessment dos nossos produtos. 

 

 

Qual tem sido a receptividade do consumidor? O que valorizam mais na vossa marca?

Desde que a marca surgiu, em 2017, sentimos uma maior adesão dos nossos consumidores, principalmente devido ao facto de as questões relacionadas com as alterações climáticas e o impacto da moda no ambiente começaram a ser mais discutidas. 

Os consumidores valorizam a qualidade das nossas peças, quer ao nível do design como materiais, o facto de ser um produto produzido na Europa, com uma produção transparente, e a nossa comunicação, que é voltada para um público jovem.

 

De que forma envolvem a comunidade na vossa marca? 

A nossa comunicação é muito orientada para o brand love, pelo que o nosso objetivo é criar uma experiência de 360º em torno da nossa marca. 

Trabalhamos sempre com pessoas que nos seguem nas nossas plataformas para as nossas sessões fotográficas, quer de estúdio, quer lifestyle. Isto permite não só trazer pessoas que à partida se identificam com a nossa marca, mas mostrar que trabalhamos com pessoas “reais”, no sentido em que não são modelos. O resultado é um conteúdo muito mais orgânico, e alinhado com o estilo e personalidade dos nossos clientes e seguidores.  

A nossa comunicação é muito pessoal, e próxima do consumidor. Tratamos o consumidor diretamente por Tu, e expomos nas nossas plataformas questões relacionadas com a sustentabilidade dos produtos, feedback dado por clientes. Temos uma secção no Instagram dedicada aos looks dos nossos clientes, e damos rewards aos nossos melhores compradores em cada coleção. Fazemos também giveaways dos nossos produtos nas redes sociais. 

Criamos parcerias com outros negócios e marcas alinhados com os nossos valores, quer para as nossas sessões, quer para integrarem as nossas encomendas online (com ofertas de produtos por exemplo), de forma a dar a conhecer à comunidade outras iniciativas.

 

Consideramos que os Portugueses colocam em primeiro lugar o facto de ser um produto feito em Portugal, com uma excelente qualidade. Ser sustentável é um plus.

 

 

A Näz está presente, além de Portugal, em vários países como a Bélgica, Finlândia e Alemanha.

Notam diferenças no que diz respeito à valorização dos atributos sustentáveis dos vossos produtos de país para país? Alguma curiosidade que queiram partilhar? 

Quando a marca começou, a distribuição da marca por retalhistas era fundamental, pois possibilitou um crescimento sustentável da marca em termos de produção. Os nossos primeiros retalhistas foram na Bélgica, um país onde moda de autor e sustentável em 2017 já era um consumo generalizado, e normal. Atualmente vendemos em 22 retalhistas pela Europa, e temos apenas um em Portugal (para além de nós), o que revela a recetividade para este tipo de produtos em lojas convencionais, de rua, em Portugal, quando comparado com outros países Europeus.

 

 

 

Tendo o comparativo do mercado português com internacionais, sentem que o consumidor português valoriza mais, menos ou igual os produtos sustentáveis? 

Consideramos que os Portugueses colocam em primeiro lugar o facto de ser um produto feito em Portugal, com uma excelente qualidade. Ser sustentável é um plus, neste contexto. E mesmo quando procuram moda sustentável, querem que seja um produto feito em Portugal.

 

Vários estudos afirmam que os consumidores valorizam a sustentabilidade, contudo existe um gap entre o que pensam e o que fazem.

Simpatizam com estes produtos mas não os compram, muitas vezes por serem mais caros do que os convencionais. Sentem este facto na vossa indústria? Como combatem o obstáculo que o preço possa representar?

Realmente, é importante ter em conta o poder de compra de cada cidadão, nos diferentes países, e isso nota-se no average cart dos diferentes tipos de consumidores do nosso website. Também é importante considerar que a sociedade ocidental foi educada a consumir produtos que têm como objetivo ser descartados, e isso é transveral à moda. Se juntarmos estas duas questões, é fácil de perceber porque é existe este gap entre o que pensam e conversão de compra, principalmente nos países do Sul da Europa. 

A nossa estratégia passa mais uma vez pela transparência, e pela educação. Temos uma pergunta na nossa FAQ que é exatamente “Why are Näz pieces so expensive”, temos uma página de transparência onde fazemos o cost breakdown de uma peça, e estamos a trabalhar para que consigamos partilhar o impacto ambiental e social das nossas peças, bem como o life-cycle acessment dos nossos produtos. 

 

 

A sustentabilidade tem também o pilar social. De que forma o incluem na vossa estratégia?

O pilar social existe na marca desde a sua fundação. Inicialmente, muito baseado na nossa produção, localizada na Beira Interior, uma zona muito demarcada pelas desigualdades sociais, quando comparadas a outras regiões. O nosso parceiro de reciclados, inicialmente apenas produzia para estofagem, e nós trouxemos uma nova forma de escoar o produto deles, levando a uma valorização da zona, e da indústria, por consequência. Grande parte dos nossos parceiros são pequenas empresas familiares com um impacto enorme na região onde operam. Em Loriga, onde são confecionadas as nossas malhas de lã, os nossos parceiros da MPL são responsáveis por 38 trabalhadores, ou seja, 38 famílias. Numa região com 1053 habitantes e uma média de agregado familiar de quatro pessoas, esta fábrica impacta, ainda que indiretamente, quase 15% do total da população desta região.

Em 2020, e graças ao aumento de vendas e lucro que temos verificado, sentimos a necessidade de alargar os nossos esforços na esfera social, e desenvolvemos duas parcerias. Doamos mais de 100 peças de roupa de coleções antigas à associação Citador de Sonhos, e estamos com uma campanha onde 10% de todas as vendas dos nossos acessórios revertem para o Just a Change, cuja missão é reabilitar casas de pessoas em situação de pobreza habitacional.

 

Qual consideram ser o papel da moda num futuro mais sustentável? 

A moda vai sempre ter um papel fundamental na nossa vida em sociedade, e no futuro, para além de continuar a ser um integrador social, terá um papel de harmonização entre a esfera social e a esfera ambiental, através de tecnologias que permitem utilizar fontes mais sustentáveis na produção das peças, quer ao nível da matéria prima, com novas formas de utilização de fibras, e até novas fibras, quer ao nível de utilização de água e energia, mas também no fim de vida de cada peça de moda, ao criar tecnologias e serviços que permitem cada vez mais a reciclagem e tratamento das mesmas de forma eficiente e sustentável.

 

 

Sentiram o impacto da pandemia no vosso negócio? Se sim, sentem que pelo aumento das compras online ou por uma maior consciência ambiental dos consumidores? 

A pandemia trouxe inicialmente uma grande incerteza, principalmente ao nível das nossas lojas. Quando o estado de emergência se generalizou na Europa, estávamos prestes a entregar a coleção de Verão. Felizmente, grande parte dos nossos parceiros prosseguiram com as encomendas, o que nos trouxe algum alívio financeiro.

Em relação ao online, foi uma excelente surpresa. Desde o início do ano que estávamos a trabalhar numa nova imagem para o nosso website, e quando a pandemia rebentou, as nossas vendas online começaram a rebentar também, talvez devido a um mix entre o facto de os consumidores terem mais rendimento disponível por estarem em casa, e por uma maior consciência ambiental, mas definitivamente ligado a uma estratégia online que já estava muito bem definida antes da pandemia, e que não desistimos dela mesmo no momento económico difícil que estávamos a viver. 

Deixe-se encantar pela moda sustentável da Näz em: www.naz.pt

Marta Ferreira 

Marketing Specialist na Näz

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Panquecas com ingredientes biológicos entre outras iguarias na cafetaria e produtos biológicos na mercearia biológica, é esta a promessa da Mercearia do Aviz, no Porto.
Abriu portas recentemente, na zona da Boavista no Porto, pelas mãos dos empreendedores André Ramos e Mariana Loureiro.
O espaço é composto pela mercearia biológica que fica no rés-do-chão e onde podemos encontrar uma diversidade de produtos biológicos, desde produtos frescos a produtos de higiene entre outros vendidos a granel. No primeiro andar funciona a cafetaria e o restaurante que serve saborosos brunches, pratos de carne, peixe e vegetarianos.
A casa abriu portas, em soft opening, em fins de setembro e a qualidade dos produtos e o ambiente do espaço merecem uma visita!
Espreite o aspetos de alguns
Descobre tudo sobre a Mercearia do Aviz em: https://www.facebook.com/Mercearia-do-Aviz-101539904912074

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A Quinoa assume-se como a primeira padaria biológica em Portugal. Nasce em 2009 e desde então dispõe diariamente de dez tipos de pão diferente confecionados apenas com ingredientes de origem biológica e recorrendo a métodos de fabrico exclusivamente artesanais.

O projeto nasce literalmente pelas mãos de duas mulheres, irmãs e empreendedores e inicialmente situava-se na rua do Alecrim. Entretanto o negócio cresceu e a área de produção situa-se agora em Sintra.

Na Quinoa, podemos encontrar uma gama certificada de pães com referências de pão elaborado com cereais tão diversificados como: Quinoa, Kamut, Espelta, Centeio, Trigo e Milho.

Os produtos Quinoa encontram-se disponíveis numa de rede de 50 parceiros comerciais, sobretudo nos supermercados Go Natural, Celeiros e lojas biológicas.

No site da padaria que dispõe de uma loja online é possível também encomendar estes deliciosos pães. Saibam mais em: www.quinoa.com.pt

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