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A Humana é uma associação sem fins lucrativos que, desde 1998, trabalha a favor da proteção do meio ambiente através da reutilização têxtil e realiza tanto programas de cooperação para o desenvolvimento em Moçambique e na Guiné-Bissau como de apoio local em Portugal. Falámos com Rafael Mas para saber mais sobre esta associação.

A Humana tem a missão de proteger o meio ambiente através da reutilização de têxtil e melhorar as condições de vida das comunidades em vias de desenvolvimento. De que forma?

Procuramos obter o máximo aproveitamento do têxtil usado ao recolher através de uma rede de contentores as doações têxteis por parte dos cidadãos, e preparando esse têxtil para a reutilização. O objetivo é dar uma segunda vida à roupa e favorecer o modelo de economia circular. Através da reutilização transformamos um possível resíduo num recurso. É através das lojas secondhand que a Humana promove a reutilização da roupa usada.

A gestão do têxtil usado permite reunir fundos para financiar projetos de cooperação para o desenvolvimento em África.

Desenvolvemos um trabalho complementário de apoio local em Portugal, em municípios parceiros, para apoiar as instituições com os recursos gerados através da recolha de roupa usada em atividades de carácter social, ambiental e humanitário. É uma prova do nosso compromisso reverter para a sociedade parte dos recursos gerados através da gestão das roupas doadas.

Fomentamos a consciencialização da cidadania através de várias ações e iniciativas de sensibilização, como exposições, workshops e eventos, com o objetivo de informar a população sobre o nosso trabalho e o impacto positivo do mesmo.


Como é que as pessoas podem participar ativamente nesta economia circular?

No caso da Humana, doar o têxtil de que já não necessita, depositando-o no contentor apropriado. Além disso, comprar moda em segunda mão. Desta forma, a economia circular é favorecida.

 

Qual o processo de preparação para a reutilização das roupas?

O processo de preparação para reutilização é realizado nas duas fábricas em Espanha que a Humana Fundación Pueblo para Pueblo, uma organização irmã da Humana Portugal. O processo é realizado manualmente, apoiado por meios semimecanizados. Este processo, baseado na Hierarquia de Resíduos da UE, permite obter 5 grupos principais de materiais.

  • Têxtil para reutilizar nas lojas Humana Portugal
  • Têxtil para reutilizar fora de Portugal
  • Têxtil que se destina à reciclagem, pois o seu estado não permite a sua reutilização
  • Outros resíduos, como papel, papelão ou plástico
  • Material que não pode ser reutilizado ou reciclado, por isso é enviado para centros de tratamento de resíduos
    90% do têxtil processado tem uma segunda vida, através da sua reutilização ou reciclagem.


Conseguem medir/estimar qual o impacto do vosso contributo para o planeta e para a sociedade?

A Humana Portugal recuperou no ano pasado, 2.700 toneladas de têxteis usados para dar-lhes uma segunda vida. As 2.700 toneladas recuperadas equivalem a quase 11 milhões de peças de vestuário que tiveram uma segunda vida através da reutilização e reciclagem.

Além disso geram um duplo benefício: ambiental, pois reduz a geração de resíduos e contribui para o combate às mudanças climáticas. A reutilização de têxtil usado contribuiu para a redução das emissões de CO2: por cada kg de roupa recuperada (e não levados a um centro de tratamento de resíduos e incinerada) é evitada a emissão de 6,1 kg de CO2, de acordo com um estudo da Federação Humana People to People.

As 2.700 toneladas recuperadas no ano passado em Portugal evitaram a emissão de 16.470 toneladas de CO2 à atmosfera, que equivalem à emissão anual de 6.186 carros que circulam 15.000 km cada ou à absorção anual de dióxido de carbono de 122.910 árvores.

O benefício social consiste na criação de empregos inclusivos, estáveis e de qualidade: a Humana gera um emprego indefinido para cada 24.545 kg de têxteis recolhidos. Por outro lado, os recursos obtidos destinam-se a programas de cooperação para o desenvolvimento em Moçambique e na Guiné-Bissau como de apoio local em Portugal.

Para além da vossa principal atividade, que outras ações desenvolvem para incentivar uma maior sustentabilidade ambiental?

Todos os anos passam por nossa rede de lojas centenas de milhares de pessoas interessadas em moda sustentável e, portanto, em um modelo que tenha a proteção ambiental entre seus objetivos. As lojas são, portanto, uma ótima ferramenta para promover a consciência e a sensibilidade ambiental. Tudo isso aliado ao caráter social da entidade.

 

Quais os próximos passos para esta associação?

A recolha seletiva de têxteis usados passará a ser obrigatória em 2025 em toda a EU e a Humana pretende, ao lado dos municípios, juntas de freguesias e empresas, ampliar a sua rede de contentores, que atualmente é de 842, e aumentar a sua recolha, que hoje é insignificante frente ao que é descartado em Portugal.

A organização recolheu apenas 1,4% das 200.000 toneladas de resíduos têxteis gerados em Portugal por ano, o que mostra que no país ainda há um longo caminho de conscientização em conjunto com o sector de recuperação têxtil.

Rafael Mas

Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Autônoma de Madrid (Espanha) e Especialista Universidade em Gestão Diretiva de Organizações Sem Fins Lucrativos pela UNED (Espanha). Há desenvolveu sua carreira profissional na Fundación Pueblo para Pueblo desde 1998, realizando diferentes posições na organização tanto nas unidades produtivas de Gestão de Resíduos Têxtil e nas áreas de Gestão e Planeamento de Projectos de Cooperação e na área de comunicação. Atualmente promove Relações Institucionais e Alianças Estratégico com os colaboradores.

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