Smart Cities com Tecnologia e Pagamentos Mobile – Andreia Pancho

por Ricardo Lopes

Consumimos mais, dependemos do carro e a consequência é o desperdício e poluição. Como controlar? Smart Cities e Pagamentos mobile.

Lê a entrevista a Andreia Pancho, com conceitos centrais do que são Smart Cities, bons exemplos como Melbourbe e Barcelona, e que tecnologias estão a ser usadas. Além de perceber o impacto futuro que os pagamentos mobile terão.

 

 

Tens vindo a desenvolver a sua carreira na área das tecnologias. Qual o impacto que as tecnologias, nomeadamente de sensores inteligentes, podem vir a ter nas denominadas smart cities?

A relevância das smart cities é absolutamente indiscutível, considerando o fenómeno que tem sido a urbanização, assim como as evidentes perspetivas de crescimento. O conceito de smart city assenta no desenvolvimento sustentável das cidades através do recurso à tecnologia, tendo como áreas de incidência focos que podem ir desde a mobilidade até à gestão de desperdício. Este crescimento sustentável tem uma relação de simbiose com a tecnologia e os sensores inteligentes têm tido um papel fulcral. Estas tecnologias baseadas em IoT (internet of things) são dotadas de características que possibilitam monitorizar, identificar e retificar ineficiências para uma otimização do funcionamento das cidades, nas mais variadas áreas de incidência.

 

Vários municípios, por exemplo Melbourne na Austrália, já conta com um sistema de recolha de lixos inteligente, com rotas otimizadas em função do estado em que se encontram os contentores. Tecnologicamente como é que funcionam estes processos?

O aumento exponencial do consumo é uma realidade, assim como o consequente desperdício, e a gestão desta problemática revela-se como um desafio que tem de ser colmatado. O sistema de recolha de lixo inteligente implementado em Melbourne é um excelente exemplo da utilização da tecnologia para o desenvolvimento sustentável e melhoria dos serviços nas cidades. Esta solução, através de sensores inteligentes, permite identificar a capacidade dos caixotes do lixo e, consoante este nível, identificar se a recolha é necessária ou não, permitindo a otimização da rota de recolha.

 

smart city - melbourne

 

Um outro benefício da utilização de sensores inteligentes é por exemplo poder-se controlar o tráfego numa cidade mais eficazmente e até detectar infrações pois estes sensores permitem ler matrículas e reconhecê-las. Há procura por este tipo de soluções?

O desenvolvimento crescente de soluções baseadas em IoT é evidente, assim como o interesse pelas mesmas. No caso concreto das smart cities, a utilização de sensores inteligentes para controlo de tráfego é uma solução particularmente interessante pelo facto de incidir sobre uma das áreas mais relevantes, que é a mobilidade.

Existe efetivamente a necessidade de soluções deste género para tornar a mobilidade mais eficiente e sustentável, e algumas cidades já têm soluções desta natureza em curso. A procura por estas soluções depende do nível de maturidade “smart” da cidade em questão, sendo que acredito que, num futuro próximo, iremos assistir a uma maior disseminação e adoção de sensores inteligentes para controlo de tráfego.

 

Os municípios colocam cada vez mais na sua agenda política questões como a mobilidade sustentável. Que soluções tecnológicas existem para esta finalidade?

O fenómeno da urbanização tem levantado diversos desafios, e um dos principais é sem dúvida a mobilidade. É um tópico que está na agenda política dos municípios devido à influência que exerce na qualidade de vida dos cidadãos e ao impacto ambiental.

A mobilidade urbana ainda assenta significativamente na dependência dos automóveis, o que conduz inevitavelmente a congestionamentos no trânsito e a emissões poluentes, sendo necessário um plano para uma mobilidade mais eficiente e sustentável.

De um ponto de vista global, já existem soluções inteligentes direcionadas para esta matéria e que podem ser um passo em direção a uma mobilidade mais sustentável. O conceito de mobility as a service tem emergido com aplicações que permitem aglomerar serviços de partilha de veículos, bicicletas e outros meios de transporte.

A par disto, já existem soluções baseadas em IoT que permitem uma gestão eficiente do estacionamento, através de dados que são recolhidos e permitem otimizar a localização de estacionamento, evitando congestionamentos.

No que diz respeito à mobilidade existem várias soluções a serem desenvolvidas para colmatar estas dificuldades, recorrendo a tecnologia IoT.

 

Que outros exemplos ao nível de soluções tecnológicas e smart cities gostaria de destacar?

Uma das cidades que tem tido um rumo interessante em direção à materialização das smart cities é Barcelona. Trata-se de uma cidade que teve necessidade de se reinventar, definiu uma estratégia que passa por uma transformação onde a tecnologia assume um papel fundamental.

Visando um crescimento económico sustentável e a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, Barcelona tem vindo a implementar soluções que a tornam como uma referência no que diz respeito às a smart cities. Algumas das soluções que se podem destacar são sistemas de semáforos eficientes do ponto de vista energético, soluções de recolha de lixo inteligentes, assim como sistemas de irrigação que permitem identificar o momento adequado para o processo de rega.

pagamento mobile

Fizeste uma dissertação de mestrado sobre pagamentos mobile. Os pagamentos mobile são uma opção mais sustentável quando comparados com pagamentos tradicionais?

O conceito e a própria materialização do pagamento por mobile podem diferir consoante a customer journey. Esta pode iniciar-se no próprio dispositivo móvel, sendo que o mais frequente é o smartphone, e passar por todo o processo em digital ou ser iniciado numa loja física, por exemplo, e recorrer-se ao smartphone para o pagamento ser realizado com tecnologia NFC (Near Field Communication), um método contactless.

Comparativamente aos pagamentos tradicionais, além de fomentar eficiência e conveniência, promove a desmaterialização. A utilização de pagamentos por mobile reduz significativamente a circulação de papel, contribuindo para uma sociedade mais sustentável.

 

Os portugueses têm vindo a adoptar mais pagamentos mobile, por exemplo NFC? 

A adoção dos pagamentos por mobile tem vindo a aumentar significativamente nos últimos anos, em grande parte como consequência da disseminação do e-commerce, sendo uma evolução natural dos métodos de pagamento tradicionais. Este crescimento acentuou-se, ainda mais, no decorrer deste período de pandemia, uma vez que os constrangimentos provocados pela Covid-19 alteraram os padrões de consumo e consequentes métodos de pagamento.

A tecnologia NFC, em particular, teve um papel relevante no boom dos pagamentos por mobile devido às suas funcionalidades que lhe dotam de conveniência, fiabilidade e segurança. É um fenómeno global, mas se validarmos os dados associados às tecnologias contactless, verificamos que os portugueses estão no topo no que diz respeito ao recurso a estas tecnologias, assistindo-se a um aumento evidente face a um período pré-covid.

 

Quais são as barreiras que ainda podem existir?

Para os nativos digitais a adoção dos pagamentos por mobile, ou de natureza contactless, é quase inata, não existindo barreiras que pelo menos sejam significativas, a este método de pagamento.

O que se verifica é que a perceção acerca da segurança se pode manifestar como uma barreira para gerações anteriores e a falta de literacia acerca da temática contribui para a problemática. A Covid-19 agiu como um catalisador para a adoção deste método de pagamento e alguns receios relativo à segurança foram ultrapassados, por necessidade.

A tendência é os pagamentos por mobile e de natureza contactless serem uma evolução natural e inevitável aos métodos de pagamento tradicionais, pelo que futuramente as barreiras que ainda existem terão cada vez menos relevância.

 

Acredita que a disseminação dos pagamentos mobile veio para ficar após a pandemia ou é um fenómeno circunscrito?

Os pagamentos por mobile não são apenas uma tendência transitória, vão passar efetivamente a ser uma realidade. E as razões não assentam apenas nas consequências resultantes da pandemia, que evidenciaram a necessidade das funcionalidades utilitárias deste método de pagamento. O smartphone tem cada vez mais influência no autoconceito e extensão do “eu”, e se formos avaliar as motivações referentes à intenção de reutilização. Isto é, a intenção de continuar a utilizar o pagamento por mobile, uma das principais motivações é a compatibilidade com o estilo de vida.

p’A realidade é que estes dispositivos fazem parte do quotidiano de todos, e a customer journey dos consumidores inicia-se, em várias instâncias, no próprio dispositivo, e a tendência futura será centralizar atividades passíveis para tal no smartphone, não só pela transformação digital a que se tem assistido, mas também pelo papel que assume no próprio estilo de vida do consumidor.

 

Andreia Pancho 

Curiosa pela realidade empresarial, licenciou-se em Gestão pela Lisbon School of Economics and Management (ISEG). Durante esse percurso apaixonou-se pela vertente estratégica do Marketing e ingressou no mestrado nesta área. O seu percurso profissional tem incidido sobre o segmento B2B e, atualmente, desempenha funções de marketing na área das tecnologias.

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