Autor

Ricardo Lopes

Design sustentável é o mote de um prémio atribuído pela Roca, que também desenvolve produtos sustentáveis (na eficiência e produção) e tem uma Fundação. Falámos com o Engenheiro Jorge Vieira, CEO da Roca Portugal, para saber tudo sobre estes projetos.

A Roca apresenta mais uma edição do One Day Design Challenge, este ano com o mote da sustentabilidade. Pode falar-nos sobre o evento? 

É verdade, pretendemos que os concorrentes enfrentem este desafio de desenhar, em apenas um dia, soluções para o espaço de banho, nas quais a sustentabilidade tem e deve estar presente. É cada dia mais uma questão essencial para que o nosso futuro seja ainda melhor e, claro, mais sustentável. 

 

Sendo um desafio para um público mais jovem, qual acreditam que será o peso da sustentabilidade para as novas gerações? Será um “novo normal” casas mais sustentáveis? 

A juventude de hoje, é o futuro de amanhã. Neste sentido, a Roca aposta na capacidade criativa e nos estudos recentes que tem, para que o conceito de sustentabilidade seja o “novo normal” como refere.

Temos consciência de que os jovens já não pensam de outra forma, o que lhe estamos a oferecer é uma oportunidade de poderem demonstrar o que estão a pensar e a desenvolver neste campo.

 

 Percebem uma maior procura por produtos sustentáveis? 

Sim, esta variável já entra na equação no processo de compra. É um conceito em crescimento. 

 

O interesse está em que o produto ofereça eficiência ao cliente final nos consumos, ou também existe uma preocupação com a vossa própria produção?

Na Roca, trabalhamos estes conceitos em paralelo porque não os entendemos de forma separada.

Se por um lado é essencial dar eficiência e benefícios aos nossos produtos, para que os clientes possam avaliar e decidir, é também importante ter processos produtivos, nos quais o desperdício e os resíduos finais sejam mínimos – o que pretendemos é que os materiais necessários e os processos de fabrico dos nossos produtos, sejam também eles eficientes e que no final do processo não gerem resíduos não reutilizáveis.

 

design sustentável casa de banho - Roca

 

O Eco-Roca é um projeto que se foca em soluções para a poupança de água. Que tecnologias e produtos se destacam na oferta da Roca? 

No que respeita a soluções de poupança de água, a oferta Roca está patente em diversos produtos.

Na solução W+W, onde temos o lavatório e sanitário numa só peça, incorporamos um sistema que permite utilizar a água da torneira para descarga na sanita, permitindo poupanças na ordem dos 50%;

Nas torneiras o sistema de abertura em frio, novos cartuchos internos e limitadores de caudal, permitem poupar água e energia (no aquecimento da água);

Temos também os nossos artigos (torneiras, dispensadores, secadores de mãos) que pelo sistemas internos de funcionamento, só funcionam quando é necessário, ou seja, neste caso só existe consumo de água e/ou energia, só acontece se estivermos a utilizar os artigos – a nossa gama de artigos TOUCHLESS

 

O conceito Roca Loves The Planet é destinado a todo o processo de produção. Como fazem a gestão dele, para ser mais sustentável? 

O compromisso com o Planeta faz parte da nossa filosofia e das nossas atividades diárias. Sob esta premissa, criamos o conceito “Roca Loves the Planet” que está presente em todos os processos de produção das nossas fábricas, bem como no desenvolvimento dos nossos produtos e nas atividades sociais da empresa.

Nos processos produtivos, temos o projeto Eco-Roca, que apresenta dois objetivos principais: redução nas emissões de CO2 e a gestão de processos industriais livres de resíduos através do nosso Programa Zero Waste, e assim fazer a necessária gestão dos processos com a intensão de ser cada dia mais sustentável.

 

A Roca tem a fundação We Are Water, que colabora com instituições como a Unicef e Save The Children. Qual a missão da fundação? Que resultados têm obtido?   

A Fundação We Are Water, é uma organização sem fins lucrativos, criada em 2011 com o objetivo de contribuir para a resolução dos problemas derivados da falta de água e saneamento no mundo. 

A Fundação We Are Water, tem duas vertentes, atuar e sensibilizar, assim promover o desenvolvimento de projetos que garantam o acesso à água e ao saneamento nas áreas mais carentes do planeta e, ajudar a difundir uma nova cultura da água que permita uma gestão sustentável dos recursos hídricos no mundo, e garanta o direito humano universal ao acesso à água e ao saneamento, necessários para uma vida digna e saudável.

Hoje, das colaborações com as ONG’s, fundações e agências das Nações Unidas, promovemos, até agora, 69 projetos em 26 países, que ajudaram mais de 1.812.500 pessoas na educação, na saúde e na melhoria de infraestruturas de acesso à água.

Engenheiro Jorge Vieira 

CEO da Roca Portugal

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Produtos Ecológicos Artesanais resume o que podemos encontrar na MadInCasa, mas como são criados estes produtos e quais são? Isso é o que vamos descobrir nesta entrevista.

Produtos Ecológicos Artesanais - almofada

 

A MadInCasa é uma loja online de artigos ecológicos, de design próprio, produzidos artesanalmente de forma ética, justa e sustentável. Como surgiu esta ideia? 

Não consigo definir um início, foi sobretudo uma forma de estar na vida com valores que me foram passados e que sempre fizeram parte de mim, o que me levou a registar uma marca e a lançar-me num negócio. Um dia tive esta ideia, acompanhada de fortes incentivos, de comercializar artigos que já produzia para mim, para familiares e amigos. Artigos que por questões ecológicas e/ou económicas faziam parte do meu dia-a-dia e que, pensei eu, poderiam também fazer falta a outras pessoas.

 

Quais os tipos de produtos da MadInCasa e qual a inspiração para eles? 

Os produtos têm duas vertentes principais: a substituição de descartáveis e a poupança económica.

Por exemplo: Não fazia sentido para mim continuar a comprar guardanapos de papel, que por muito baratos que fossem, estava a gastar dinheiro, a criar imenso lixo, a incentivar essa produção, etc., quando tinha uma toalha de mesa que não usava e podia cortá-la aos quadrados e fazer guardanapos. 

Aos poucos, vou questionando os meus hábitos e vou tentando melhorar o que para mim vai deixando de fazer sentido. Tenho ainda um longo caminho a percorrer!

 

Produtos ecológicos artesanais - madincasa

 

Utiliza restos de tecido para desenvolver os produtos. Como chega até eles? E os restos da produção também servem para os produtos seguintes?

A MadInCasa tem a versão Básica dos produtos e a versão Edição Especial dos mesmos.

Esta ideia de criar as Edições Especiais surgiu pela minha necessidade de, no início da marca, utilizar os restos de tecidos que tinha em casa criando assim versões dos produtos mais apelativas, não precisando por isso que comprar tecidos de padrões e criar coleções. Tive logo amigos a oferecer os restos que tinham lá por casa. Com isto pensei que poderia talvez alargar esse leque de oferta a todas as pessoas que já seguiam a MadInCasa e, qual não foi o meu espanto, houve e continua a haver imensa gente com restos de tecidos que se dispuseram a oferecer! 

Como, por muito que se aproveite, há sempre desperdício, e porque soube logo no início de uma marca que usava pequeninos restos têxteis para enchimento de bonecos para crianças, ofereci-lhes os meus. A partir daí, quando o atelier está lotado, lanço a doação para pessoas/artesãos/marcas.

O desperdício de linhas, por exemplo, serviu-me a mim para criar a ECOsponja. A serapilheira é desperdício, o tecido da Edição Especial também e o enchimento são os restos das linhas que sobram da produção dos outros artigos. 

 

Qual a durabilidade dos produtos? 

Depende muito da utilização. Todos nós temos hábitos diferentes. Com os Discos de Limpeza, por exemplo, eu uso um por dia e há quem use três ou quatro.

Neste caso, o importante é saber que um disco reutilizável pode equivaler a cerca de duzentos discos descartáveis. Incrível, não é?

Produtos Ecológicos Artesanais - almofadas

 

Qual o best-seller? Porque os clientes o preferem? 

O best-seller são mesmo os Discos de Limpeza, já fiz tantos, tantos!

É espetacular assistir ao número crescente de pessoas que, como eu, deixaram de ver sentido em continuar a comprar dos descartáveis. Usam os homens, as mulheres e até para limpeza dos bebés. 

 

Com a pandemia muitos consumidores mudaram os seus padrões de consumo. Sentiu algum impacto no negócio? 

A MadInCasa foi sempre de venda online. Sei que muita gente teve que se virar muito mais para esta forma de comprar. Isso notou-se na MadInCasa sobretudo na época de Natal.

 

produtos ecológicos artesanais - fruta

 

Tem uma iniciativa relacionada com livros. Gostaríamos de saber mais…

Tenho sim, e estou mesmo muito entusiasmada com esta iniciativa! Tenho livros meus, do meu marido, de familiares que mos deixaram, outros que encontro na rua em pilhas para o lixo… Livros de todo o tipo, todos os géneros, de várias línguas. Adoro livros, e muita gente adora livros. Por que não partilharmos os que já temos?

Por isso ando aos poucos a fotografar capas e a atualizar uma lista com todos os livros que tenho para poder fazê-los chegar a quem os quiser ler. A plataforma da MadInCasa permitiu-me concretizar esta ideia por ter também estas vertentes de sustentabilidade e economia circular. 

 

Que projetos e ambições tem para o futuro da MadInCasa? 

Apesar da situação atual ter já deixado em standby algumas novidades, a MadInCasa continua a fazer chegar a todos os que estão no caminho da mudança, alguns produtos essenciais para o seu dia-a-dia. Isso para mim é muito importante.

A ambição é divulgar e dar a conhecer ao máximo de pessoas possível, produtos, marcas e negócios que como o meu, nos mostram que é fácil mudar hábitos, que podemos fazer nós mesmos certos produtos, ou em última instância, comprar aquilo que precisamos sem prejudicar o ambiente como temos estado a fazer até aqui.

A MadInCasa nasce em Setembro de 2018 com a missão de levar a cada vez mais casas, alternativas mais ecológicas para a vida de todos. Sejam elas em formato de ideias, de produtos ou de práticas, mais responsáveis, mais éticas, mais sustentáveis.

A criadora da marca chama-se Joana, é de Lisboa e tem formação em Arquitetura e um curso de Design de Equipamento. Voltou a Lisboa, depois de ter vivido em França e Inglaterra, com esta ideia na cabeça, e é com muito amor e prazer que a põe em prática.

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Uma guitarra em cortiça parecia impossível, quando a madeira está instituída como o melhor material, mas João Rodrigues, um jovem designer com gosto pela música, não acreditou nisso. Miguel Araújo já não abdica da sua guitarra em cortiça nos concertos que dá. E o João ainda planta uma árvore, que acompanha, a cada guitarra vendida.

Músico e designer explica grande parte, mas não podemos deixar de perguntar: como surgiu a ideia da Mai’Land Guitars?

A Mai’land nasce de um projeto académico. Quando fiz a primeira guitarra estava a estudar e essa guitarra foi a materialização da minha tese de mestrado. Só em 2019 é que fui desafiado para continuar neste âmbito improvável que une a cortiça e a música. 

Eu gosto da cortiça e como designer sentia que o material merecia mais do que rolhas e lojas de souvenirs, portanto, aliado à crença de que um instrumento elétrico não deve ser responsável pelo abate de tantas árvores, pus mãos à obra e tentei revolucionar o mercado ao provar que com menos madeira também se fazem boas guitarras.

 

guitarra em cortiça - mai'land

 

O que caracteriza as guitarras da Mai’Land?

A Mai’land hoje já não se foca apenas nas guitarras, também fazemos malas em cortiça para instrumentos, mas o que nos caracteriza enquanto marca é o uso da cortiça em instrumentos.  Por outro lado, como não usamos tanta madeira como numa guitarra convencional, nem plástico nas malas, marcamos uma posição ao nível da sustentabilidade. Como marca queremos que, agora e no futuro, a ecologia seja algo que também nos caracterize.

 

Quais são os materiais utilizados e de que forma consegue chegar até eles?

As guitarras são constituídas maioritariamente por madeira e cortiça expandida. No corpo as madeiras que utilizamos variam entre o mogno, freixo ou outras espécies que tenham capacidades acústicas. Geralmente recorremos a madeireiros locais e raramente fazemos encomendas. Escolhemos o que existe em stock e que sirva o nosso principal propósito que é fazer som. É também nestes madeireiros e carpintarias que recolhemos restos de madeira que reaproveitamos para fazer outros componentes. 

Temos fornecedores diferentes para cortiça natural e para a cortiça expandida. Ambos estão sediados em Santa Maria da Feira.  

A relação que temos com os fornecedores é muito importante para o produto final. Fazemos questão de ir às fábricas ver o produto e sermos nós a escolher. Cruzar os nossos objetivos com a experiência de quem conhece os materiais há mais tempo. 

 

Que impacto estes materiais têm na guitarra para o músico?

A forma como o corpo é construído influencia as características da guitarra desde a escolha da madeira, a direção dos veios, a forma como são coladas as partes, a eletrónica e a qualidade do hardware. Tudo influencia e todos os componentes são importantes.  

Na prática as guitarras são mais leves, têm mais sustain (duração de uma nota) e acabam por ter um timbre próprio.  

Há também a relação muito particular do instrumento com um músico português por se tratar de uma guitarra que veicula tão bem valores culturais carregando uma certa Portugalidade.  

guitarra em cortiça - mala

 

Qual tem sido o feedback por parte dos músicos? Existe muita procura?

O feedback tem sido bastante positivo. Não é um caminho fácil porque há toda uma indústria sustentada pela obrigatoriedade de se construir guitarras 100% em madeira mas acreditamos que a consciencialização ambiental que existe noutras áreas também vai chegar aos músicos e a procura que temos tido mostra-nos que há efetivamente essa preocupação em comprar sem plástico e com menos pegada possível.

 

Das guitarras que já produziu até hoje, além da primeira, houve alguma mais especial para si? Porquê?

A guitarra mais especial que fiz até hoje foi a guitarra para o Miguel Araújo. Ele tinha testado um modelo semelhante em 2018, na altura para aprovação do trabalho da tese. A partir dessa guitarra, fizemos umas alterações para facilitar a utilização em palco e personalizamos o modelo com a assinatura do Miguel gravada no braço. 

Em 2020 entramos novamente em contacto e ele voltou a rever essa guitarra. Após um concerto muito especial ele acabou por ficar com a guitarra que mantém até hoje como seu principal instrumento.  

Foi assim que surgiu o modelo MAJ#00, um modelo único que replicamos numa edição limitada a 20 unidades. 

 

Guitarras em Cortiça - Miguel Araújo

 

Tem algum plano, ou objetivo concreto, definido para a Mai’Land?

O objetivo é crescer e marcar a nossa posição no mercado. Estamos a desenvolver mais modelos, tipologias de instrumentos e cases de transporte para mais instrumentos. Atualmente queremos fechar o nosso portfólio, definir os modelos que temos e montar uma estratégia de venda online onde o consumidor pode escolher o artigo e personaliza-lo a seu gosto. Por outro lado queremos poder ter guitarras em lojas físicas que se enquadrem no âmbito do projeto para poderem ser testadas por eventuais clientes.

 

A Mai’Land está sediada em Viana do Castelo, e muitos dos projetos que aqui apresentamos também estão fora dos grandes centros urbanos. A qualidade de vida e o meio envolvente têm impacto no resultado final das guitarras?

Sem dúvida, viver numa cidade sem a azafama de um grande centro urbano e a cinco minutos do mar, rio ou montanha é importante para cultivar a sensibilidade do slow design. O mundo está cada vez mais acelerado e para uma marca como a nossa, que se foca em valores ecológicos, na sustentabilidade e no afastamento da produção em massa, estar numa cidade saudável como Viana do Castelo é ótimo.  

Nós temos a política de plantar árvores consoante vendemos guitarras e para isso é fundamental estar perto delas para as regar e acompanhar o processo de crescimento. Não há melhor fonte de inspiração.

 

Quem quiser comprar uma guitarra Mai’Land, onde pode fazê-lo?

Atualmente fazemos guitarras por encomenda e a escolha do modelo, componentes e personalização é feita em conjunto com os músicos de forma bastante assídua. Para isso utilizamos as nossas redes onde nos podem contactar e pedir orçamentos, informações sobre os produtos ou solicitar um teste a uma guitarra. O processo de compra é acompanhado através de fotos que vamos enviando do processo de construção do instrumento. 

Em breve contamos ter um website com os modelos expostos e amostras de som para melhor entendimento da nossa gama.

 

 

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A Decathlon aposta no ecodesign como forma de ter uma oferta cada vez mais sustentável. No entanto, por serem uma grande multinacional, também quisemos saber um pouco mais, em questões relacionadas com os fornecedores, transporte e fim de vida dos produtos.

 

Ecodesign - mural sustentabilidade Decathlon

 

Como é que uma marca com a dimensão da Decathlon incorpora a sustentabilidade? 

A Decathlon tem no seu sentido: “Ser útil para as pessoas e para o planeta”, e na sua missão: “ Tornar o prazer e os benefícios do desporto acessíveis ao maior número de pessoas em Portugal, de forma sustentável”.

Pretendemos contribuir para um mundo melhor, mais saudável, mais ativo.

Para tal, tomamos medidas para fazer avançar os objetivos de Desenvolvimento Sustentável, nos quais somos capazes de atuar, e nessa linha de atuação,  lançámos um novo plano de transição com estratégias  de desenvolvimento sustentável ainda mais fortes entre 2020-2026. Neste, incorporamos os nossos valores:

  • Vitalidade;
  • Responsabilidade;
  • Generosidade;
  • Autenticidade

E congregamos a nossa estratégia em 3 pilares fundamentais:

  1. Desenvolver as pessoas;
  2. Preservar a natureza
  3. Criar valor sustentável. 

Estamos empenhados em colaborar com a comunidade para participar na ação climática e contribuir para um planeta mais verde.  Para tal, somos uma das cinco empresas iniciais que subscreveram o Compromisso para Consumo Ecológico da Comissão Europeia, integrado no Pacto Europeu para o Clima.

 

O que é o Ecodesign para a Decathlon? 

Quando somos responsáveis pelo design dos nossos produtos, podemos e temos a responsabilidade de redesenhá-los para terem menor impacto no meio ambiente.

Integramos a abordagem de ecodesign na nossa estratégia, que consiste considerar o meio ambiente nas primeiras fases do design e durante todo o ciclo de vida do produto. Trata-se de pensar como será possível reduzir o impacto do produto no meio ambiente ao longo de todo o seu ciclo de vida .

Um produto pensado (ou redesenhado) com uma abordagem de ecodesign continua a ser um produto que cumpre a mesma função de um produto concebido de forma clássica, tendo ao mesmo tempo uma vantagem ambiental: uma T-Shirt de corrida eco desenhada permanece acima de tudo uma boa t-shirt de corrida! 

A nossa abordagem de ecodesign é específica. As nossas equipas de design estabeleceram uma estrutura exigente para definir essa abordagem. Os produtos em causa devem cumprir um destes dois critérios:

  • O seu impacto ambiental deve diminuir em pelo menos 10% em relação ao modelo anterior, em pelo menos dois dos seguintes indicadores : alterações climáticas, poluição atmosférica, poluição da água e esgotamento de recursos;

ou 

  • Deverão justificar certas ações de design muito específicas: pelo menos 70% do peso do produto em poliéster reciclado, tecido com pelo menos 90% de algodão de agricultura orgânica, usar corantes que consomem menos água etc.

 

 

Temos objetivos claros para 2021: ter 100% da nossa oferta redesenhada para garantir que, até 2026, 100% dos nossos produtos disponíveis nas lojas físicas e online sejam ecodesenhados

 

 

Qual a importância das matérias-primas nestes produtos? Como é o processo de produção?

Relativamente às matérias-primas, temos muitos desafios. Por exemplo, na escolha de materiais alternativos, temos que ter a certeza de que um material que substitui outro é menos impactante, menos poluente. Para isso, contamos com estudos e testes externos, nos quais temos de garantir a credibilidade e independência dos resultados. 

Os produtos têm de responder a muitos requisitos técnicos e de qualidade. As alternativas nem sempre são tecnologias que já atingiram a maturidade no mercado. Por exemplo, usamos algodão orgânico para alguns dos nossos produtos, no entanto a disponibilidade de algodão orgânico no mercado é menos substancial do que o algodão cultivado convencionalmente

Sobre o processo de produção da Decathlon, trabalhamos em conjunto com os nossos fornecedores e partilhamos o mesmo desejo: oferecer produtos com a melhor relação valores/preço.

Um objetivo que deve ser alcançado em boas condições, onde todos se beneficiem de um ambiente de trabalho ideal. Para tal, os nossos parceiros têm o compromisso de garantir aos seus colaboradores um ambiente de trabalho de qualidade, baseado no respeito, no desenvolvimento das equipas e na preservação do meio ambiente.

 

Têm mais de 400 produtos ecodesenhados na vossa oferta. Qual o produto com maior procura?

Os nossos polares de caminhada são produtos ícones, no campo dos ecodesenhados. Redesenhados em 2013, para serem produzidos a partir de garrafas de plástico recicladas, abriram portas para muitos outros produtos das nossas outras marcas exclusivas que hoje incorporam este material.

Também para os praticantes de yoga, podem encontrar várias possibilidades tanto no vestuário, com a integração do algodão biológico e até mesmo no material por exemplo nos blocos de Yoga, com cortiça natural oriunda de Portugal. 

A oferta está em constante evolução, já são mais de 500 no início deste ano, através da inovação e desenvolvimento das nossas equipas, e poderão  ser encontrados produtos na maioria das desportos com as respetivas marcas: Nabaiji com a nataçãoEquitação com a Fouganza, Vela com a Tribord entre outros.
Todas os produtos estão identificados e disponíveis tanto nas nossas lojas como no nosso site decathlon.pt

 

ecodesign - Polar Decathlon

 

Qual a vossa visão e objetivos para os produtos ecodesenhados? 

Para praticar desporto precisamos dos produtos desportivos,  portanto só nos resta a opção de garantir que estes têm o menor impacto possível na natureza e são úteis para as pessoas. Conceber produtos com qualidade e duráveis é o primeiro princípio para a sustentabilidade.

Estamos cientes dos desafios climáticos e do esgotamento de recursos naturais, para tal temos as nossas equipas das marcas-paixão implicadas e mobilizadas para a ação.

Temos objetivos claros para 2021: ter 100% da nossa oferta redesenhada para garantir que até 2026, 100% dos nossos produtos disponíveis nas lojas físicas e online sejam ecodesenhados.

 

Os produtos ecodesenhados têm uma estratégia de preço diferente?

Não. A Decathlon esforça-se para proporcionar qualidade a preços sempre mais baixos em todos os produtos.

Somos criadores, produtores e distribuidores de produtos desportivos concebidos a partir de componentes exclusivos. Otimizamos continuamente a nossa organização para reduzir os custos ( transporte, logística, publicidade) e assim baixar os preços sem nunca comprometer a qualidade.

O nosso modelo de negócio está focado em oferecer produtos desportivos técnicos com preço justo, com o objectivo de ser acessível ao maior número de pessoas possível.

 

Têm uma etiquetagem ambiental, como uma classificação de A a E nestes produtos. No que consiste esta classificação? 

O objetivo da etiquetagem ambiental é que cada cliente possa fazer suas próprias escolhas de forma consciente, considerando todo o ciclo de vida do produto:

  • Escolha da matéria-prima;
  • Fabricação;
  • Transporte;
  • Fim de vida…

Corresponde ao desempenho ambiental de um produto, que é simbolizado por uma classificação A, B, C, D, E (A sendo a melhor classificação).

Ajuda a comparar produtos do mesmo tipo entre si (t-shirt, calças, mochilas, etc.). Por esta razão, os impactos ambientais são calculados usando 5 critérios:

  • Aquecimento global;
  • Esgotamento de recursos;
  • Poluição do mar;
  • Poluição da água doce;
  • Poluição do ar;

Esses impactos são avaliados ao longo de todo o ciclo de vida e cada fase tem impactos. Cada produto posteriormente recebe um valor para os diferentes indicadores e, em seguida, uma avaliação geral será exibida na internet e na loja.
Este sistema de classificação, já é encontrado comumente nos eletrodomésticos, e está agora a ser implantado nas nossas gamas.

É um trabalho em constante desenvolvimento, que iniciámos em 2014 com a integração de cálculos ambientais diretamente nas nossas ferramentas para promover a abordagem de ecodesign. Mais tarde em 2017, participámos na criação da base de dados ambiental têxtil com a agência de transição ecológica ( ADEME ), para torná-la acessível a todos, e tornar-se referência para o setor.

Desde 2019, disponibilizamos a etiquetagem ambiental em mais de 3.500 produtos DECATHLON.

O sistema construído com a ADEME foi validado pelo governo francês que decidiu incluí-lo na lei anti-resíduos para uma economia circular, promulgada no início de 2020.

Isto quer dizer que este desenvolvimento da Decathlon será  replicado e tornar-se-á uma obrigação para as empresas têxteis nos próximos tempos, em prol de uma maior transparência e clareza sobre os impactos dos produtos no meio ambiente.

 

A distribuição é um dos grandes desafios ambientais. Sendo uma multinacional, como gerem isto? 

Como desportistas, o planeta é o nosso terreno de jogo, e temos noção que a produção, o transporte, o uso e a distribuição dos nossos produtos têm impacto no meio ambiente. Temos a responsabilidade de agir rapidamente.

Para tal, em 2019, assumimos um compromisso em dois pontos fundamentais:

  • Reduzir as nossas emissões de CO2 em 75% no nosso consumo de energia e ar condicionado. 
  • Apoiar os nossos fornecedores e parceiros na definição dos seus próprios objetivos de redução de impacto.

Para validar a relevância desses compromissos, trabalhámos com um grupo de especialistas externos e cientificamente reconhecidos: Science Based Target .

Esta iniciativa validou as nossas trajetórias de redução das emissões de CO2, em linha com as ambições do Acordo de Paris. Estes compromissos são acompanhados por um objetivo global para todas as nossas atividades: reduzir as emissões de CO2 em 40% por produto vendido entre 2016 e 2026.

Entendemos que ainda há muito a ser feito para reduzir nosso impacto ambiental e estamos determinados a seguir em frente rumo a mudanças sustentáveis. 

 

Fim de vida produtos

 

Como gerem o fim de vida dos produtos? Têm alguma estratégia para a reciclagem? 

A economia circular é uma das nossas prioridades e temos vários projetos para prolongar o tempo de vida ou dar novas vidas aos nossos produtos. Destacamos:

– O  Trocathlon, que já realizamos há vários anos em Portugal, e em 2020 permitiu a cerca de 1000 clientes poderem vender os seus produtos desportivo usados  to . 

– A Segunda Vida, para os artigos devolvidos, danificados ou de exposição, que reparamos e colocamos à venda com preço de oportunidade e de forma permanente nas zonas dedicadas e sinalizadas em qualquer loja.  Desde Setembro foram recuperados mais de 1500 artigos que, apesar de não estarem novos, continuam em condições de serem utilizados. 

– O Serviço de Aluguer, onde o cliente pode experimentar, para já, 10 desportos sem que tenha de comprar o material, permitindo descobrir novas práticas desportivas. No último semestre mais de 1300 clientes usufruíram deste serviço.

– O Serviço pós-venda da Decathlon, que para além de aconselhar e acompanhar, repara artigos adquiridos pelos clientes. Em 2020 foram reparados mais de 9000 produtos.

Várias outras estratégias foram lançadas pelas nossas equipas e também são partilhadas com os parceiros que escolhemos para estar ao nosso lado. Por exemplo, desde Julho 2019, lançámos o Hang Up, projeto de reciclagem e reutilização de cabides que permitiu-nos evitar a destruição de 61 toneladas de plástico até Dezembro de 2020.

Neste mesmo mês, associamo-nos à Too Good to Go no sentido de combater o desperdício alimentar. Ainda no final de 2020 integramos o projeto NextLap da Beta-I, com expectativa de em conjunto com diferentes startups, encontrar as melhores soluções de inovação para a reciclagem de pneus. 

Ainda antes do fim de vida dos produtos, as nossas equipas em conjunto com as comunidades onde estão inseridas também têm tentado colaborar em iniciativas de upcycling, assim como em ações de doação de artigos a entidades e organizações que promovam a inclusão social através do desporto. 

A última solução para os produtos é a destruição, que só acontece quando, nenhuma das ações partilhadas,  podem ser colocadas em prática.

Cada uma destas iniciativas foi liderada pelas nossas equipas e estamos totalmente confiantes no seu intraempreendedorismo para seguirmos o caminho da sustentabilidade. 

Ainda há muito por fazer, mas estamos empenhados em garantir que o desporto pode contribuir para um mundo melhor.

 

Um desafio da sustentabilidade é o conhecimento dos consumidores. Como comunicam os produtos ecodesenhados? 

Para a Decathlon, a comunicação associada à sustentabilidade, onde se inclui a comunicação sobre os produtos ecodesenhados, deve colocar a informação no objecto da sua estratégia. 

Os objetivos são:  

  • Responder e dialogar, de forma sincera e transparente sobre os nossos impactos, para esclarecer as dúvidas dos nossos clientes e utilizadores; 
  • Democratizar novas formas de consumo e ajudar nossos clientes a fazer escolhas de consumo em consciência e entendendo o impacto de suas escolhas (em segunda mão, ecodesign …);
  • Consciencializar pedagogicamente  as nossas equipas, clientes e comunidades a adoptar estratégias sustentáveis no seu dia-a-dia de prática desportiva (plogging, ecomobilidade…).

Comunicamos, com o produto como herói em destaque, com a sua ficha técnica, no site e na loja, nas redes sociais, no emailing, na app, em todos os nossos meios. Assumimos um tom informal, do desportista, mas sincero. Os compromissos e resultados das nossas ações podem ser encontrados e comprovados nos relatórios de sustentabilidade.

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Sónia Pereira da Silva está na génese da Estratégia da Sustentabilidade da Santa Casa da Misericórdia, após vários anos a trabalhar em comunicação. Conhece o seu percurso e o trabalho que está a ser desenvolvido na Unidade de Sustentabilidade da Santa Casa.

Com formação em Comunicação, Relações Públicas e Jornalismo, e uma larga experiência em departamentos de Comunicação, como chega o desafio da Sustentabilidade? 

Diria que foi um encontro feliz e oportuno e para o qual contribuíram muito as pessoas que fui encontrando na minha vida profissional, e espero, a confiança no meu trabalho. Quando entrei na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, no já longínquo final de 2009, o meu trabalho passou a focar-se nas áreas da assessoria técnica e da responsabilidade social. Em 2012, a Administração lançou ao departamento o desafio de desenvolver uma estratégia institucional para a sustentabilidade, e a história começou formalmente aí, com a minha integração nessa pequena equipa fundadora e, desde 2013, a dirigir a Unidade de Sustentabilidade.

 

Para uma profissional com vasta experiência em Comunicação, quais são os maiores desafios na transição para o planeamento estratégico de uma área de Sustentabilidade e Responsabilidade Social? Que conselhos dá a quem tenha a ambição de trabalhar em sustentabilidade? 

A sustentabilidade na Santa Casa, trabalhada numa perspetiva transversal, é algo muito recente na vida da instituição. Só para dar uma ideia, comemoramos este ano 523 anos de atividade.

Como área nova, um desafio foi, desde logo, afirmar-se e mostrar-se como relevante para o modelo e práticas de gestão. Esse facto, somado à diversidade das áreas de intervenção da Casa, que vão desde a ação social e a saúde, à gestão de património imobiliário e à exploração dos jogos sociais, só para citar algumas, e à especificidade e complexidade das atividades de cada uma, tornou muito desafiante conseguir-se fazer um planeamento estratégico e transversal, definindo objetivos e metas comuns para os quais todos os serviços contribuam.

É um caminho que sempre encarámos como uma maratona, às vezes com passos atrás, e nunca como uma corrida curta. Talvez por isso, o primeiro conselho que daria a quem tenha a vontade de trabalhar em sustentabilidade, seria a de fortalecer a sua resiliência, porque vai precisar de recorrer a ela muitas vezes.

Muito do trabalho em sustentabilidade não tem resultados imediatos e visíveis (afinal, trabalhamos em prol das gerações futuras e de um planeta melhor), e por isso, pode haver alguma dificuldade em fazerem-se passar mensagens e em evidenciar os benefícios de certos investimentos.

É preciso não desistir, arranjar formas mais criativas de mostrar a relevância das propostas e trabalhar sempre numa perspetiva colaborativa.

 

Como é o dia-a-dia de uma diretora de Sustentabilidade e Inovação? Quais as principais tarefas, metas e KPIs? 

A pandemia COVID-19 e o teletrabalho trouxeram novos desafios à gestão de equipas, mas uma coisa que posso desde já dizer sobre o meu dia-a-dia é que nunca é monótono.

A nossa Unidade de Sustentabilidade tem duas grandes áreas de competência:

  • Responsabilidade Social
  • Gestão Ambiental

Cada uma delas trabalhando múltiplos temas, e em simultâneo, e pessoas com vários perfis.

Sinto-me privilegiada por trabalhar com uma equipa tão diversa e multidisciplinar, com quem tenho aprendido tanto, e pela abertura que tenho sentido da parte das minhas chefias em relação à apresentação de novas propostas e ideias. Nem todas saem do papel, e em alguns casos ainda bem, mas essa liberdade tem sido um grande motor de promoção da nossa criatividade e resiliência.

Trabalhar numa área como a sustentabilidade, em que tantas matérias, sociais, ambientais, éticas, económicas, estão interligadas, no plano mais prático da gestão diária, obriga por vezes a uma certa «dança» entre assuntos e projetos, mas é algo que me agrada.

Num momento estou a falar com uma pessoa da equipa sobre ações na área da diversidade e inclusão ou a colaborar na preparação de uma iniciativa de responsabilidade social, e no momento a seguir a responder a e-mails relacionados com a recolha de resíduos, ou a analisar indicadores de eficiência energética e hídrica.

Neste momento, a nossa grande prioridade transversal é a elaboração do Relatório de Sustentabilidade 2020 e quase toda a equipa está envolvida nesse projeto conjunto da sua preparação, desde a recolha e sistematização dos dados ambientais, à reunião dos contributos dos outros serviços, à elaboração do texto, mas ao mesmo tempo cada um desenvolvendo outras ações nas suas áreas de trabalho.

estratégia da sustentabilidade na santa casa da misericórdia de lisboa

 

Antes de trabalhar na Estratégia de Sustentabilidade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), que viria a dar origem à Área de Sustentabilidade e Inovação, participou num projeto de Responsabilidade Social, o REPARAR.

Pode falar-nos um pouco sobre este projeto e a importância dele para si e para a SCML? 

A REPARAR foi um projeto de responsabilidade social que ajudei a criar em 2011 e pelo qual, mesmo depois destes anos todos, mantenho um carinho muito especial.

Basicamente, consistia em realizar campanhas de obras de reparação interior em casas de pessoas idosas carenciadas apoiadas pela área de ação social da Santa Casa com o objetivo de melhorar a sua qualidade de vida e de segurança doméstica.

As reparações eram custeadas por empresas que aderiam ao projeto e feitas por equipas de colaboradores seus em regime de voluntariado ao longo de um dia, depois de um trabalho de preparação por uma empresa de construção civil.

Era um projeto muito trabalhoso, porque a campanha de intervenções nas casas, cerca de 30 em cada edição, era realizada num prazo de 2 meses, com várias habitações a serem intervencionadas em simultâneo, mas extremamente envolvente e gratificante. O impacto na vida das pessoas idosas que beneficiou era imediato e visível.

Falo de coisas às vezes tão simples como substituir banheiras por bases de duche, eliminar desníveis entre divisões, reparar humidades, substituir candeeiros ou pintar paredes, mas que aquelas pessoas não tinham nem meios económicos nem desembaraço para contratarem.

Foi um projeto muito importante para mim e marcou o meu despertar para os temas da responsabilidade social e da sustentabilidade, em todas as dimensões. Como seja o da necessidade de se criarem cidades e comunidades sustentáveis, inclusivas e acessíveis, um desígnio totalmente alinhado com a missão social da Santa Casa.

 

Numa instituição da dimensão da SCML, e com o tipo de atividade que tem, as questões ambientais, nomeadamente de eletricidade, água e resíduos, são um desafio para gerir.

Que estratégias têm implementado e que resultados têm obtido? 

São efetivamente um desafio, acrescido pelo volume e diversidade da nossa atividade, mas também pela heterogeneidade dos nossos edifícios e do tipo de utilização.

Temos enfrentado esse desafio definindo e aplicando medidas transversais, para um maior alcance e impacto.

Na eletricidade, além de definirmos requisitos de sustentabilidade para o fornecimento de energia elétrica nos concursos públicos, temos investido em medidas de mitigação de energia reativa, na substituição de iluminação e no investimento em sistemas de produção de energia renovável, além da comunicação e sensibilização interna.

Na água, destacaria sobretudo a nossa adesão ao sistema Waterbeep da EPAL, que é o nosso maior fornecedor de água, que nos tem permitido monitorizar os consumos e controlar fugas de água em todos os edifícios localizados em Lisboa. Só em 2019, através desta monitorização, que é diária, e de uma atuação mais célere para controlo dos consumos atípicos, conseguimos evitar custos adicionais na ordem dos 60 mil euros e o desperdício de mais de 20 milhões de litros de água.

Em relação à gestão dos resíduos, depois de um longo trabalho de identificação de todos os tipos de resíduos produzidos e de montagem de um sistema de gestão interna e com operadores de resíduos, o nosso maior foco atual e futuro será na prevenção da produção de resíduos, que é o mais difícil de conseguir, no seu encaminhamento preferencial para destinos de reciclagem e valorização, e na identificação de formas alternativas do seu encaminhamento, procurando soluções que sigam os princípios da economia circular. 

 

Como definem os indicadores a serem melhorados e como realizam o controlo deles?

Quando começámos a trabalhar na sustentabilidade e definir uma estratégia, fizemos um grande trabalho de auscultação interna e de diagnóstico. Foi uma etapa fundamental para estabelecer o ponto zero e decidir os passos seguintes.

Na altura, os indicadores que obtivemos permitiram-nos perceber, por exemplo, que a área ambiental, e em particular a área de gestão de resíduos, carecia de uma intervenção profunda e centralizada. Essa tornou-se uma das nossas prioridades e orgulha-me olhar par trás e ver o percurso que já percorremos. 

Mas, de diferentes formas, seja via o estabelecimento de parcerias e trabalho conjunto com outras organizações de referência na área da sustentabilidade, seja através dos referenciais que seguimos, como o Global Reporting Initiative, e dos próprios processos de gestão de partes interessadas, temos sempre procurado fazer diagnósticos periódicos e a aferir quais são as nossas necessidades de intervenção ou onde existem oportunidades de melhoria.

Os indicadores são definidos em conjunto com outros serviços, nomeadamente o responsável pela estratégia e planeamento global, e são incorporados, sempre que possível e aplicável, no ciclo de gestão, com um plano de ação e de monitorização. 

 

estratégia da sustentabilidade - sónia pereira da silva

 

O apoio à comunidade é sobejamente reconhecido à SCML, mas especificamente na área da sustentabilidade entregaram 4,5 milhões de euros em apoios e subsídios a boas causas de outras entidades.

Pode falar-nos um pouco sobre estes apoios? 

A Santa Casa tem uma grande tradição de apoios a boas causas. Mais do que ser resultante de uma estratégia de sustentabilidade e responsabilidade corporativa, é algo que está intrinsecamente ligado à sua missão e fins estatutários.

Apoiar outras organizações e projetos e ações afins ou complementares às nossas atividades, é uma forma de amplificarmos o alcance do nosso trabalho e de contribuirmos para o fortalecimento do ecossistema de organizações sociais e da sociedade civil.

Um exemplo desses apoios é o Fundo Rainha D. Leonor, através dos quais apoiamos financeiramente outras misericórdias do país a conseguirem concretizar os seus projetos de reabilitação ou criação de novos equipamentos sociais, garantindo que conseguem dar uma melhor e maior resposta às populações que servem.

Outros são os Prémios Santa Casa Neurociências, criados em 2012 e que têm contribuído para promover a investigação científica nacional na área das biociências, e as iniciativas de apoio ao empreendedorismo.

 

Que tipo de cuidados têm definidos para os vossos colaboradores e que importância têm estas ações num Plano de Sustentabilidade? 

Há um conjunto muito significativo de benefícios destinados aos colaboradores, sejam ativos ou reformados, ampliados ao longo dos últimos anos, sendo que em alguns casos abrangem também os seus familiares, nomeadamente os filhos.

Dois dos apoios mais recentes que posso citar são o seguro de saúde, que foi atribuído a todos os colaboradores efetivos, e a disponibilização de consultas de psicologia. 

Somos cerca de 6000 trabalhadores, uma significativa parte dos quais com contacto direto diário com clientes e utentes, nomeadamente nos equipamentos sociais e de saúde. Por isso, assegurar a segurança e o seu bem-estar e promover a sua contínua valorização são eixos fundamentais da nossa sustentabilidade que reforçaremos sempre.

 

Para empresas que pretendem iniciar, ou iniciaram, um caminho mais sustentável, um dos desafios é o controlo dos fornecedores. Sendo esta uma área de competência do Departamento liderado pela Sónia na SCML, que exemplos pode apresentar da vossa atuação? 

A Santa Casa está vinculada ao Código dos Contratos Públicos, que sendo um referencial legal, define regras para todas as etapas da formação dos nossos contratos, incluindo o controlo dos fornecedores e da execução dos contratos.

Nesta matéria, e na minha experiência, sobretudo, de gestão de contratos na área ambiental, o esforço tem sido no sentido de continuamente clarificarmos e reforçarmos os requisitos da prestação dos serviços, no sentido de os alinhar com as nossas diretrizes ambientais e os nossos compromissos, e de fazermos um controlo muito próximo da qualidade dos serviços prestados.

Paralelamente, colaboramos com os outros serviços na identificação de critérios ecológicos que possam ser incluídos em aquisições de bens e serviços, seguindo os princípios das compras públicas ecológicas. 

 

Para finalizar, sendo a Sónia uma profissional de referência na Sustentabilidade em Portugal, como tem visto a evolução do tema para as pessoas e empresas no nosso país? O que antecipa que venha a acontecer nos próximos anos? 

A evolução tem sido exponencial. Mesmo que ainda estejamos muito no início do caminho de um futuro sustentável, noto uma diferença absoluta na forma como a sustentabilidade é hoje abordada no contexto organizacional em relação há poucos anos.

Quando comecei a trabalhar nestes temas, a pressão para uma organização promover a sua sustentabilidade vinha dos poucos profissionais da área e de académicos e a comunicação era muito unilateral.

Hoje em dia, na minha opinião, um dos grandes motores da promoção da sustentabilidade organizacional são os colaboradores, que exigem que a sua organização ou empresa seja muito melhor, que tenha um propósito e não um apenas um negócio.

A pandemia COVID-19 veio acelerar muitas tendências e alterar a direção de outras, e estamos em plena mudança. Na área da sustentabilidade, tenho muita esperança de que os temas sociais e éticos, da diversidade, da empatia e da tolerância, entre outros, ganhem cada vez maior projeção e estejam presentes de uma forma séria e consequente nas agendas das empresas e no seu propósito de criação de valor social.

Sónia Pereira da Silva

Diretora da Unidade de Sustentabilidade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

Iniciou a sua carreira profissional em 1998, ainda enquanto estudante, no Instituto Politécnico de Coimbra, onde trabalhou na área da comunicação institucional. Entre 2000 e 2004 assumiu as funções de responsável do seu Gabinete de Comunicação e Imagem, coordenando as atividades de comunicação institucional e assessoria de imprensa.

Em 2004 assumiu o cargo de coordenadora do Gabinete de Comunicação e Imprensa do organismo público central responsável pela promoção da segurança e saúde no trabalho e inspeção das condições de trabalho, à altura o Instituto de Desenvolvimento e Inspeção das Condições de Trabalho. Durante os 5 anos seguintes em que trabalhou na área da segurança e saúde no trabalho, coordenou toda a atividade de comunicação institucional, de publicidade e de assessoria de imprensa.

Em 2009 foi assessorar o Departamento da Qualidade e Inovação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, uma área nova da instituição. Foi neste contexto que participou na estruturação e operacionalização da REPARAR – Ação de Voluntariado de Reparações Solidárias. No início de 2012 integrou a equipa do departamento responsável por estruturar e operacionalizar a Estratégia de Sustentabilidade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. No final do mesmo ano, assumiu a direção da recém-criada Unidade de Sustentabilidade e Inovação, o serviço responsável por impulsionar a sensibilização e mobilização para a sustentabilidade dentro do universo da Santa Casa. 

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Duas amigas, com largos anos de experiência no mundo da moda, decidem começar a sua marca em plena pandemia.

O que as diferencia? Usam restos de fios das grandes marcas, para criar camisolas feitas por tricoteiras em Portugal. Lê tudo na entrevista.

 

Quem é e como surgiu a Thinking G? 

Thinking G foi criado por duas amigas, daí a confiança e suporte ser o núcleo da companhia.

Muitos de nós, durante a pandemia, tivemos mais tempo para refletir sobre as metas da nossa vida e repensar os nossos valores. Nós tivemos uma ideia de criar uma marca comercial de moda, contudo sabíamos desde o princípio que não será só mais uma peça de roupa no mercado da moda.

Nós acreditamos que tudo que criamos deve ter um significado. A principal e primeira ideia estava relacionada à produção sustentável. Ambas trabalhávamos na indústria da moda, por isso sabíamos que usualmente as marcas não utilizam os seus tecidos ou os seus fios de lã até ao fim, existem sempre sobras. Depois de encontrarmos os parceiros, a ideia foi completada e a Thinking G nasceu na forma com agora a vemos.

 

moda com restos de fios

 

Alguém que veja pela primeira vez a Thinking G, que percepção ambicionam que tenha imediatamente? 

Para aqueles que vêm a peça de Thinking G pela primeira vez, nós gostaríamos que olhassem além.

Queremos que as pessoas vejam o produto de alta qualidade e todo o trabalho para de trás dele. Nós gostaríamos que esta peça faça as pessoas perceberem que uma camisola de fio de lã natural pode substituir 4 camisolas de poliéster de produção de massa, e que uma peça manualmente feita não quer obrigatoriamente dizer que está fora de moda.

Claro que queremos que as pessoas compreendam que uma certa atitude consumista não prejudica, mas ao contrário, pode ajudar a planeta. Todavia Thinking G é acima de tudo um lindo produto de moda, por isso que tal o simples “wow” com primeira impressão?

 

A Thinking G assume uma missão de desperdício zero na produção de roupa. Podem explicar-nos como o fazem?

THINKING G – a marca que dá às sobras a atenção que elas merecem. Acreditamos que o nosso conceito principal merece atenção e deveria tornar-se numa prática amplamente usada a nível mundial.

Nós usamos as sobras dos fios quais compramos das marcas de luxo ou de fábricas que fabricam para tais. Infelizmente, 1-2 kg das sobras do fio podem ficar armazenadas para sempre, mas nós ficamos felizes de lhes poder dar uma segunda vida.

Após ter comprado os fios, os mesmos têm de ser limpos e dobrados para ficarem prontos para as nossas artesãos.

Desperdício zero na produção mundial pode parecer uma utopia por agora, a qual não nos impede de dar os primeiros passos para o realizar. 

Tanto as marcas como as fábricas seguem a ideia de redução de desperdício ou simplesmente querem livrar-se das suas sobras, geralmente ficam felizes em colaborar.

 

moda feita por tricoteiras com restos - thinking g

 

Em relação à produção, que acreditamos possa ter especificidades, como a asseguram?  

Nós desenhamos os modelos em Paris, mas não os fazemos. Trabalhamos com senhoras tricoteiras, que fazem as malhas para nós cá em Portugal. 

Trabalhamos exclusivamente com o fio natural: alpaca, caxemira, merino, lã.

O fio comprado é indicado para trabalhar em máquinas e daí ser demasiado fino. Então tem de ser dobrado para tricotar à mão (pode se fazer manualmente ou com a máquina especial).

Depois passamos o fio dobrado à artesã, que normalmente demora de 20 a 30 horas para fazer uma peça.

 

Que impacto tem para a cliente a utilização de sobras de fio na produção das peças de roupa, no conforto e durabilidade?

Os materiais que usamos para fabricar as nossas roupas são fundamentais para honrar o valor da nossa marca. Nós colaboramos com marcas de luxo e fabricantes de roupa ao comprar os restantes fios de lã, os quais eles não planeiam usar para as próximas coleções.

O montante que compramos varia de 800g até 5 quilos por fio, que pode ser considerado uma sobra à escala de uma grande produção, mas é um puro tesouro para nós e para o cliente. Por vezes é suficiente para criar só um modelo que significa que podes ser a proprietária de uma peça que é única. 

 

thinking g - moda com restos

Como caracterizam as vossas peças, para que tipo de mulher são?  

A mulher Thinking G é uma mulher atenciosa! A mulher que aprecia qualidade sem sacrificar o estilo.

Ao mesmo tempo ela não corre atrás das tendências da moda, mas prefere ser a possuidora da uma roupa que vai durar através do tempo. Ela valoriza a exclusividade, pois cada peça Thinking G manufaturada não pode ser copiada.

 

De que forma a parte social está incorporada na Thinking G? 

Nós tentamos não só ser ambientalistas, mas também socialmente responsáveis ao apoiar a comunidade das mulheres de várias maneiras.

Em conjunto com a nossa equipa de tricoteiras, nós produzimos roupas em Portugal. Leva horas de trabalho de precisão e dedicação para criar uma peça manualmente tricotada. Pode ser o trabalho a tempo inteiro para algumas tricoteiras ou o tempo parcial para outras, nós ficamos felizes por encorajar o seu trabalho ao pagar-lhes um valor justo.  

Também cooperamos com a “Woman Foundation”, que apoia mulheres que sofrem de violência doméstica, ao providenciar com suporte jurídico e financeiro. Nós por vezes queremos ajudar, mas não sabemos como fazê-lo. As nossas clientes podem encontrar informação mais detalhada e contatos no nosso website

 

São uma marca que nasceu em plena pandemia, que todos os estudos indicam esteja a marcar mudanças no tipo de consumo das pessoas. Como imaginam o futuro da moda e quais as expectativas da Thinking G? 

O mundo da moda está a mudar drasticamente neste momento. Apesar de cada marca estar a proclamar a sustentabilidade, por vezes essas declarações são falsas, mas também existem muitas marcas que realmente mudam a atitude delas e lançam iniciativas ambientalmente e socialmente responsáveis.

Há cada vez mais plataformas para marcas sustentáveis, mais bloggers a apoiar a comunidade, e por último, mas não menos importante – nós começamos a ter clientes que se preocupam com estes ideais. Estes clientes estão dispostos a comprar roupa feita eticamente, concluindo que não é uma questão de grande mudança na sua atitude, mas somente uma simples escolha de roupa que ao mesmo tempo se torna numa entrada para algo maior. Como uma passagem de “Thinking Good” para “Thinking Global”.

Thinking G nunca será enorme e não é esse o nosso objetivo. Nós sonhamos com uma produção com o mínimo de desperdício e sobre uma comunidade das mulheres que partilham os nossos valores.

Nós usamos o hashtag que nos ajuda a identifica-las #spottinggthinkers e estamos felizes ao ver esta comunidade a crescer. 

Viktoria and Liliia

Fundadoras da Thinking G

Duas personalidades diferentes com caminhos muito parecidos. Ambas tiraram o Master degree em tradução em Kyiv, Ucrânia, onde aprenderam varias línguas estrangeiras e ambas continuaram os estudos e tiraram o outro degree em Marketing das Industrias de Luxo em Paris, França. As graduadas continuaram os seus estudos ao trabalharem em retalho e venda por grosso para grandes marcas de moda e também para independentes desenhadores de moda contemporâneas.

Em março 2020 estava mais do que na altura de dar o passo seguinte na carreira para ambas, para ver o que pode nascer de uma longa e duradora amizade – e já em Novembro 2020 a marca Thinking G foi lançada.

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A The Natural Affair comercializa suplementos alimentares naturais, mas somente marcas que têm uma missão no mundo, seja de impacto ambiental, seja de causas sociais. Isto tudo nasceu de uma missão da própria fundadora, Marta Puga, que entrevistámos.

the natural affair - suplementos alimentares

 

Como nasce este “affair” com produtos naturais?

O nosso affair com produtos naturais já vem de longe mas sofreu um impulso definitivo com a pandemia.

O primeiro confinamento, em Março de 2020, trouxe-nos uma disponibilidade de tempo que antes não tínhamos e deu-nos a possibilidade de investigarmos um pouco mais as razões dos desequilíbrios que estamos a promover na nossa relação com a natureza. Esta procura trouxe-nos muitas respostas que se sobrepõem, mas que genericamente entroncam nos nossos hábitos de consumo e nos desequilíbrios que eles geram, com resultados que não nos são favoráveis a médio e longo prazo.

Juntamente com as últimas viagens que tínhamos feito, por via das quais assistimos a uma descaracterização e erosão completa de algumas culturas e de alguns locais, estas respostas trouxeram-nos uma maior consciencialização sobre o contributo que todos temos de dar, maior ou menor, para reequilibrar a nossa relação com a natureza.

Como adoramos a diversidade com que o nosso planeta nos brinda, nos seus diversos planos e magnitudes, e como queremos continuar a poder desfrutar dela, entendemos que teríamos de dar também o nosso contributo adicional.

 

Quais os principais benefícios dos produtos que comercializam?

Há uma multiplicidade de benefícios associados aos nossos produtos. Mas neste momento destacaríamos todos os produtos que contribuem para o reforço do sistema imunitário e que ajudam a solucionar problemas de depressão, stress e ansiedade, bem como distúrbios de sono.

 

Vários estudos indicam que há uma tendência para aumentar o consumo destes produtos. Confirmam? Quais as principais alterações que destacam?

Sim, temos assistido ao longo dos últimos anos a uma alteração acelerada das filosofias de vida, com uma transferência da abordagem tradicional ocidental focada na cura (normalmente com recurso a fármacos) para uma abordagem mais focada na prevenção, bem-estar e equilíbrio, abordagem essa tradicionalmente prevalecente nas culturas orientais.

Esta alteração de hábitos está muito relacionada com a evolução do nosso estilo de vida, cada vez mais agressivo, que acaba por gerar desequilíbrios e distúrbios que depois devem ser compensados com suplementação.

Mais importante, o consumidor tornou-se muito mais consciente dos impactos que os seus hábitos de consumo têm ou podem ter na sua vida, sejam positivos ou negativos. Tornou-se mais informado e mais exigente e recorre cada vez mais a produtos que contribuam positivamente para o seu bem-estar e sem efeitos nefastos ou adversos não só para a sua saúde como também para a comunidade.

 

suplementos alimentares - the natural affair

Em que medida a sustentabilidade está presente nos produtos que comercializam?

A sustentabilidade é um dos pilares do nosso negócio e procuramos que se traduza sempre em algo, seja pequeno ou grande. Trabalhamos com empresas que têm essa preocupação e responsabilidade, patrocinando também causas sociais e comunidades locais.

A sustentabilidade no seu conceito mais lato, está presente em toda a cadeia de produção e logística:

  • desde a primeira semente lançada,;
  • passando pela forma de cultivo;
  • pelo controlo das colheitas;
  • passando também pelos invólucros utilizados para embalar e encapsular os produtos;
  • pelos meios de transporte utilizados;
  • terminando na entrega ao consumidor, no embalamento dos produtos e finalmente no benefício financeiro que se retira do negócio e se devolve à comunidade.

Os nossos fornecedores, com maior ou menor intensidade, apresentam sempre alguma distinção nesta vertente face aos seus concorrentes sendo esse aliás um dos nossos critérios de seleção. Seja porque recorrem ao cultivo dos ingredientes em pequenas quintas orgânicas, sem químicos, fertilizantes ou pesticidas seja porque oferecem barras nutricionais à Action Against Hunger por cada embalagem que vendemos, seja porque pagam o preço das matérias primas a um valor 25 vezes superior ao de mercado para financiar projectos integrados de etno-desenvolvimento na Amazónia, seja porque combatem o desperdício do plástico e financiam projectos e instituições locais e globais como o Climate Council, 1% For the Planet ou o Black Lives Matter, seja porque aboliram o transporte aéreo, seja porque recolhem e reciclam as embalagens que produzem, etc.

Os exemplos são diversos e esta informação está disponível online tanto nas nossas redes sociais (@thenaturalaffair) como no nosso blog (thenaturalaffair.club).

Na The Natural Affair tampouco deixaremos de fazer a nossa parte e iremos lançar brevemente um projecto através do qual os nosso clientes poderão contribuir juntamente connosco para um conjunto de causas, directamente em Portugal.

 

Qual o vosso “hero product”, isto é aquele produto de excelência ao nível da qualidade que aporta?

Há produtos ou marcas que pela projeção internacional e mediática podem chamar mais a atenção dos consumidores como é o caso das misturas YourSuper (mencionada na revista People, Woman’s Health e Real Simple, etc), cujos produtos acabam de ser incluídos na Cologne List para atletas de alta competição, o caso dos Chás funcionais da Mission (aclamados pela  Runners, Evening Standard, The Times, The Guardian, Forbes, Women’s Health e Womens’s Running)  que substituem as tradicionais bebidas desportivas e energéticas ou as algas premium da Abyssea (Marie Claire, Marie France, WMag, etc).

Mas temos no nosso portfolio outras marcas menos conhecidas mas igualmente com produtos de qualidade premium e que constituem excelentes (e acreditamos que melhores) alternativas à tradicional oferta de mercado. Serão exemplo os produtos da Guayapi, mais exóticos e menos comuns entre nós e os produtos da Rohtos Labs. Resumidamente, não existe um hero product mas sim um hero concept, baseado na integridade e qualidade dos ingredientes dos nossos produtos.

 

Quais as categorias de produtos que têm registado maior procura?

A procura é diversa mas neste momento especifico que estamos a viver há muita ansiedade, stress, distúrbios de sono e depressão. Estes produtos estão a ter neste momento uma procura maior.

Há também muita procura por produtos que permitam melhorar a performance intelectual pois há muitas pessoas confinadas em casa com cargas de teletrabalho continuas muito elevadas às quais devemos acrescentar a gestão familiar.

Há também uma procura elevada por produtos que possam compensar a falta de exposição solar, como seja a vitamina D. Finalmente, há também uma procura elevada por produtos que possam reforçar ou fortalecer o sistema imunitário.

 

Há quem defenda que a tendência para uma alimentação saudável também se insere num novo estilo de vida. Concordam? Se sim que estilo de vida é este?

Sim, essa tendência resulta da cada vez maior e mais completa informação que obtemos e do consequente escrutínio que podemos fazer relativamente às nossas próprias opções. Apesar de não sabermos ainda tudo, hoje já conseguimos ter uma ideia bastante clara e aproximada dos componentes alimentares que ingerimos. Esse escrutínio começou a ser efetuado pelos consumidores, que começaram a perceber que muitas das suas opções eram objetivamente prejudiciais para a sua saúde e potencialmente prejudiciais para o ambiente.

Há um chavão agregador de toda a comunidade científica e que é inquestionável nesta matéria: Somos o que comemos. É portanto natural que a generalidade dos consumidores passe a efetuar um consumo mais consciente e responsável. E dentro dessa nova consciência é também natural que passemos a adotar hábitos de vida mais saudáveis, com menos imobilismo e mais exercício físico, mais vida ao ar livre e mais socialização. Todos estes fatores contribuem para o nosso equilíbrio individual e coletivo e se há algo que aprendemos com esta pandemia é a relevância das pequenas coisas e dos pequenos hábitos.  Sem estigmas ou dogmas acreditamos que todos nós rapidamente caminharemos no sentido de viver vidas mais equilibradas.

 

O que valorizam estes novos consumidores, que procuram e consomem este tipo de alimentos?

Não há uma resposta “one fits all”. Acreditamos que há muitos incentivos ao consumo de Super Alimentos, Suplementos Alimentares e Comidas Funcionais.

A motivação nem sempre é conceptual ou ideológica. Muitas das vezes advém de um determinado padrão de vida, de uma necessidade específica ou uma deficiência nutricional que é preciso suprimir. Mas se tivermos que categorizar o nosso cliente tipo diríamos que são pessoas que se preocupam bastante com a qualidade da sua alimentação e suplementação, que valorizam o equilíbrio emocional e físico e que se preocupam com o seu bem-estar e com o bem estar social.

 

the natural affair - suplementos alimentares

 

Sentem que o preço pode ser uma barreira à compra? Como explicam o “value for the money”?

Sim. O preço é um fator naturalíssimo de seleção e neste momento difícil que atravessamos e com perspetivas de futuro tão incertas é um fator bastante crítico. Mas também por isso as escolhas têm de ser mais seguras, inteligentes e assertivas.

A nossa filosofia de negócio e de produto valoriza a qualidade e integridade acima do preço. Queremos oferecer produtos bons que contribuam, de facto, para a saúde e bem-estar de quem os consome, com o benefício adicional de todos sabermos que o seu consumo tem também um impacto positivo social ou ecológico positivo muito mais abrangente. Ao mesmo tempo, acreditamos que o consumidor que nos procura é suficientemente informado e quando nos procura é por uma razão.

Neste sector, com tanta oferta disponível e aos mais variados preços, é fundamental que o consumidor se questione e que saiba o que efetivamente está a comprar. O value for the money está explícito no nosso conceito e filosofia de negócio, na nossa forma de estar e na nossa transparência em relação ao “sourcing” e à qualidade dos ingredientes que utilizamos.

Finalmente, vender por vender não é uma opção para nós.  Queremos manter enquanto empresários a mesma integridade que mantemos nas nossas vidas privadas e queremos causar um impacto positivo nas vidas das pessoas. Se entendermos que não o vamos conseguir, preferimos não vender. Tendo tudo isto em mente, os nossos clientes sabem que dificilmente encontrarão no mercado produtos de qualidade superior aos nossos e sabem também que estão a efetuar uma compra honesta.

 

Onde podem os interessados adquirir os vossos produtos?

Acabamos de começar e para já vendemos apenas na nossa loja online, em www.thenaturalaffair.com . Mas estamos a selecionar um conjunto de parceiros que partilham os mesmos valores para que os produtos cheguem também ao retalho físico.

Marta Puga

CEO The Natural Affair

Licenciada em Engenharia Informática, fez grande parte da sua carreira profissional na banca passando depois pela consultoria de gestão e pela consultoria informática. Em 2019 decidiu dedicar-se exclusivamente aos Suplementos Alimentares e Produtos Naturais.

O compromisso com um estilo de vida e alimentação saudáveis foi acontecendo progressivamente mas foi despoletado com a primeira gravidez, há 18 anos.  A família foi construindo um estilo de vida mais saudável e responsável, que não passa só pela alimentação mas também pelo exercício físico, privilegiando o contacto com a natureza e o respeito pela mesma, que passa pelo respeito pelos outros e pelo estabelecimento de hábitos de consumo informados e sustentáveis.

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A Wayz são sapatilhas sustentáveis, feitas para durar e com design e fabrico português, que nasceram de uma paixão e sonho comum de dois estudantes do curso de Design de Calçado.

Além da parte ambiental do produto, contribuem para uma associação de apoio a populações desfavorecidas e têm bem presente que Ninguém compra um produto de que não gosta, só por ser sustentável”.  Está tudo na entrevista.

Como surge a WAYZ? 

A Wayz surge quando eu e o Daniel nos conhecemos, no final de 2017. Ambos frequentávamos o Curso de Design de Calçado na Lisbon School of Design, no Porto. Descobrimos que tínhamos uma paixão comum por sneakers e partilhávamos o mesmo sonho, criar uma marca de sneakers portuguesa.

Desde o primeiro momento também sabíamos que queríamos fazê-lo usando materiais de qualidade, amigos do ambiente e desenvolver a marca em total transparência com os nossos seguidores e futuros clientes. A partir daí foi pôr mãos à obra.

Durante um ano procurámos os materiais, trabalhamos o conceito e a identidade da marca e desenhamos a nossa primeira coleção, que tem 4 modelos. No final de 2018 tínhamos os primeiros protótipos prontos. 

Desde o início que a nossa ideia era lançar a marca através de um Crowdfunding. Assim, em Maio de 2019, lançámos a nossa campanha na plataforma Indiegogo, onde vendemos cerca de 200 pares num mês. No final de 2019 lançamos a loja online, www.wayzforlife.com e começamos a vender também em lojas físicas, no Porto e em Lisboa e em alguns marketplaces digitais. 

 

Wayz - sapatilhas sustentáveis e éticas

 

Como definem a WAYZ? 

A Wayz é uma marca de sapatilhas, desenhadas e produzidas localmente, de forma responsável e ética, com materiais reciclados e biodegradáveis.

A nossa missão é criar produtos autênticos com design intemporal, feitos para durar, e vendê-los a preços justos.

Queremos também promover a mudança, inspirando as pessoas a seguir um estilo de vida mais consciente e responsável, onde cada um assume a sua responsabilidade, consumindo menos, mas melhor, comprando produtos mais duradouros, cuidando deles, dando-lhes uma segunda vida ou reciclando-os. 

 

Referem que devemos diminuir o consumo e as WAYZ são de design intemporal e para durar. Como se gere isto ao nível de negócio? 

O nosso objetivo é que os nossos clientes valorizem as Wayz, percebam facilmente a qualidade, conforto e durabilidade do produto, e como tal considerem bem empregue o dinheiro que pagaram por elas.

As Wayz não são baratas, mas têm um preço justo, que reflete a forma como são concebidas (design, materiais, qualidade de fabrico, etc). Sabemos que um cliente satisfeito pode tornar-se num embaixador da marca e ajudar-nos a chegar a mais pessoas.

Não precisamos que cada pessoa compre um par de sapatilhas a cada 6 meses, mas que o par que comprou dure e que tenha gosto em utilizá-lo ao longo dos anos. É uma forma de crescer responsável e sustentada.

Depois, podemos e iremos desenvolver acessórios (cordões, palmilhas, etc) para que possamos manter os Wayz em bom estado e continuemos a gostar deles, mesmo depois de muito usados… produtos com história(s). 

 

Os vossos materiais são eco-friendly. Como conseguiram chegar até eles? 

Eu diria que chegar até eles não foi difícil. Estamos no Porto, muito perto dos dois maiores polos de produção de calçado portugueses, Felgueiras e S.J. da Madeira, e como tal, após algumas pesquisas e contactos com pessoas da área e com o Centro Tecnológico de Calçado, foi relativamente fácil chegar até eles.

O que não foi fácil foi conseguir os materiais (cores e texturas) que queríamos, sobretudo os têxteis reciclados. Hoje em dia já é mais fácil, mas na altura, alguns fornecedores estavam apenas a começar a trabalhar com este tipo de produtos, outros nem sequer tinham. Os nossos primeiros protótipos foram feitos com têxteis reciclados que mandamos vir de um fornecedor na China. Não era de todo aquilo que queríamos e felizmente, antes da primeira produção, conseguimos encontrá-los em fornecedores locais. 

 

wayz - sapatilhas sustentáveis com materiais eco-friendly

 

 

Que outras preocupações incluem na vossa produção e distribuição? 

Um produto não pode ser sustentável se não tiver qualidade e não for duradouro. Os nossos materiais para além de amigos do ambiente, são também de grande qualidade.

O cuidado que temos na produção também reflete essa preocupação, pois temos um controlo de qualidade muito rigoroso e usamos técnicas de produção (ex: sola cosida, forro 100% em pele, sola de borracha) que tornam as Wayz mais resistentes ao desgaste. 

Na distribuição também houve preocupações, o packaging feito de cartão reciclado e adaptado aos envios por correio. Concebemos uma caixa que serve de caixa para as sapatilhas e de caixa de envio. Desta forma evitamos enviar uma caixa dentro de outra caixa e poupar recursos.

 

As WAYZ são 100% feitas no Norte de Portugal. Quão importante era para vocês assegurar algo 100% português?

Desde o primeiro momento que queríamos fazer um produto 100% português, um produto local, desenhado e produzido em Portugal com materiais portugueses. Ainda não é 100% português, porque o nosso têxtil, apesar de ser comprado em Portugal, é produzido em Espanha. Mas é quase! 

Ao escolhermos fornecedores locais estamos também a garantir que a nossa cadeia de produção contribui para o desenvolvimento de indústrias locais e que temos um impacto ambiental mais reduzido, pois não temos que importar os nossos componentes de países longínquos. 

 

Como o mercado percebe ser 100% português? Valorizam, nacional e internacionalmente? 

Os Portugueses valorizam, cada vez mais. Temos notado isso, sobretudo no último ano. Internacionalmente é mais o facto de ser uma marca independente, com um produto local e de grande qualidade, feito com materiais amigos do ambiente. 

 

wayz - sneakers sustentáveis

 

Sentem que a maioria dos vossos clientes chegam por serem sustentáveis, de design apelativo ou exclusivos?

Penso que são 3 argumentos de peso. Há clientes que apreciam os 3, outros que vão apenas por uma parte. Ninguém compra um produto de que não gosta, só por ser sustentável, portanto, o design é a nossa maior preocupação. Temos um conceito, um design próprio, e isso já é reconhecido.

A sustentabilidade, exclusividade, a nossa história, a transparência são também fatores valorizados pelos nossos clientes. 

 

Doam parte da vossa receita aos sem abrigo do Porto. Podem falar sobre esta ação? 

Um dos nossos pilares é a responsabilidade social. Desde o início do projeto que queremos devolver à sociedade aquilo que ela nos dá. Fizemos uma parceria com a SAOM, que é uma instituição de solidariedade social do Porto que tem um trabalho de longa data, reconhecido, com as populações mais desfavorecidas da cidade.

Uma das grandes carências que detetámos foi a falta de sapatos e como tal fazemos doações de sapatilhas com pequenos defeitos ou protótipos, que não podem ser vendidos. Assim, nada se desperdiça e estamos a dar nova vida a estes produtos, que estão em bom estado e podem servir as necessidades de outras pessoas. 

 

Muitos projetos sustentáveis não conseguem comunicar eficazmente a sua diferenciação. Que importância dão à comunicação e que ações levam a cabo? 

É verdade, e essa também é a nossa dificuldade. Comunicar bem é difícil, dá muito trabalho e requer muito investimento pois é necessário ter bons conteúdos (textos, fotos, vídeos).

Nós privilegiamos as redes sociais, e o nosso site, como forma de comunicar com a nossa comunidade mas sentimos que não é suficiente. Também fazemos algumas parcerias com outras marcas portuguesas e, pontualmente, com alguns influenciadores. 

No futuro queremos apostar num conteúdo mais regular, atrativo e mobilizador, ao nível das redes sociais e também com a criação de um blog, em que podemos comunicar de forma mais explícita o universo, valores e propósito da Wayz. 

 

São jovens, empreendedores e muito ligados ao Porto e a Portugal. Que ambições para o futuro? 

Vivemos momentos de grande incerteza e como tal é difícil fazer planos. Mas vamos ter que aprender a viver com ela. 

Queremos que cada vez mais pessoas conheçam a marca e experimentem as nossas sapatilhas, em Portugal e nalguns países europeus. Estamos neste momento a estabelecer parcerias com alguns marketplaces digitais europeus e queremos também estar presentes nalguns retalhistas de algumas cidades europeias. 

Vamos crescer, com paciência e resiliência e de forma sustentada. 

Pedro Maçana e Daniel Gonçalves

Cofundadores da Wayz

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Na Indústria Têxtil existe em Portugal uma empresa que se destaca no percurso de sustentabilidade que tem feito, ao nível de uso de materiais, processos produtivos e certificações obtidas, além de prémios internacionais. Chama-se Tintex e falámos com o seu CEO, Ricardo Silva.

A Tintex nasceu como uma empresa de tingimento de tecidos e evoluiu para a criação de têxteis próprios, através do Lyocell. O que diferencia este material?

O Lyocell que utilizamos na produção das nossas malhas é originário da Europa, onde é transformado em fibra através de um processo muito limpo, sem emissões perigosas, pelo nosso parceiro industrial Lenzing, na Áustria. As malhas que produzimos com esta fibra magnífica distinguem-se pelo toque sedoso, brilho discreto e luxuoso, cair fluído e frescura singular. 

Fomos pioneiros, nos inícios do século, na produção e transformação de malhas em Lyocell, estabelecendo uma parceria muito próxima com a Lenzing, que dura até aos dias de hoje.

Desenvolvemos, na altura, uma tecnologia especial e revolucionária que permite transformar esta fibra em materiais luxuosos e de conforto para poderem ser vestidos por todos nós, aguentando inúmeras utilizações sem estragar ou ganhar “borboto”. 

 

A Tintex destaca a sustentabilidade na sua apresentação. O que faz dos vossos têxteis únicos e sustentáveis? 

Com um forte posicionamento na inovação sustentável, conseguimos implementar tecnologias têxteis que nos posicionaram como uma empresa mundialmente diferenciada no setor, com um foco claro no conforto e durabilidade dos materiais têxteis, com superfícies muito sedosas e aspeto contemporâneo e tecnológico. 

A suavidade, as superfícies limpas, o brilho luxuoso e o aspeto sóbrio e intemporal das nossas coleções fazem com que os clientes sejam capazes de reconhecer os produtos TINTEX mesmo que estes não estejam identificados. Isto é algo em que temos muito orgulho, mas que por si só nunca foi suficiente para nós. Porquê? Porque não basta ter produtos esteticamente diferenciadores se isso não for feito de mãos dadas com a sustentabilidade.

 Para a TINTEX, isso representa muito mais do que trabalhar com fibras orgânicas ou recicladas. É algo que deve estar presente em todas as fases do produto produtivo, desde a escolha de fornecedores certificados, produtos certificados, fibras certificadas e rastreáveis, processos internos certificados, gestão de efluentes, maquinaria de ponta com foco na otimização de consumos energéticos, monitorização constante da pegada de carbono. De um ponto de vista mais humano e de sociedade entendemos que é o nosso compromisso em sermos sempre melhores, em fazermos as escolhas mais acertadas para o ambiente e para as pessoas, em nunca dizermos “chega” mas sim encararmos a sustentabilidade como um processo contínuo, uma jornada que nunca terminará. 

 

Tintex - sustentabilidade

 

Trabalham com materiais eco-friendly, como soja, bamboo e milho. Como os incorporam no produto final e quais as vantagens do seu uso?

Sempre procurámos ingredientes novos, que nos proporcionassem as características certas para os nossos materiais. Em tempos, de facto, experimentámos fibras provenientes de soja, bamboo e milho. Atualmente, continuamos a explorar uma delas, a que provém do milho, que tecnicamente tem o nome PLA (em português, tem um nome estranho, Ácido Polilático). 

 

Em 2014 receberam a certificação GOTS para algodão orgânico com o projeto ALGO.NATUR. O que representa esta certificação e qual a importância das certificações neste setor?

O projeto ALGO.NATUR foi o nosso primeiro grande projeto de Inovação e Desenvolvimento estruturado e com equipas externas multidisciplinares, começado em 2013, que tinha como objetivo o tingimento de têxteis usando apenas plantas e vegetais. Até aos dias de hoje, teve várias evoluções e continuações, incluindo uma marca registada e uma patente internacional, que nos orgulha muito.

O início da certificação GOTS (Global Organic Textile Standard) ocorreu, na mesma altura, em 2014, e representou uma nova jornada na aposta da Tintex em materiais e processos sustentáveis, utilizando ingredientes biológicos, sem pesticidas químicos. É um sistema de certificação muito conhecido e reputado no mundo têxtil e da moda. 

A partir daí, ganhámos conhecimento profundo e montámos um sistema de gestão integrado e complexo que atua sobre produtos químicos, ingredientes têxteis e a sua utilização inteligente, para continuarmos a cimentar o nosso caminho de produção responsável para todos nós. Aqui estão listados todos estes referenciais: ISO 9001, ISO 14001, NP 4457, STeP by Oeko-tex, Bluesign, Oeko-tex standard 100, GOTS, OCS, GRS.

 

tintex - empresa sustentável

 

Têm o projeto Picasso, que foi vencedor do Prémio Techtextil Innovation Award, na categoria de Sustentabilidade. No que consiste este projeto? 

O Projeto Picasso foi a evolução do projeto Algo.Natur que falámos anteriormente e que deu origem à tecnologia COLORAU, um processo revolucionário e patenteado de tingimento que apenas utiliza componentes de origem natural e vegetal. Os tons baseiam-se em cores terra e quentes, encontradas na Natureza, como é o caso do Castanheiro, por exemplo. 

 

O vosso cliente é quem comercializa ao cliente final. Sentem da parte dele maior procura por soluções sustentáveis? Auditam o vosso processo?

Sem dúvida. Notamos, a cada dia que passa, uma procura e exigência por soluções melhores, mais sustentáveis, processos mais transparentes e rastreáveis até à origem. Para as marcas emergentes (e mesmo já existentes), dizer que a t-shirt é feita de algodão orgânico ou reciclado já não basta.

A nova geração de consumidores exige saber mais acerca daquilo que está a comprar e porque o deve comprar – é preciso saber a história por detrás do produto, as suas certificações, o que a sua produção envolveu, o que a torna a melhor opção em detrimento da peça ao lado.

Mas é exatamente graças a esta busca pela transparência que a Indústria Têxtil evolui, é puxada para fora da zona de conforto e forçada a repensar processos e produtos e tudo o que estes envolvem e por isso, a nosso ver, é algo crucial e muito benéfico. 

Em relação às auditorias, sim temos auditorias de clientes, tanto sociais como na vertente ambiental. Alguns clientes também solicitam determinadas certificações como validação das nossas práticas (certificações essas que disponibilizamos sempre).

 

 

Nos últimos anos investiram mais de 10 milhões de euros em inovação. No que consistiu este investimento?

Investimos mais de 26 milhões de Euros em inovação, mais concretamente: na contratação de recursos humanos especializados; na aquisição de maquinaria com tecnologia de ponta que nos permite obter excelentes consumos energéticos e de produtos químicos; no desenvolvimento de tecnologias de acabamento; em inúmeros projetos de I&D (a tecnologia COLORAU é um exemplo disso); e na modernização da nossa comunicação e ferramentas de marketing. Graças a este investimento, conseguimos alinhar ainda mais quem somos com o que de melhor fazemos todos os dias. 

 

tintex

 

A Sustentabilidade existe também no vosso funcionamento enquanto empresa? Controlam a vossa pegada ecológica?

A Sustentabilidade e Inovação fazem parte do ADN da Tintex, desde a sua génese, tanto nos processos como nos produtos.

Sendo uma empresa deslocada do centro têxtil tradicional, foi este ADN o factor diferenciador que a fez destacar-se da concorrência. Atualmente temos várias certificações que validam estas práticas e nos vinculam em metas com uma forte redução ecológica, aliadas a projetos de IDI. STeP by Oeko-tex e Bluesign são certificações exigentes e específicas da área têxtil, abordando requisitos tanto a nível de ambiente como de responsabilidade social. 

Os nossos compromissos e metas atingidas nos últimos anos, como:

  • Instalação de painéis solares para a produção de energia;
  • Redução de 30% no consumo de água e energético com substituição das máquinas produtivas por novos equipamentos de última geração, mais eficientes energeticamente e com necessidades menores de consumo de água;
  • Substituição de produtos químicos e desenvolvimentos de alternativas ao tingimento convencional por exemplo, demonstram o nosso caminho de redução da pegada ecológica.

 

Têm ações na área da responsabilidade social?

Sim, temos! A Tintex é investidor Social da Ação MEERU – Abrir Caminho; doa 10% do valor das vendas às iniciativas do Drip by Drip, cuja ação se concentra na limpeza da água em países fortemente industrializados, mas pouco desenvolvidos, como o Bangladesh. A empresa revê também as suas atividades na abordagem baseada nos Dez Princípios do Pacto Global das Nações Unidas.

 

Sendo industriais e tendo a sustentabilidade muito incorporada no vosso ADN, que conselhos dariam a outras indústrias portuguesas?

Dar conselhos é sempre algo delicado, mas aquilo que podemos dizer, com base na nossa experiência, é que o investimento na sustentabilidade é um investimento acertado no futuro, não só da Indústria, mas do nosso planeta. Acreditamos verdadeiramente que este é o único caminho que nos pode levar a um amanhã melhor, mais limpo, mais positivo, deixando uma herança saudável para todos os que virão a seguir a nós. Se não evoluirmos em conjunto, esquecendo as nossas diferenças, se não tomarmos as escolhas mais acertadas HOJE, poderemos não ter um amanhã saudável e bom para os nossos filhos.

 

Existe alguma ação, produto ou processo que não destácamos nesta entrevista e que consideram importante de realçar na vertente sustentável?

As indústrias produtoras e o consumidor estão ligados mais do que nunca. Cada um de nós, enquanto pessoa, tem curiosidade em perceber como são produzidas as coisas que compramos e consumimos. Nós acreditamos que essa ligação, de forma transparente e fácil, é o clique que está a transformar a forma como compramos, enquanto valorizamos cada vez mais as experiências e as pessoas envolvidas em todos os processos, para que sintamos total confiança nas nossas “coisas”.

Na TINTEX, temos esta visão muito presente, temos um foco estratégico nesta ligação com as pessoas que nos rodeiam e que estão apenas à distância de um clique. Assim com o passar dos tempos, a TINTEX vai estar cada vez mais próxima de todos nós.

ricardo silva

Ricardo Silva 

CEO Tintex

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Os vinhos da Adega Mayor nascem do sonho do Comendador Rui Nabeiro e são perpetuados no trabalho que Rita Nabeiro tem feito. Numa adega desenhada por Siza Vieira, que respira Alentejo e incorpora a sustentabilidade na essência e produção. Está tudo na entrevista.

Vinhos Adega Mayor - Adega

A Adega Mayor é um sonho do Comendador Rui Nabeiro. Quando sentiram que era o momento de passar do sonho para a realidade? 

O meu avô, desde sempre empreendedor e apaixonado pelo mundo do vinho, queria recuperar a tradição vitivinícola no Alentejo, mais concretamente em Campo Maior, terra que foi perdendo esta cultura com a passagem do tempo.

Assim, e de forma a inverter esta tendência, os primeiros passos para a construção do projecto vinícola tiveram início com a plantação das primeiras vinhas em 1997, na Herdade da Godinha. Dez anos mais tarde, em 2007, foi inaugurada a Adega Mayor.

Um projecto singular desenhado pela mão do arquiteto Siza Vieira, a primeira adega de autor do país, que veio reforçar o caráter pioneiro do Grupo Nabeiro ao mesmo tempo que traz mais riqueza quer industrial, quer patrimonial para a região.

 

Siza Vieira foi o arquiteto escolhido para desenvolver a Adega Mayor. De que forma está o Alentejo incorporado no projeto? 

Pelas linhas simples e depuradas do seu desenho, pelos materiais e técnicas usadas na construção, claramente inspirados na alvura das casas alentejanas e que se traduzem em grandes muros caiados que rasgam o chão, aos materiais da região como os mármores de Vila Viçosa e Estremoz.

A Adega Mayor deixa brilhar o que de melhor temos em Campo Maior: a paisagem de um Alentejo interminável, onde o horizonte se estende no infinito. A sobriedade dos seus traços, reforça a identidade da Adega Mayor: a união entre contemporaneidade e o profundo respeito pelos valores do Alentejo e pela natureza.

 

O que caracteriza os vinhos da Adega Mayor? 

Os vinhos da Adega Mayor são vinhos que convidam a abrir os sentidos para o que se faz de “Mayor” no Alentejo. Frescos e minerais pela proximidade das vinhas à Serra de São Mamede, são os solos graníticos e o clima temperado, que lhes conferem a sua elegância, frescura e singularidade.

São vinhos que surpreendem por conseguirem aliar a subtileza da sua composição à intensidade e caráter dos vinhos do Alentejo. 

 

Têm algum vinho que se destaque dos outros? 

É difícil responder a essa questão. Todos os nossos vinhos primam pela qualidade mas acima de tudo, todos eles são indicados para diferentes perfis e situações de consumo.

Posso destacar três vinhos de três gamas diferentes:

  1. O AM Touriga Nacional pela sua frescura e carácter marcante;
  2. O AM Reserva do Comendador (seja tinto ou branco) pelo sua nobreza e consistência ao longo dos anos;
  3. O Grande Reserva Pai Chão, que é uma homenagem ao meu avô e fundador da Adega Mayor. Trata-se de um vinho que só existe em anos de exceção, quando a natureza e o homem se encontram.

Cada garrafa abre um novo mundo, são vinhos diferentes para circunstâncias distintas.

 

A exportação é uma parte importante da Adega Mayor. Sendo Portugal uma referência internacional na produção de vinhos (11º maior produtor a nível mundial e 8º exportador), em que países mais se destaca e que perceção têm os consumidores internacionais do vinho português?  

Além do mercado nacional a Adega Mayor está presente em diferentes países com destaque em França, Suíça, Luxemburgo, Alemanha, Reino Unido, Dinamarca, Angola e Brasil.

A reputação internacional dos vinhos produzidos em Portugal tem vindo a evoluir no sentido positivo e o aumento das exportações comprovam-no, assim como as várias distinções conquistadas nos melhores concursos de vinho internacionais. No entanto considero que ainda há muito trabalho a fazer do ponto de vista da valorização da marca Portugal.

 

Vinhos Adega Mayor - Colheita

 

Os vinhos orgânicos tiveram um crescimento de 20% em França e 15% em Itália nos últimos 7 anos. Como veem esta tendência? 

Nos últimos anos assistiu-se a um aumento da dinâmica do sector vitivinícola, nomeadamente através do surgimento de novos conceitos e é nesse sentido que surge esta tendência internacional na procura de vinhos orgânicos. Esta tendência não é exclusiva do sector vitivinícola, mas é o reflexo de uma preocupação dos consumidores de produtos que sejam bons para a saúde e para o planeta. Temos este fator em consideração e em breve apresentaremos o nosso primeiro vinho orgânico.

 

Ao nível do sabor, que diferenças um consumidor encontra num vinho natural ou orgânico?

Depende muito do tipo de vinificação do produtor, mas diria que a maioria procura intervir o mínimo no vinho, evitando estágios intensos em madeira. Nesse sentido, tendencialmente encontramos um perfil mais leve frutado na maior parte dos vinhos orgânicos.

 

O consumidor de vinho tem as preocupações ambientais e sociais incorporadas na sua escolha? 

Existem diferentes tipos de consumidores de vinho, no entanto os consumidores mais exigentes são aqueles que relevam preocupação por adquirir um vinho de produção sustentável, que reconhece um conjunto de boas práticas económicas, sociais e ambientais.

 

Vinho Adega Mayor

 

A Adega Mayor, na sua missão, refere “entregar às próximas gerações uma terra melhor que a que encontrámos”. Como está a sustentabilidade e o lado social incorporados na vossa produção? 

A sustentabilidade ambiental é parte integrante do negócio da Adega Mayor, porque os nossos resultados dependem do seu equilíbrio.

Alinhada com o propósito de reforçar a sustentabilidade no seu negócio e nos processos envolventes, em 2016 a Adega Mayor aderiu ao PSVA, um programa diferenciador que visa construir uma estratégia de rede sobre sustentabilidade para a produção vitivinícola da região do Alentejo, incentivando à prática de abordagens inovadoras na produção de vinho, que levem à correta utilização do meio ambiente e à conservação de recursos naturais e biodiversidade. 

Desta forma, contribui para o combate às alterações climáticas ao mesmo tempo que promove o desenvolvimento económico e social da região.

A Adega Mayor assume ainda o compromisso claro de contribuir ativamente para estimular o crescimento económico sustentável da região do Alentejo, ao apostar cada vez mais em soluções eco eficientes, capazes de responder eficazmente às problemáticas socioambientais geradas pelos atuais modelos de desenvolvimento.

Desta forma, trabalhamos no sentido de minimizar os impactos ambientais de ano para ano, como a gestão da água, da energia e dos resíduos na adega.

Neste sentido, a Adega Mayor apresenta uma constante preocupação em obter a máxima eficiência em todo o processo produtivo, pensando sempre no futuro e nas próximas gerações.

Rita Nabeiro - Vinho - Adega Mayor

Rita Nabeiro 

CEO Adega Mayor

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