Autor

Ricardo Lopes

Quanto melhor a nossa auto-estima, melhor a nossa relação com o mundo. Mas ter muita roupa será suficiente para isso?

É a isso que a Alexandra Ferreira, fundadora da MÏA-MÔ e In’vestir, nos responde.

A MÏA-MÔ não vende roupa, In’vestir (informa + veste) nas mulheres. De onde veio esta inspiração? O que te move?

Sou apaixonada por pessoas e adoro que cada uma delas sinta que é única e mesmo muito especial. Por isso, comecei por partilhar algumas dicas de motivação e autoestima com as minhas amigas, para que confiassem mais nelas e em todo o #power que têm. Pequenas alterações na forma com pensamos e percecionamos a nossa imagem, têm um grande impacto da nossa autoestima e em tudo o que fazemos na nossa vida. Por isso, quando pensei lançar a MÏA-MÔ, sabia que mais que vender roupa, queria investir nas mulheres, aumentar-lhes a confiança!

Acredito que “existem mulheres fortes e mulheres que ainda não descobriram a força que têm”, por isso, quero muito contribuir para que as mulheres do #mundomïamô sintam que são as diferenças de cada uma que as tornam tão especiais e que cada uma é forte à sua maneira.

Quanto à marca de roupa e a sua versatilidade, a inspiração veio das viagens de trabalho. Sempre que viajava em trabalho, tinha que levar imensa roupa, para os diferentes eventos diários. Queria começar a viajar com menos roupa, mas não com menos possibilidades de combinação. Por isso, idealizei a peça Self-Confidence, que, juntamente com uma camisa branca, me possibilita mais de 15 combinações diferentes.

Sinto que o futuro da moda é por aí, comprar menos e usar mais – é também o nosso slogan – então o design de todas as peças é pensado para ser intemporal e as peças usadas de várias formas.

A mensagem que passamos às nossas clientes, é que as nossas peças são para combinar com o que já têm em casa, não para comprar tudo!

Desta forma, os nossos conteúdos passam por dicas de como conjugar a peça X ou Y da MÏA-MÔ com a peça X ou Y que a maioria das mulheres tem em casa, como por exemplo, uma camisa branca.

 

 Mia-Mo - Empoderamento da Mulher

 

Em que medida a roupa pode contribuir para o empoderamento da mulher?

A nossa imagem deve trabalhar sempre a nosso favor. Não só pelo que transmite aos outros, mas principalmente pela nossa autoestima.

Uma mulher confiante é uma mulher mais empoderada.

Quando falamos em imagem, não falamos apenas na roupa, mas sim em todo o conjunto, que vai desde o que veste, à forma como comunica e se apresenta. Por isso é que criámos o curso imagem pessoal e comunicação, onde todas as mulheres podem trabalhar a sua imagem de forma única, elevando as melhores características de cada uma, para que cheguem onde sempre desejaram.

 

A que tipo de mulheres se destinam as tuas coleções?

Às mulheres que querem investir nelas, da mesma forma que investem na vida profissional e se dedicam à pessoal. Ou seja, a todas as mulheres que acreditam que podem construir uma imagem de sucesso, assente em pilares sólidos de confiança e motivação, que perdura e facilita a tarefa de se vestirem todos os dias. Porque, “tudo é possível com uma mente positiva e uma roupa gira”.

 

Mia-Mo - Empoderamento Sustentável

 

Há elementos da natureza, como as ondas do mar, bem presentes nas peças. A natureza é uma fonte de inspiração?

Sim, muito mesmo!

Moro no campo desde que nasci, acordo todos os dias rodeada pela natureza e continuo a ficar fascinada com o chilrear dos pássaros e o som da água do riacho, como se fosse a primeira vez.

Acredito que foi esta conexão, com o que há de mais puro, que me fez despertar para a sustentabilidade. Por isso é que nas duas primeiras coleções não produzi tecidos para as peças e nesta 3ª apenas produzi um, que é um tecido reciclado. 

Com as ondas do mar, queremos passar força às nossas clientes, para enfrentarem as “tempestades” do dia a dia.

Todas as peças têm um propósito, uma mensagem, um pormenor de empoderamento… tudo é pensado ao mais pequeno detalhe.

 

Tens peças muito versáteis. Dá-nos alguns exemplos das peças mais icónicas.

Até ao momento e já com 3 coleções, lançamos apenas 15 peças. Porque apostamos muito em conjuntos que se “desmontam” e possibilitam vários looks diferentes.

As peças que se destacam são:

Self-Love: O casaco mágico! Quando chove aparecem andorinhas, quando seca volta à cor original. Pode ser usado curto ou comprido, é impermeável, corta-vento e polar.

Self-Confidence:  2 peças, 15 formas de usar! É a peça mais versátil da MÏA-MÔ e a que mais mulheres apaixona.

Amazing: O vestido preto, que se desmonta… para que use só a saia ou a blusa. É a peça mais vendida da marca e foi feita a pedido de uma cliente, pois não tencionava ter a cor preta nas coleções.

 

Mia-Mo - Empoderamento da Mulher

 

 

O “made in Portugal” também está presente. Em que se traduz?

Todas as nossas peças são feitas manualmente, em Portugal, por modelistas com + de 20 anos de experiência.

Os nossos fornecedores são todos Portugueses – da zona norte do país, assumimos o compromisso da sustentabilidade, do pagamento justo e do contributo social.

 

Que principais momentos desde a criação da marca até agora destaca?

Confesso que lançar a marca no Portugal Fashion, foi a realização de um sonho pessoal, mas que deu grande visibilidade e credibilidade à MÏA-MÔ.

Lembro-me como se fosse hoje, da primeira venda online. É uma história parva, mas vou partilhar  Estava a lavar os dentes e recebi um e-mail de confirmação de encomenda… saí da casa de banho aos saltos – com a escova na boca – e fui contar aos meus pais. Eles fizeram a mesma “festa” que eu. Nos dias seguintes, só diziam… já foste lavar os dentes?

Depois disso, posso destacar a ida ao programa da Cristina na Sic, entre outros programas de televisão, que reforça sempre a comunicação e credibilidade da marca. Como somos uma marca 100% digital, as pessoas confiam rapidamente em nós por esta presença assídua nos meios de comunicação, pelos rasgados elogios que dão à qualidade e inovação das peças e também porque o feedback que as nossas clientes deixam no site, espelham claramente o serviço que prestámos.

 

Onde podemos encontrar a Mia-MO à venda?

www.mia-mo.com – o nosso site

www.pipsbazaar.pt – site da Pipoca Mais Doce

www.cirelle.pt – site da Mafalda Carvalho

 

Alexandra Ferreira

Dreamer & Founder

Licenciada em Turismo – Universidade do Algarve. Mestre em Gestão de Eventos – Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.

Apaixonada por moda, pela segunda-feira e por gomas. Fundadora e CEO da empresa Women’s Empowerment & Fashion Solutions, que detém as marcas MÏA-MÔ – de vestuário com produção e design próprio – e a In’Vestir – de formação e Styling. Especializou-se em styling e produção de moda pela Fashion School. Na área de marketing, vendas e eventos, tem mais de 10 anos de experiência, tendo trabalhado em empresas como a Vodafone, Imaginarium, Fundação Inatel e BTRUST.

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Cada um de nós procura ser o melhor de si mesmo, incluindo no que consome. No entanto, a forma como sempre fomos impactados e estimulados a consumir, nas últimas décadas, e mesmo o modo como a nossa qualidade de vida imediata depende da gestão de custos e valorização do fator preço leva a que tenhamos dificuldade de incorporar um consumo sustentável na nossa vida. E o desconhecimento sobre o que é ser um consumidor sustentável também.

Assim, é legítimo questionarmo-nos: como posso começar a ser um consumidor sustentável?

Neste artigo vamos apresentar o que é um consumidor sustentável e 3 dicas para que inicie este caminhofugindo às sugestões relacionadas com a poupança de água e eletricidade em casa, que já todos vimos e são importantes, mas não alinham com o conteúdo do Green Purpose.

 

 

Ser Um Consumidor Sustentável

O primeiro facto para o qual deve estar alerta, no que se refere a um consumo sustentável, que é o oposto de um consumo desenfreado, é que 20% da população mundial é responsável por 80% do consumo global. Ou seja, um consumidor sustentável pondera não apenas o que consome, mas se consome. A um nível um pouco mais adiantado, extremado se assim o pretendermos definir, para a fase de maturidade em que estamos, pode ver o documentário “Minimalism: a documentary about the important things”, da Netflix. Se retirar uma ideia para aplicar, já estará a dar passos para ser um consumidor sustentável.

Uma das áreas onde é mais imperiosa esta ponderação (“será que necessito mesmo?”) é na moda. O fast fashion – pode perceber melhor no que consiste na entrevista a Maria Beatriz Costa que para conseguir responder a uma necessidade de consumo cada vez mais acelerada e a baixo custo, tem impactos ambientais e sociais elevadíssimos. O que, felizmente, já tem acontecido é um aumento da preocupação dos consumidores sobre as questões ambientais. Levando inclusive a que grandes marcas de fast fashion criassem linhas sustentáveis,  que, atenção, não é o mesmo que serem sustentáveis.

Porque a sustentabilidade tem 3 pilares: ambiental, social e económico, como a Inês Ribeiro da BoG – Environmental Consulting nos explica em entrevista.

Em paralelo à resposta das marcas de fast fashion, surgem cada vez mais marcas de slow fashion, que respeitam todos os princípios da sustentabilidade e são uma excelente opção para compra de roupa com maior durabilidade.

 

consumidor sustentável - slow fashion

 

Outro ponto é perceber o que implica um consumo sustentável, para que se possa tornar um consumidor sustentável. E é comprar:

Além disto, é importante compreender um conceito chamado value for money, que é o custo-benefício de uma compra. Normalmente, os produtos sustentáveis têm um custo superior, mas que se deve a alguns fatores que devem ser ponderados no momento da tomada de decisão. Nomeadamente:

  • Não tem economias de escala, que são obtidas com grandes volumes de produção. No fundo, permitindo aumentar as vendas, mas sem mexer nos custos fixos – como empregados, fornecedores de matérias-primas, etc, que se tornam reféns – e assim obterem maior rentabilidade de cada venda, mesmo com preços baixos.
  • As matérias-primas são mais escassas e sujeitas a tratamento, que têm um custo, mas asseguram uma maior sustentabilidade do planeta;
  • Durabilidade, que é obtida em consequência das melhores matérias-primas utilizadas, bem como de processos muito mais manuais e especializados do que as economias de escala;
  • Apoio à economia local e ambiente, por serem produtos na sua generalidade produzidos localmente, sem recurso a países de terceiro mundo onde os valores pagos pela mão de obra são muito baixos e que levam a longas e variadas viagens pelo mundo dos produtos, até chegarem a si com uma forte pegada ambiental;

Em forma de conclusão, o consumidor sustentável tem presente, em todos os seus momentos de compra, estas questões:

  • Preciso mesmo? Não poderei reutilizar algo que tenha?
  • Quais as matérias-primas utilizadas neste produto?
  • Quem fabricou? Foi remunerado justamente?
  • Quando deixar de usar, o que posso fazer com este produto?
  • O custo-benefício deste produto é ajustado?

 

 

Dicas Para Dar os Primeiros Passos Como Consumidor Sustentável

 

consumidor sustentável - partilha

#1 – Não seja fundamentalista.

Se pretender, imediatamente, ter um consumo absolutamente imaculado, encontrará frustrações e levará a que se culpe e perca a motivação. Lembre-se que existiu um consumo irresponsável e generalizado durante muitos anos, tendo sido o que nos trouxe ao ponto atual, pelo que qualquer mudança que faça entrará em choque com muitas das suas rotinas. Não será fácil. Tente inspirar-se nas dicas para mudar hábitos de consumo e vida da psicóloga Ana Rita Freitas.

#2 – Troque o fast pelo slow

Na comida o consumo desenfreado de carne tem levado a prejuízos ambientais muito superiores a andarmos de carro, como podemos ver no documentário Cowspiracy da Netflix ou na Grande Reportagem da SIC, do dia 02/01/2021, em que se apresentam os prejuízos do tipo de alimentação que temos, bem como soluções inovadoras para reduzir o impacto ambiental da produção de carne e pescas. Mas para começar com passos mais pequenos, pode seguir as dicas da Sara Oliveira, autora do livro Saudável e Sem Desperdício ou lendo a entrevista do Professor Duarte Torres sobre a Snood Food, os snacks com leguminosas.

Ainda na alimentação, olhar com mais atenção para os rótulos é fundamental para compreender o tipo de produto que está a comprar e se ele é saudável, para si e para o ambiente. Aconselhamos vivamente a que leia a entrevista à Milene Rodrigues, com o título “Sabe Ler Rótulos?”. Ficará muito mais alerta para a importância dos rótulos no nosso consumo.

Na moda, antes de comprar, pondere mesmo se necessita e, necessitando, adote marcas de slow fashion ao invés de fast fashion. São mais caras, em muitos casos, mas um dos pressupostos do slow fashion é garantir uma maior durabilidade do produto. Sabe o que é slow fashion? Está tudo explicado na entrevista à Inês Vaz.

#3 – Partilhe

É verdade, se optar por partilhar mais coisas, desde boleias a participar em trocas de roupa, estará a dar um enorme passo para ser um consumidor mais sustentável. O exagero é que nos trouxe ao ponto de rutura em que estamos. Reduzi-lo é dar passos para melhorar.

 

 

Conclusão  

Os primeiros passos são desafiantes, mas possíveis. Não falamos, num primeiro momento, de grandes mudanças de estilo de vida, mas sim de pequenos passos.

  • Pondere se precisa do que vai comprar
  • Analise as origens do produto e o seu rótulo
  • Opte por qualidade e durabilidade em vez de quantidade e preços baixos

Com estes 3 fatores, já se começou a tornar um consumidor sustentável.

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Os rótulos dizem-nos tudo sobre os produtos que vamos comprar, mas normalmente só olhamos para a validade. Por esse motivo, para termos um consumo cada vez mais sustentável é fundamental compreendermos melhor os rótulos e o que neles devemos analisar.

Nesta entrevista, a Milene Lourenço, que realizou uma tese sobre literacia nutricional e rótulos, explica-nos tudo sobre rótulos.

 

 

Como está a literacia dos portugueses no que diz respeito à rotulagem de produtos saudáveis?  

Um estudo encomendado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), em 2017, revela que cerca de  40% dos consumidores portugueses não compreendem a informação nutricional básica presente  nos rótulos alimentares.  

A consulta dos rótulos é feita maioritariamente para conhecerem o prazo de validade e as  instruções de uso, no entanto, a consulta dos mesmos para obter informação sobre a composição  nutricional dos alimentos é mais reduzida. Muitos dos parâmetros fornecidos na rotulagem  alimentar são negligenciados ou fracamente interpretados devido à baixa literacia nutricional da  população. 

Neste estudo, foi ainda verificado que a literacia nutricional e a frequência de consulta dos rótulos  estão associadas às habilitações literárias dos consumidores, quanto maior o grau de  escolaridade concluído, maior a importância e interpretação dos rótulos alimentares. Em suma, os consumidores, apesar de reconhecerem que os rótulos alimentares são uma boa  fonte de informação, raramente os consideram na decisão de compra devido à carência de  literacia nutricional.  

 

Há uma evolução nesta matéria? E no que diz respeito a hábitos saudáveis? 

Desde 2016 que se tem registado uma crescente preocupação com a saúde e o bem-estar.  Devido a esta tendência, a orientação para hábitos saudáveis e a literacia nutricional têm-se  revelado fatores fundamentais na interpretação de rótulos e na perceção de um produto alimentar  como saudável ou não saudável.  

Ao estar orientado para hábitos saudáveis, o consumidor irá, naturalmente, procurar estar mais  informado acerca da rotulagem alimentar e mais interessado na composição nutricional dos  produtos que está a comprar. A quantidade e qualidade da informação considerada no ato da  compra aumentam e a perceção e consciência de saudável são também impactados. 

Neste sentido, denota-se uma associação em cadeia, na medida em que, quanto maior a  orientação para hábitos saudáveis, maior a procura por informação e educação a nível nutricional,  ou seja, maior nível de literacia nutricional. Ambos os conceitos estão interligados e verifica-se  que, ao longo dos anos, existe uma evolução na forma como os consumidores tomam as suas  decisões de compra.  

 

rótulo sustentável

 

Que elementos inclui a rotulagem e qual o papel de cada um?  

A rotulagem alimentar pode ser definida como um conjunto de indicações, marcas, símbolos ou  imagens, de um género alimentício específico, que figuram em qualquer embalagem, documento,  aviso, rótulo ou gargantilha. Inclui os elementos:  

 1) Denominação do género alimentício  

Deve ser acompanhada da indicação do estado físico em que se encontra o género alimentício  (ex.: em pó, pré-congelado, liofilizado, ultracongelado, concentrado, fumado). 

2) Lista de ingredientes  

Deve enumerar todos os ingredientes do género alimentício, por ordem decrescente de  quantidade presente no produto.  

3) Ingredientes ou derivados de uma substância que provoquem alergias ou intolerâncias  Alergénios, utilizados no fabrico ou na preparação de um género alimentício e que continuem  presentes no produto acabado (ex.: cereais que contêm glúten, crustáceos, ovos, amendoins,  soja, leite, etc.).  

4) Quantidade de determinados ingredientes 

Obrigatório em produtos que destaquem ingredientes no rótulo através de palavras ou imagens ou  seja essencial para caracterizar e distinguir um género alimentício.  

5) Quantidade líquida do género alimentício  

Expressa, consoante o caso, em: litro, centilitro, mililitro, quilograma ou grama.  6) Data limite de consumo  

Data na qual é seguro o consumo de determinado produto.  

7) Condições especiais de conservação e/ou as condições de utilização  Caso os géneros alimentícios exijam condições especiais de conservação e/ou de utilização,  devem ser fornecidas instruções de utilização e conservação após a abertura da embalagem.  8) Nome ou firma e o endereço do operador da empresa do setor alimentar  Identificação do operador da empresa do setor alimentar responsável pela informação sobre os  géneros alimentícios.  

9) País de origem ou local de proveniência  

10) Modo de utilização  

Apenas obrigatório na embalagem quando a sua omissão dificultar uma utilização adequada do  produto.  

11) Título alcoométrico  

Sempre que se tratar de uma bebida alcoólica.  

12) Declaração nutricional  

A declaração nutricional Inclui obrigatoriamente os seguintes campos: Valor energético, lípidos e  ácidos gordos saturados, hidratos de carbono e açúcares, proteínas e sal. 

 

Para efetuarmos uma escolha saudável, devemos ter em conta dois aspetos fundamentais: a lista  de ingredientes e a tabela nutricional. 

 

No que diz respeito à rotulagem de produtos alimentares saudáveis, o que devemos ter em linha  de conta?  

Para efetuarmos uma escolha saudável, devemos ter em conta dois aspetos fundamentais: a lista  de ingredientes e a tabela nutricional. 

A lista de ingredientes apresenta os ingredientes presentes por ordem decrescente. Deste modo,  devemos evitar os produtos que apresentam adição de açúcares ou gorduras, especialmente  quando estes se encontram nos primeiros ingredientes listados. É aconselhável também, procurar  evitar produtos que contenham óleos vegetais (ex.: palma, girassol, amendoim, etc.), gorduras  hidrogenadas ou açúcar (ex.: mel, maltodextrina, malte de cevada, dextrose, sacarose, frutose,  etc.). 

Quanto à tabela nutricional, analisa-se sempre os valores por 100g, de forma a facilitar a  comparação entre produtos. O ideal é que por 100g, um alimento tenha menos de 3g de gordura,  menos de 1,5g de gorduras saturadas, menos de 5g de açúcar e menos de 0,3g de sal. 

 

Que selos e certificações são mais credíveis nesta área?  

Existem algumas certificações que nos indicam a ausência de determinadas substâncias ou as  condições de produção do alimento. Algumas destas certificações são:

  • V-Label, um selo  reconhecido a nível internacional para identificação de produtos vegetarianos e vegan; 
  • Gluten-free, que certifica a ausência de glúten;
  • O logótipo “Bio” da UE que confere uma identidade  visual coerente aos produtos orgânicos produzidos pela União Europeia;
  • A ASC que visa a  identificação de frutos do mar produzidos de forma responsável;
  • Rainforest Alliance  Certified®, que identifica produtos provenientes de cultivo sustentável, significando melhores  condições de trabalho, o acesso à educação, a proteção dos recursos naturais e a rastreabilidade  das matérias-primas.  

Um sistema recentemente implementado é o Nutri-Score, uma escala de classificação baseada  em cores e letras. Este sistema classifica os alimentos em cinco classes, numa escala de A  (representada pela cor verde) a E (representada pela cor vermelha). 

rótulos sustentáveis

Através desta escala são comunicadas, de forma simples e fácil, as propriedades nutricionais dos  alimentos, dando claras e intuitivas indicações de quais serão as escolhas alimentares mais  saudáveis.  

Este método é largamente reconhecido por autoridades de saúde, publicações científicas e pela  própria indústria alimentar. Porém, não substitui a consulta da informação nutricional. O Nutri Score é apenas um indicador simples, que permite comparar facilmente a qualidade nutricional de  produtos da mesma categoria.  

 

Quanto mais instruídos e sensibilizados estiverem os consumidores para a adoção de hábitos  saudáveis, maiores benefícios vão reconhecer aos produtos saudáveis

 

Fez uma dissertação sobre este tema. Quais as principais conclusões a que chegou?  

Os resultados obtidos no meu estudo permitiram concluir que a orientação para hábitos  saudáveis, a literacia nutricional e o packaging estão associados à perceção de um produto como  saudável e, por conseguinte, à sua intenção de compra.

O focus group e as entrevistas realizadas revelaram a associação em cadeia das variáveis em  análise. Ou seja, quanto maior a orientação para hábitos saudáveis, maior o interesse e a procura  por informação nutricional, resultando num maior nível de literacia nutricional. Por conseguinte,  estas duas variáveis contribuem para a forma como o consumidor analisa o packaging e interpreta  o rótulo alimentar, afetando a sua perceção de saudável.  

 

Que resultados mais a surpreenderam e porquê?  

Os resultados que mais me surpreenderam foram os obtidos no focus group. Foi criada uma  experiência com os participantes que consistiu na apresentação de dois produtos de marcas  conhecidas pela amostra de consumidores – os cereais Chocapic Original e a granola Fitness  Slow Release Energy –, ambos da mesma marca mãe – Nestlé.

Numa primeira fase, foi apenas  mostrada a frente de ambas as embalagens e pedido aos consumidores que escolhessem e  avaliassem qual a embalagem mais apelativa, qual dos produtos consideram mais saudável e  mais calórico. Após esta avaliação, foi mostrado também o verso das embalagens,  disponibilizando informação sobre os seus valores nutricionais e ingredientes. De seguida, fez-se  as mesmas perguntas à amostra de consumidores. 

A maioria dos participantes afirmaram que o Chocapic tem a embalagem mais apelativa,  essencialmente por estar associado à sua infância – Chocapic é a minha infância. Relativamente  ao produto que consideram mais saudável, no focus group, esta questão foi amplamente discutida  verificando-se a divisão de opiniões. Inicialmente, o Fitness foi apontado como o mais saudável  por conhecerem a marca e a identificarem como tal, no entanto, o participante 4, cuja profissão  está relacionada com a área da saúde, destacou que os cereais destinados a crianças têm de  seguir normas e valores nutricionais mais rigorosos e, nessa ótica, concluiu que o Chocapic  deverá ser igual ou mais saudável que o Fitness. 

Quando questionados sobre qual o produto mais calórico, as opiniões continuaram divididas, no  entanto, a maioria dos participantes apontaram as granolas como mais calóricas pela presença de  frutos secos e outros óleos. Todavia, alguns participantes, por considerarem o chocolate (presente  essencialmente no Chocapic) um ingrediente não saudável, continuaram a considerar o Chocapic  como o mais calórico. 

Após estas questões, deu-se início à segunda fase da experiência. Os rótulos de ambos os  produtos foram revelados e pediu-se à amostra de consumidores que os interpretassem e  comparassem. Todos os participantes perceberam que o participante cuja profissão estava  associada à saúde tinha razão e que, de facto, o Fitness, para além de ser mais calórico,  apresenta também mais lípidos. Os participantes chegaram à conclusão de que o Chocapic é  mais saudável que o Fitness, essencialmente através da análise das calorias, dos lípidos, do  açúcar, da fibra e do sal.  

 

O que podem as empresas de retalho aprender com os resultados do seu estudo? 

No que diz respeito aos contributos empresariais, os resultados obtidos permitem entender que,  quanto mais instruídos e sensibilizados estiverem os consumidores para a adoção de hábitos  saudáveis, maiores benefícios vão reconhecer aos produtos saudáveis e, como consequência,  maior será a sua intenção de compra. 

A procura por informação simples e credível no verso da embalagem é uma consequência de um  consumidor orientado para hábitos saudáveis. Deste modo, as empresas que operam neste setor  devem começar por desenvolver um produto que vá ao encontro das características que os  consumidores mais valorizam – baixa gordura, açúcar e calorias, com ingredientes de qualidade -,  de seguida, apresentar de forma simplificada os benefícios do seu produto, para que sejam  facilmente entendidos pela generalidade da população.

Os benefícios do produto devem estar  destacados na frente da embalagem, através de alegações nutricionais, mas também devem ser  facilmente entendidos e reconhecidos no verso, através de um rótulo com valores nutricionais que  corroborem as alegações proferidas.

Não obstante, um packaging apelativo não deve ser  descurado, as cores e o design revelaram-se importantes para a amostra de consumidores. A  marca do produto também permite inferências sobre o mesmo e, portanto, deve ser uma marca já  associada à alimentação saudável, gerando maior credibilidade no produto ou, se for uma marca  nova no mercado, deve posicionar-se como tal. 

Quanto ao retalho, os resultados do estudos verificaram que os consumidores valorizam as “zonas  green” que apresentam variedade e qualidade dos produtos saudáveis, são pouco recetivos à  mudança dos produtos de corredor, uma vez que dificulta a otimização do seu tempo, e preferem  a organização do ponto de venda por categorias de produto. Por outro lado, prestam maior  atenção ao merchandising de prateleira, junto ao produto.  

Milene Lourenço

Milene Lourenço

Tenho 23 anos e concluí recentemente mestrado em Marketing no  ISEG. Sou apaixonada pela área de FMCG e uma grande defensora de uma alimentação  saudável e consciente.  

Atualmente trabalho como project manager numa agência de Marketing.

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As marcas fast fashion têm adotado a introdução de linhas de moda sustentáveis. Fomos falar com a Maria Beatriz Costa, que realizou uma tese sobre o tema, para compreender melhor este fenómeno.

 

 

Em que consiste a fast fashion?

 

O conceito de fast fashion surgiu depois de 1980, quando a indústria da moda começou a ser moldada pela necessidade constante do consumidor de adaptação às tendências. Neste sentido, as empresas começaram a adaptar os seus processos de produção, através da redução do ciclo de vida dos seus produtos para responder com mais eficiência e rapidez às necessidades de moda do consumidor.

Como resultado, surgiu o modelo de fast fashion que tem como foco o crescimento económico e caracteriza-se pela oferta de artigos de baixo preço dentro das últimas tendências de moda através da otimização dos processos necessários para trazer os produtos ao consumidor final.

Neste seguimento, a Zara e a H&M surgem como representantes deste modelo. Estas empresas conseguiram tirar partido das suas cadeias de fornecimento flexíveis, alterando com frequência os seus inventários, de modo a adotarem uma resposta mais rápida às tendências. A título de exemplo, a Zara produz mais de 20 coleções todos os anos.

 

As marcas não podem continuar apenas focadas em terem um bom desempenho económico e os consumidores devem ser mais conscientes, não só nas compras que fazem, como também nas ações que tomam

 

Há uma evolução na indústria da moda no que diz respeito à sustentabilidade?

 

No que diz respeito à sustentabilidade, a indústria da moda, particularmente as marcas de fast fashion, têm-se focado principalmente na sustentabilidade económica, desconsiderando os impactos negativos no ambiente e sociedade como a emissão de gases de efeito estufa e consequentes alterações climáticas, a poluição da água e solos e a existência de sweatshops onde as condições de trabalho são bastante precárias.

Contudo, nos últimos anos, sendo cada vez mais evidentes os impactos negativos desta indústria, houve uma mudança na indústria da moda, tendo sido colocado uma maior ênfase na sustentabilidade ambiental e social. Particularmente, surgiram novos modelos, como o slow fashion, que se focam numa abordagem holística na implementação da sustentabilidade no ciclo de vida dos produtos.

Para além disso, foram criadas várias campanhas globais de sustentabilidade, como o 2020 Circular Fashion System Committment, com o objetivo de incentivar as empresas a adotarem práticas mais sustentáveis e foram desenvolvidas várias ferramentas com o propósito de medir o impacto ambiental e/ou social das empresas pertencentes a esta indústria.

Em relação às marcas de fast fashion, grande parte começou a adotar iniciativas sustentáveis com o objetivo de começar a integrar o conceito de sustentabilidade e, ao mesmo tempo, melhorar a sua imagem face às críticas recebidas, sendo que uma das estratégias escolhidas foi a introdução de linha sustentáveis.

 

Fez uma dissertação sobre o desenvolvimento linhas sustentáveis. O que a motivou a fazer estudo?

 

Eu sempre soube que queria fazer uma dissertação dentro do tema da sustentabilidade, uma vez que é um tema que me interessa bastante. As marcas não podem continuar apenas focadas em terem um bom desempenho económico e os consumidores devem ser mais conscientes, não só nas compras que fazem, como também nas ações que tomam.

Dito isto, penso que a sustentabilidade deve tomar um papel cada vez mais importante nas nossas vidas se queremos preservar o nosso planeta.

Escolhi estudar linhas sustentáveis de marcas de fast fashion por múltiplas razões.

  • Em primeiro lugar, porque existe uma escassez de estudos semelhantes.
  • Para além disso, como a sustentabilidade e o fast fashion são muitas vezes percecionados como polos opostos, achei interessante estudar este tema e ganhar uma maior compreensão das perceções que os consumidores possuem em relação a estas linhas.
  • Adicionalmente, escolhi este tópico pois considero que embora a introdução de linhas sustentáveis não seja uma solução completa face aos problemas na indústria da moda, poderá representar um passo na implementação do conceito de sustentabilidade no modelo de fast fashion e, por conseguinte, influenciar os consumidores de moda a adotarem comportamentos mais sustentáveis.

 

 

linhas de moda sustentáveis

 

Dê-nos um exemplo de uma marca que tenha desenvolvido uma linha sustentável.

Em que consiste essa linha? O que a diferencia da roupa convencional?

 

O número de marcas de fast fashion com linhas sustentáveis tem vindo a aumentar nos últimos anos. A Zara, por exemplo, lançou, em 2015, uma linha sustentável denominada Join Life com o objetivo de reforçar as atitudes responsáveis do grupo Inditex, sendo depois expandida para outras marcas do grupo.

O que diferencia esta linha dos produtos convencionais são os vários requisitos que a linha deve cumprir, tanto ao nível ambiental como social. Estes requisitos seguem o índice Higg Index, desenvolvido pela Sustainable Apparel Coalition, que tem como objetivo medir o impacto ambiental e social das empresas de têxteis.

Além das auditorias ambientais, que têm como propósito verificar se as fábricas que consomem mais água e energia na produção e manutenção de têxteis cumprem os requisitos ambientais e as auditorias sociais que têm como objetivo garantir o respeito pelos Direitos Humanos e Direitos Fundamentais do Trabalho, os produtos desta linha utilizam matérias-primas e/ou tecnologias de produção que visam minimizar o impacto ambiental.

 

Na sua opinião, os consumidores valorizam a sustentabilidade quando compram artigos de moda? Há uma evolução no seu comportamento?

 

Na minha opinião, embora haja uma consciência e preocupação crescente com os impactos negativos da indústria da moda, o número de consumidores que procura e compra artigos de moda sustentáveis ainda é bastante reduzido.

Segundo os resultados do meu estudo, os consumidores demonstraram ter perceções pouco favoráveis em relação à marca de fast fashion, mas atitudes favoráveis em relação à linha sustentável.

Ou seja, o nível de sustentabilidade da marca de fast fashion não foi um fator determinante na avaliação da linha sustentável. Além disso, o preço e estilo foram escolhidos como os fatores mais importantes na compra de artigos de moda e a sustentabilidade ambiental e social, os menos importantes.

Deste modo, as preocupações dos consumidores ainda não se traduzem na compra de artigos de moda sustentáveis e a sustentabilidade dos mesmos ainda é vista como um acréscimo.

Ou seja, os consumidores só compram artigos sustentáveis se estes atenderem às suas necessidades de moda e se o preço for semelhante aos produtos convencionais da marca.

 

A imagem de marca é um dos fatores mais importantes para o sucesso da linha sustentável

 

Que marcas se destacam, na sua opinião, positivamente nesta área? Porquê?

 

Uma marca que se destaca positivamente nesta área é definitivamente a H&M. A H&M foi uma das marcas de fast fashion pioneiras na integração da sustentabilidade no seu modelo de negócios e continua a ser pioneira na identificação e desenvolvimento de novas soluções que visam minimizar o seu impacto no ambiente e na sociedade.

Os esforços sustentáveis da marca não se limitam apenas à sua linha sustentável, denominada por Conscious, que contém os produtos que cumprem os requisitos mais elevados de sustentabilidade, mas também aos restantes produtos da marca, desde o design ao seu fornecimento, incluindo também o consumo dos produtos e o seu descarte através de um programa de reciclagem de artigos de moda, promovendo assim um modelo circular.

Segundo o CEO da marca, Karl-Joan Persson, o grande objetivo da H&M é que a moda seja sustentável e ser sustentável esteja na moda.

 

Que conselhos daria a uma marca de moda que queira vir a desenvolver linhas sustentáveis?

 

Tendo em consideração os resultados do meu estudo, a imagem de marca é um dos fatores mais importantes para o sucesso da linha sustentável.

Neste sentido, uma imagem de marca forte que transmita confiança aos consumidores, permite reduzir o risco na introdução de linhas sustentáveis, uma vez que aumenta a credibilidade da marca e, por conseguinte, a dos produtos sustentáveis.

Adicionalmente, a semelhança entre a imagem da linha sustentável e a imagem da marca pode facilitar a aceitação de produtos sustentáveis pelos consumidores.

Neste seguimento, as marcas devem desenhar produtos que envolvam práticas sustentáveis e, ao mesmo tempo, satisfaçam os desejos do seu consumidor, uma vez que as perceções de sustentabilidade da empresa não foram consideradas um fator relevante para o sucesso da linha sustentável.

Dado que os produtos sustentáveis não usufruem das economias de escala que os produtos convencionais possuem e as matérias-primas utilizadas são geralmente mais caras, o que dificulta a redução dos preços e a lucratividade dos mesmos, as marcas podem-se focar na semelhança entre o estilo das linhas sustentáveis e os seus produtos convencionais, uma vez que é um dos fatores mais valorizados na compra de artigos de moda.

 

Maria Beatriz Costa

Tem 23 anos e após ter concluído a licenciatura em Economia, decidiu tirar um mestrado em Marketing devido à sua grande paixão por esta área e tudo o que a mesma pode influenciar no desenvolvimento estratégico das empresas. Inicia agora o seu percurso profissional, ambicionando desenvolver as competências necessárias para se tornar uma profissional de marketing bem-sucedida.

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Um dos objetivos do Green Purpose é dar voz e visibilidade a projetos e ações sustentáveis, que ajudem a inspirar outras pessoas e organizações. Sejam elas dos setores mais óbvios, ou não. Nesse sentido, não poderíamos estar mais felizes com a disponibilidade da Cláudia Rodrigues, Portugal Marketing & Communications Head da Samsung, para partilhar connosco a visão e ações que a Samsung incorpora, levando a sustentabilidade ao setor da tecnologia.

 

 

A nível internacional, a Samsung realizou uma iniciativa chamada “Planet First”. Em que consistiu? De que forma Portugal aderiu à campanha?

 

A iniciativa Planet First tem por base a reciclagem de plástico e a recolha de resíduos de equipamentos eletrónicos obsoletos e a utilização de plástico reciclado em novos produtos.

Com esta ação a Samsung estima que até ao final deste ano sejam recolhidas cerca de 3,8 milhões de toneladas de resíduos. Além disso, 90% dos equipamentos respondem aos padrões de marca verde que se traduz na redução da emissão de gases de efeito estufa até 250 milhões toneladas no período entre 2009-2020.

No caso particular de Portugal, nos últimos anos, temo-nos associado ao Ponto Eletrão para a operacionalização desta iniciativa, sendo que este ano desafiámos também os nossos concessionários para que pudéssemos alargar a área de atuação e fazer chegar a mais empresas e instituições, no território nacional, a importância da recolha de equipamentos elétricos e eletrónicos, pilhas e lâmpadas.

Desde 2018, que conciliamos a esta iniciativa uma dimensão social, revertendo a quantidade de lixo eletrónico em valor que doamos a instituições promovendo também assim a área da responsabilidade social.

Esta vertente da parceria com o Eletrão e os nossos concessionários técnicos significa muito nós, porque é um contributo concreto que damos na melhoria da vida das pessoas e do planeta. Assumimo-la como parte da estratégia de Responsabilidade Social Corporativa da Samsung na medida em que concretiza os princípios pelos quais nos regemos enquanto empresa global.

 

Um dos maiores desafios do setor em que a Samsung opera tem a ver com a eficiência energética. Que iniciativas têm sido levadas a cabo para promover este tema?

 

Vivemos tempos de rutura, potenciados pela forma como entendemos e vivemos a tecnologia, e pelo crescente compromisso relativamente à conservação de recursos. Alterações que afetam, quer a produção de equipamentos tecnológicos, como o seu consumo a nível universal. Estamos perante uma nova era, onde é essencial que as grandes tecnológicas se preparem e se convertam em agentes ativos da mudança dos atuais modelos de negócio.

O desenvolvimento de produtos de elevada eficiência energética, é uma necessidade global para a preservação do meio ambiente.

Tendo em conta o compromisso da marca a nível de sustentabilidade e de redução da pegada ecológica, é de extrema relevância disponibilizar uma gama de produtos de elevada eficiência, além de se responder à procura crescente por parte dos consumidores nacionais (por exemplo, a procura de soluções mais eficientes em Combinados A+++ cresceu mais de 60% – dados internos de vendas).

 

A Samsung incorpora a sustentabilidade ao longo de toda a cadeia de valor? De que forma?

 

Através de uma gestão cuidadosa, consideramos os fatores ambientais em todo o ciclo de vida dos nossos produtos, incluindo o fornecimento de matérias-primas, design, produção e comercialização.

Indo além da prática convencional de utilizar recursos uma vez e descartá-los, a Samsung trabalha para assegurar que os recursos podem ser reutilizados mediante a recuperação, reutilização e reciclagem após o fim da vida útil do produto.

Através desta economia circular, estamos a reduzir a quantidade de recursos naturais usados, a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e de poluentes provenientes da incineração dos resíduos, e a prevenir a contaminação do solo e das águas subterrâneas causada pelos aterros.

 

Um tema que está nas agendas na atualidade é a economia circular. Que iniciativas a Samsung tem feito para promover esta tendência crescente?

 

Mais do que iniciativas a economia circular está presente há muito na Samsung.

Ao reforçarmos a durabilidade dos nossos produtos antes do lançamento (através de uma série de testes de fiabilidade rigorosos, da disponibilização de uma rede de serviços de reparação convenientes em dezenas de locais de atendimento e com uma aposta em atualizações contínuas do software), a Samsung está a alargar a vida útil dos seus produtos, contribuindo para a economia circular. Porque essa é a melhor forma de sermos sustentáveis – fabricando produtos duradouros de boa qualidade.

 

 

samsung - food skills

 

 

 

Na eletrónica de consumo, quais são as preocupações com a sustentabilidade por parte dos consumidores?

 

O consumidor é o agente facilitador de todo o processo e devemos concentrar-nos que a consciencialização ambiental está também a aumentar, através das novas gerações. Este será um fator crucial de implementação dos modelos circulares e aqueles que fecharem os olhos a esta realidade, perderão a capacidade de competir neste novo mundo.

Além disso, para fomentar o desenvolvimento de equipamentos mais sustentáveis e reduzir genericamente o consumo de energia, a União Europeia aprovou nova legislação energética aplicável a grandes domésticos (Equipamentos de Refrigeração, Máquinas de Lavar Roupa, Máquinas de Lavar e Secar Roupa, Máquinas de Lavar Loiça) que entra em vigor a partir de 01 de Março de 2021.

A nova legislação vem apresentar novas escalas e métodos de cálculo, de forma a “obrigar” os fabricantes a novos saltos tecnológicos para conseguir produtos que estejam no topo da tabela de eficiência energética e que estes respondam às novas exigências dos consumidores.

Mas o compromisso com a sustentabilidade vai além do produto que comercializamos. Assumimos desde sempre que o que move a marca Samsung é a melhoria da qualidade de vida das pessoas, e como a tecnologia desempenha um papel fundamental e facilitador. O projeto Food Skills, que lançámos em Março, tem como objetivo ajudar a capacitar as famílias para uma gestão alimentar mais consciente e acreditamos que este é um importante contributo para sociedade atual, numa perspetiva de sustentabilidade.

Tudo isto se aplica num conceito de comunicação a que apelidámos de Business to Society, que visa uma abordagem mais educacional: evitar a abertura desnecessária das portas do frigorífico ou congelador, gestão cuidada da lista de compras para só se comprar o que efetivamente faz falta e evitar o consequente desperdício alimentar.

Este ano também apresentámos pela primeira vez o “eco-packaging” na linha de TVs Lifestyle. As caixas feitas de cartão ondulado duplo, permitem que os consumidores possam facilmente reciclar ou reutilizar estas caixas de cartão de uma forma mais criativa.

Aplicámos um design de pontos que servem de molde para criação de pequenas mesas de apoio, suporte de revistas ou até casas para os animais domésticos. Pela boa aceitação que tivemos com esta ação, comprometemo-nos com extensão destas embalagens reutilizáveis para toda a gama QLED

 

 

Nos próximos anos, veremos um mercado tecnológico mais descarbonizado, mais renovável e mais flexível

 

 

 

Como é que a Samsung as incorpora nos produtos?

 

Nos próximos anos, veremos um mercado tecnológico mais descarbonizado, mais renovável e mais flexível.

Os desafios particulares desta época, de transição tecnológica e ecológica, não podem resumir-se a boas vontades e aos conceitos tão abordados como a sustentabilidade. Falamos de ações concretas que impactem não só a comunidade envolvente como a sociedade no seu todo.

Repensar a eficiência dos equipamentos que utilizamos e estabelecer objetivos para o meio ambiente SBT (Science Based Targets), em detrimento dos objetivos individuais das empresas, podem ajudar-nos a entender melhor a evolução da dinâmica tecnológica que estamos prestes a viver.

A Samsung tem procurado ao longo dos anos manter uma postura sustentável em todos os aspetos da produção de equipamentos eletrónicos, introduzindo padrões de certificação ambiental e possibilitando o aparecimento de novas soluções tecnológicas mais sustentáveis capazes de influenciar a forma como se comercializa, utiliza e gere cada dispositivo.

 

 

Em que medida a sustentabilidade faz também parte da comunicação interna e do quotidiano da Samsung?

 

Em linha com a nossa filosofia de empresa cidadã global, subscrevemos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, mobilizando uma nova geração de cidadãos a agir e alcançar metas como a degradação climática em conjunto.

Estamos mais do que nunca comprometidos com o pilar da sustentabilidade. Somos motores de mudanças positivas, e é por essa missão que lutamos todos os dias, sempre na procura de um mundo mais sustentável.

Envolvemo-nos ativamente em iniciativas com impacto em todo o mundo, nomeadamente em programas emblemáticos como o RE+ (programa de recolha de lixo eletrónico) e o Galaxy Upcycling (transformação de smartphones que já não são usados em dispositivos reciclados).

Em Portugal também temos um historial de promover campanhas ambientais, envolvendo os colaboradores e instituições locais.

 

A responsabilidade social corporativa é importante para a Samsung? Se sim, que iniciativas têm vindo a desenvolver junto da comunidade?

 

Na Samsung trabalhamos diariamente para promover a inclusão digital, para apoiar as comunidades locais e para fornecer aos jovens mais oportunidades e maior literacia digital.

Encaramos o nosso compromisso com a responsabilidade social de forma séria e totalmente transparente, focando-nos em áreas-chave como a educação e a acessibilidade.

Estamos profundamente empenhados nesta aposta da diversidade e na redução de desigualdades demonstrando o propósito da tecnologia como facilitadora e promotora de uma sociedade mais inclusiva e sustentável.

 

Cláudia Rodrigues 

Portugal Marketing & Communications Head – Samsung Iberia

Conta com 20 anos de experiência nas áreas do Marketing e Comunicação, e sempre na Indústria das Tecnologias de Informação. Atualmente tem a seu cargo a gestão estratégica da comunicação da subsidiária portuguesa da Samsung Electronics, tendo sob sua coordenação as áreas de relações públicas, redes sociais, digital, media e CRM, bem como comunicação interna e responsabilidade social.

Formada em Ciências da Comunicação e com uma pós-graduação em Marketing Management, mantém uma dinâmica regular de formação e aquisição de conhecimento, nacional e internacional. Acredita que para se ser um bom prático, é necessário ser-se um bom teórico. Saber aplicar a teoria à prática e utilizar a experiência da prática para repensar e questionar teorias é a base para manter ativo e reciclado o pensamento estratégico, bem como para garantir a flexibilidade necessária para aplicação de novas técnicas e ferramentas de atuação.

Realça a atual responsabilidade na liderança da transformação digital no Marketing e na Organização, ajudando a promover as competências digitais das equipas. Reconhece que, mais do que nunca, a Comunicação é a dimensão mais importante do Marketing porque é através dela que as empresas e as marcas entregam a sua proposta de valor e o seu propósito.

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Mid Atlantic Hostel - Açores

André, és um dos sete jovens que estão a transformar o mundo, diz-nos a Pangea. O que acreditas que vais fazer (e que já fizeste!) para transformar o mundo?

Eu sou um rapaz dos Açores, que nasceu no Caminho do Meio em Angra do Heroísmo. Adoro empreendedorismo, a capacidade de ser inovador, ser pró-ativo, encontrar oportunidades e fazer acontecer. Não é a criação de empresas que me apaixona, antes a atitude perante a vida e as estratégias para fazermos das fraquezas, forças e irmos em frente.

Comecei por organizar um dos primeiros eventos de empreendedorismo em Portugal que aconteceu na Ilha terceira e juntou 600 participantes, mais de 1% da população local. Ainda acontece hoje em dia. Depois vendi as coisas que tinha, falei com quase 100 empresas a procurar patrocínios e dei uma volta ao mundo a entrevistar pessoas que fazem acontecer. Numa expedição especial passei por 23 países. De Silicon Valley nos EUA, aos bairros de lata em África, queria, no momento de crise que passávamos recolher histórias inspiradoras para inspirar o nosso país a ir em frente. Isso gerou uma empresa, a “Faz Acontecer”, que hoje desenvolve uma série de iniciativas – escolas de empreendedorismo, eventos motivacionais, palestras e formações corporativos, uma série de TV – que tem tido algum impacto, mas, confesso, quando recebi esta nomeação achei que era um amigo a brincar comigo.

Quando percebi que era verdade, parei para pensar e, no fundo, o que sinto é que estou a fazer coisas de que gosto muito e faço-o porque acredito que podem trazer um impacto positivo para o meu país e comunidade. Se isso é mudar o mundo, então, se calhar, não é preciso fazer muito para mudar o mundo, é só fazermos o que nos apaixona e colocar alma nas coisas. E talvez seja por aqui que gostava de ver o mundo a caminhar: Que de alguma forma fosse um mundo que age mais com o coração, com mais empatia, responsabilidade e consciência.

 

A sustentabilidade passa também pelas questões de identidade, dos locais, das raízes, do ser-se genuíno. O que há dos Açores em ti?

Ui, tudo. Hoje, fruto da minha parte profissional passo uma boa parte do tempo fora da Região, mas tenho o coração sempre dentro. É um local mesmo especial com prados verdejantes, vista mar por todo o lado, lagoas, cascatas, montanhas de deslumbrar qualquer um e golfinhos e baleias à distância de uns binóculos.

É um local onde desde cedo estamos em ligação direta com a natureza e percebemos a importância de não apenas mantermos a sua essência, mas também de utilizarmos os recursos apenas na medida do que precisamos, não colocando em causa quem vem depois. É uma matriz que desde cedo me fez ter interesse no empreendedorismo sustentável, tema que estudo já há vários anos e que me levou a passar 6 meses na cidade sueca “Växjö”, cidade mais verde da Europa, onde tive oportunidade de falar e aprender com empreendedores, professores universitários e decisores políticos. 

 

Lançaste agora um projeto novo Mid-Atlantic Boutique Hostel, que já vinhas a preparar desde 2014. Que sonho é este?

A volta ao mundo que fiz em 2013-2014 foi um ano duro, sozinho no mundo com uma camara de filmar e mochila às costas a falar com pessoas inspiradoras, que não desistem e que fazem acontecer. Eu era um miúdo dos Açores que estudava em Lisboa, tinha a namorada no Porto e tinha ido a duas Queimas das Fitas a Coimbra. Sair para uma aventura destas com um orçamento estupidamente baixo foi uma loucura que me obrigou a dormir muitas vezes em estações de comboios, autocarros, aeroportos, procurar grupos de couchsurfing e até a dormir na rua. Comi mais vezes atum em lata do que as que gostaria, emagreci quase 10kg durante a viagem, fui assaltado e passei por sustos que nunca contei a ninguém, mas, curiosamente, repetia tudo.

Todos os sacrifícios que passei foram a ponte para ver o mundo como ele realmente é, sem filtros, e que me levou a conhecer empreendedores inspiradores, mas também muita gente que com toda a simpatia do mundo me mostrava os seus lugares com um brilho nos olhos.

Fui recebido por muita gente e desde essa altura fui alimentando o sonho de um dia ter na minha terra um espaço diferenciado para receber viajantes que, tal como eu, andam a conhecer o mundo. Depois de juntar os recursos necessários, encontrar “o” lugar, idealizar todos os pormenores e passar pelo processo de reconstrução do edifício e respetivos licenciamentos, em 2021 vai abrir o Mid-Atlantic Hostel, um hostel boutique com uma vista magnifica na baía de Angra do Heroísmo. Estou muito contente por depois de ter ido ao mundo, trazer agora o mundo de volta a casa.

 

De que forma a tua identidade e a dos Açores está presente no projeto?

O nome e conceito do projeto surgiram de uma conversa que tive durante a volta ao mundo com um rapaz, chinês, que conheci num hostel na Malásia. Ele contou-me que vivia em Pequim e perguntou-me de onde é que eu era. Como quase todos os Açorianos, nós nunca dissemos apenas que somos portugueses. Antes, respondemos sempre, “sou português, mas na verdade nasci numas ilhas que se chamam Açores. Ele perguntou-me onde ficavam, então abri o Google Maps onde do lado esquerdo se via a América do Norte e Sul e do lado direito Europa e África. Comecei a fazer zoom… zoom… até que começaram a aparecer no ecrã as nossas ilhas ao que ele diz espantado, “O quê?! Tu vives no Meio do Atlântico!?”.

Esta conversa ficou-me e marcou-me pelo que, quando pensei neste projeto, tive em conta o que vi e vivi nas centenas de hostels pelo mundo que visitei, e também um trabalho próximo e exigente com arquitetos, decoradores e historiadores locais para conseguirmos capturar neste espaço o “meio do atlântico”.

Hoje, o “Mid-Atlantic Boutique Hostel” tem um design cuidado incorporando esta identidade. Temos o azul profundo dos nossos mares, o negro do nosso basalto, o avermelhado da nossa bagacina, o amarelo que representa todo o património histórico e cultural vasto que remonta ao tempo dos descobrimentos e, claro, o nosso verde tão característico das nossas ilhas a que chamámos, “verde Açores”. Quem nos visitar vai certamente ter uma experiência diferenciada e genuína, tal como eu tive pelo mundo.

 

Um desafio: sempre que fosse dar um passeio, apanhar pelo menos 1 pedaço de lixo do chão na ida e outro na volta. Tenho cumprido este desafio que aproveito para lançar a todos os leitores. Não custa nada.

 

A sustentabilidade na vertente ambiental, está contemplada no projeto? De que forma?

Claro. Nem podia ser de outra forma. Optamos por ter apenas equipamentos com eficiência energética elevada, utilizamos bombas de calor, recuperador de calor a pallets e caixilharia que nos permite manter o espaço quente no inverno e fresco no verão, não havendo lugar a climatização e desperdício energético.

Para além disso, temos uma série de medidas tão simples como reciclagem, utilização de produtos de limpeza ecológicos e estamos a tentar encontrar fornecedores locais que nos permitam, tanto quando possível, eliminar os plásticos nos pequenos-almoços.

 

Como encaras o tema da sustentabilidade? Preocupas-te com este assunto no teu dia-à-dia? Que comportamentos tens no teu dia à dia que sejam com o intuito de reduzires a tua pega ecológica?

Reciclagem em casa, reutilização de sacos, compra de produtos ecológicos e certificados, assim como a compra de produtos (sempre que possível) que não utilizam plásticos é algo que faço – e fazemos – quer em casa quer nas minhas empresas, Faz Acontecer e agora no Hostel.

Adicionalmente, ganhei um hábito ao conhecer a Samantha Smith, jovem ambientalista do projecto OceanHope, que me lançou há cerca de 2 anos um desafio: Sempre que fosse dar um passeio, apanhar pelo menos 1 pedaço de lixo do chão na ida e outro na volta. Tenho cumprido este desafio que aproveito para lançar a todos os leitores. Não custa nada.

 

 

 

“Não se trata de não ter medo. Trata-se de ir em frente apesar do medo”, é uma frase tua. Qual o projeto que vem a seguir e já te faz sentir medo mas também a certeza que é para fazer acontecer?

Hoje dou aulas de Empreendedorismo no ISCTE-IUL, mas a volta ao mundo acabou por gerar muitos ‘sonhos’ pelo que tenho neste momento duas grandes aventuras (empresas), ambas sediadas nos Açores.

A ‘Faz Acontecer’, que procura inspirar e capacitar todos aqueles que querem fazer acontecer. Organizamos eventos motivacionais, temos uma escola de empreendedorismo, fazemos muita formação corporativa e temos um programa de televisão. Exportamos praticamente todos os serviços que prestamos e trabalhamos com algumas das maiores empresas em Portugal, mas também em outros destinos como Suécia, Dinamarca ou Angola. Nos Açores temos sobretudo feito o evento “Faz Acontecer Talks” que anualmente junta oradores de topo na Ilha Terceira e mais de quinhentos participantes naquele que é o maior evento de empreendedorismo na Região.

E o hostel que falámos anteriormente.

Nos próximos anos tenho já mais alguns projetos em mente para os Açores, mas vou dedicar-me também ao estudo do empreendedorismo sustentável em pequenas ilhas e pequenos lugares costeiros. São regiões que precisam de desenvolvimento económico e social, e ao mesmo tempo de conservar os seus recursos que são escassos e especiais. A forma de o fazer não está clara e foi pouco estudada não havendo um claro modelo de como fazê-lo. Comecei este ano letivo um doutoramento nesta temática e acredito que conseguirei produzir resultados que tragam valor quer a empreendedores, quer a decisores públicos. É um projeto que me deixa com algum “medo” pela responsabilidade que acarreta e pelo impacto que sei que teria em imensos territórios nacionais e internacionais. Dá medo, mas… vai mesmo com medo. 

 

 

André Leonardo 
Empreendedor, Viajante, Autor & Orador

“Um dos Sete Jovens que Estão a Transformar o Mundo” PANGEA (2016)

“Um dos Doze Jovens Líderes de Portugal” CNJ (2017)

Empreendedor, viajante, autor & orador e professor convidado no ISCTE-IUL.

Nasceu em Angra do Heroísmo, na Terceira, Açores. Mestre em Gestão pelo ISCTE-IUL, onde é professor convidado, especializou-se em estratégia e empreendedorismo e é fundador da empresa Faz Acontecer e do Mid-Atlantic Hostel.

Foi eleito em 2016 um dos “sete jovens que estão a transformar o Mundo” pela associação Pangea (Madrid) e, em 2017, um dos “doze jovens líderes de Portugal” pelo Conselho Nacional da Juventude (Lisboa). Tendo demonstrado desde cedo a sua capacidade de iniciativa, criou logo aos 6 anos um negócio de venda de flores porta-a porta. Aos 24, vendeu tudo o que tinha, recolheu patrocínios e partiu sozinho para uma expedição à volta do mundo para conhecer empreendedores – uma experiência que relatou no primeiro livro “Faz Acontecer” (2015). Foi ainda co-autor do livro “Pangea: siete jóvenes que están transformando el mundo”, publicado em Espanha (2016). Escreveu e apresentou a série televisiva ‘”Faz Acontecer” (Canal Q).

Num novo contexto de crise lança o seu segundo livro, “Faz Acontecer, Portugal” (2020) que resulta de uma odisseia, que o levou ao Norte e ao Sul do país, ao litoral e ao interior profundo, à Madeira e aos Açores. Aqui, André trouxe histórias de vidas de diversos sectores seja turismo, agricultura, mas também das tatuagens e das barbearias, que irão servir de inspiração a todos os portugueses que queiram iniciar o seu negócio.

André é hoje um dos speakers mais requisitados em Portugal tendo palestrado para mais de 42 mil pessoas em nove países diferentes. Já visitou quase 50 países, gerou milhares de euros para propósitos sociais, ajudou centenas de empreendedores a perseguir os seus sonhos e a concretizar projetos e estabeleceu contacto com mais de 300 gestores de topo e empreendedores de sucesso do mundo inteiro.

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A Joana dos Reis Silva ajuda-nos a perceber a fundo os desafios da arquitectura sustentável em Portugal, que começa logo nas Universidades, mas também a perceber melhor o que é verdadeiramente arquitectura sustentável, que vai muito além do uso de materiais sustentáveis. E ainda deixa (excelentes) exemplos de construções verdadeiramente sustentáveis.

 

arquitectura sustentável - Escola Secundária Lycee Schorge - Francis Kéré - 2

Projeto: Escola Secundária Lycee Schorge em Koudougou, Burkina Faso | Arquitecto: Francis Keré

Que desafios existem neste momento na arquitectura, relacionados com a sustentabilidade?

De acordo com o Portal de Arquitectura e Construção Sustentável (PCS) , Portugal é um dos países da UE que regista uma taxa de qualificação na área da Sustentabilidade mais baixa, especialmente no sector da Arquitectura.

Neste âmbito, são vários os desafios que identifico a nível nacional:

  • Por um lado, os planos de estudos dos cursos de Arquitectura nas Faculdades Portuguesas não contemplam unidades curriculares focadas na arquitectura sustentável;
  • Por outro, existe uma fraca/inexistente oferta de formação na área da sustentabilidade por parte da própria Ordem dos Arquitectos.

Resultado: Arquitectos pouco conhecedores das práticas sustentáveis e, consequentemente, uma escassa aplicação destas nos projectos de arquitectura. Esta lacuna reflete-se no reduzido número de gabinetes em Portugal que se focam, exclusivamente, na arquitectura sustentável.

Ainda assim, relembro que estes desafios são transversais a todas as áreas. Assistimos a um aumento do número de Empresas com departamentos dedicados à sustentabilidade, no entanto, ainda são poucas as pessoas formadas nesta área. Sendo a sustentabilidade um tema atual, haverá certamente, num futuro muito próximo, mais oferta neste sentido.

Para além destes desafios ao nível da formação, refiro ainda que, os Governos, Câmaras Municipais e entidades competentes têm um papel relevante a desempenhar como catalisadores de mudança. Especificamente, no que respeita à Arquitectura, esse esforço  deverá estar reflectido ao nível das políticas de ordenamento do território e nos respectivos Planos Diretores Municipais (PDM).

 

Em que se diferencia a arquitetura “sustentável” da “convencional”?

Podemos definir resumidamente arquitetura como a arte de projectar edifícios tendo como base um conjunto de princípios e regras próprias.

Para a definição de Arquitectura Sustentável é necessário entender que o conceito de sustentabilidade se encontra assente em três pilares: ambiental, social e económico. Contudo, existe uma interpretação redutora da arquitetura sustentável, que tende a ser vista apenas como uma “arquitectura verde”, focando-se essencialmente na dimensão ambiental. Esta interpretação traduz-se na imagem criada pelo público em geral:

  • Num extremo existe a visão de uma arquitectura com base em materiais naturais e técnicas de construção manuais, da qual é exemplo a arquitectura em terra (visão primordial);
  • No outro extremo, a criação de uma imagem de grandes edifícios envidraçados e inteligentes, com coberturas verdes e forte componente de inovação tecnológica como os que vemos em grandes cidades (visão futurista).

Como referido, a arquitetura sustentável ainda que assente em 3 pilares, desenvolve-se maioritariamente sobre o impacto no ambiente, tendo como pressupostos fundamentais para a preservação deste:

  • A utilização de princípios bioclimáticos;
  • A economia de energia e de recursos e a sua, possível, reutilização;
  • A utilização de materiais eficientes;
  • A redução de produção de resíduos;
  • Etc.

Dito isto, os outros 2 pilares da sustentabilidade (social e económico) são, por vezes, menosprezados, o que resulta numa arquitetura direcionada a um “nicho” pertencente a uma classe socio-económica mais alta.

Qual a importância que tem a escolha de materiais sustentáveis? Que tendências temos vindo a assistir neste momento?

Para um projecto de arquitectura sustentável (ou mais sustentável) a escolha dos materiais adequados é fundamental para um menor impacto ambiental. Contudo, importa esclarecer o conceito por trás de materiais sustentáveis: O que são? Serão estes, em si mesmo, sustentáveis?

Um material pode ser sustentável dependendo do projecto (localização geográfica, uso pretendido, tipo de construção) e da sua aplicação no próprio projeto.

Um exemplo que podemos dar é a cortiça. A cortiça é um material de origem vegetal, impermeável, isolante térmico e acústico e resistente ao fogo, tornando-se, por isso, um material emergente na arquitectura. Portugal é responsável por 50% da produção mundial de cortiça, pelo que a utilização deste material em projectos portugueses poderá ser uma opção sustentável. Ainda assim, a sua exploração desmedida poderá pôr em causa a própria produção, comprometer os ecossistemas e, tornar-se, por isso, insustentável.

É necessário ter em conta toda a cadeia de valor do material. Aos efeitos no meio ambiente da extração, transformação de matérias-primas com a finalidade de criar novos materiais, aplicação, manutenção dos mesmos e, eventual, eliminação/reciclagem, acresce ainda, o transporte da matéria-prima do local de extração até ao local de produção e posteriormente até à obra. Deverá por isso, dar-se preferência a materiais:

  • Extraídos/produzidos nas proximidades;
  • Reciclados, que promovam a circularidade;
  • Certificados e/ou homologados.
  • Mais que materiais sustentáveis, deverão utilizar-se materiais e soluções construtivas eficientes.

Neste contexto, tem-se assistido a uma maior preocupação, não tanto na escolha dos materiais “per se”, mas mais ao nível das soluções construtivas, com vista à eficiência energética tais como:

  • O dimensionamento dos vãos para minimizar a necessidade de sistemas de climatização;
  • A preferência por vãos de vidro duplo com corte térmico que conservam a energia e a reduzem em 40/60% a transmissão térmica e, por fim, a colocação de painéis solares térmicos (que captam energia solar para aquecimento de água) e painéis solares fotovoltaicos (que convertem a luz do Sol em energia eléctrica), entre outros.

 

 

arquitectura sustentável - Escola Secundária Lycee Schorge - Francis Kéré

Projeto: Escola Secundária Lycee Schorge em Koudougou, Burkina Faso | Arquitecto: Francis Keré

 

 

 Que arquiteto(s) têm vindo a desenvolver trabalho na área da arquitectura sustentável e que são uma referência para ti?

Gostaria de referenciar o trabalho do arquitecto Francis Kéré. Ainda que o tipo de construção não se aplique ao contexto português, as premissas pelas quais projeta são exemplares e poderiam/podem ser aplicadas a todos os projetos de arquitectura.

Francis Kéré nasceu no Burkina Faso, onde estudou e trabalhou em carpintaria. Beneficiando de uma bolsa de estudo, formou-se como arquiteto na Universidade Técnica de Berlim (Alemanha) e fundou o gabinete com nome próprio “Kéré Architecture”, na mesma cidade. A sua primeira obra construída, a escola primária de Gando (Burkina Faso), de onde é natural, valeu-lhe o Prémio Aga Khan de Arquitetura. No seu gabinete desenvolve projectos direcionados à responsabilidade social, aliando a técnica da Arquitetura Sustentável ao trabalho com as comunidades.

As suas obras são localizadas em zonas remotas, marcadas pela escassez de materiais e recursos, e onde os membros da própria comunidade assumem o papel de construtores. Como a mão-de-obra não é qualificada são utilizadas técnicas locais.

Kéré não pretende impor uma mudança no modo de vida das pessoas pela arquitectura, pelo contrário, promove uma ligação com as comunidades que vão usufruir do espaço, de modo a entender e valorizar as suas culturas e tradições, através da arquitectura. Possibilitando que os residentes nestas zonas sintam que fazem parte da obra, Kéré cria, assim, uma arquitetura participativa e utiliza-a de forma pedagógica.

Destaco o projecto da Escola Secundária Lycee Schorge (2016) em Koudougou (Burkina Faso) como um exemplo de arquitetura sustentável a seguir pois valoriza igualmente as 3 vertentes (ambiental, social e económica). Neste projeto, além do método de trabalho descrito acima, o arquitecto criou uma solução para o arrefecimento da temperatura no interior do edifício, colocando baldes com água junto à fachada que, através da acção do vento, encaminhado pela estrutura para o interior, arrefece o edifício.

No ano passado (2019) Kéré esteve presente na Exponor (Matosinhos) para a inauguração da sua exposição e, em declaração à Agência Lusa, afirmou:

A arquitetura precisa de ter em consideração todas as mudanças que estamos a passar, quer mudanças climáticas, mas também de limitação de recursos, para que não traga problemas ambientais.

À frase de Kéré adiciono, ainda, a necessidade da arquitetura deixar de ser um “luxo” e passar, tal como Kéré a pratica, a envolver todos os intervenientes. Só se atingirá a sustentabilidade necessária a uma arquitetura sustentável quando esta for aplicada globalmente.

 

Dê-nos um exemplo de um edifício que se enquadre no âmbito da arquitectura sustentável e que seja uma referência para si. Em que se destaca?

O do Eco-turismo “Rio do Prado” desenvolvido pelo arquiteto Sousa Santos, localizado na zona do Arelho é para mim um projeto de referência na área da Sustentabilidade. Talvez por ser um projeto na zona da qual sou natural (Arelho) e por, sem comprometer a envolvente natural, se conseguir destacar. Como diz o proprietário (Telmo Faria) “tirar partido dele [ecossistema da Lagoa de Óbidos] e não fragilizá-lo”.

Este projeto de hotelaria responde a várias questões relativas à sustentabilidade que deveriam ser replicadas de forma ampla ao sector da habitação, daí termos muito a aprender com este projeto.

Destaco algumas soluções implementadas neste que o tornam, para mim, uma referência:

  • As unidades (quartos) encontram-se semi-enterradas o que resulta numa redução da amplitude térmica no seu interior;
  • As águas da chuva (águas azuis) são armazenadas em reservatórios e utilizadas, posteriormente, na rega;
  • As águas domésticas provenientes dos banhos (águas cinzentas) são reutilizadas nas descargas do autoclismo e, só depois encaminhadas para a rede de esgotos;
  • Através de soluções de geotermia (captação de energia existente nos solos), da colocação de painéis fotovoltaicos e solares-térmicos conseguem melhorar a eficiência energética;
  • Ao nível da decoração também há uma preocupação de utilização de materiais nacionais; de reutilização de materiais sobrantes da obra que, de outra forma, seriam desperdiçados; de, através de up-cycling, aproveitar restos de materiais das indústrias portuguesas para criar peças de mobiliário presentes no empreendimento.

Embora nunca tenha estado hospedada no espaço, já o visitei e recomendo-o. Poderão ler mais informações sobre as práticas do Eco-Turismo Rio do Prado no separador “Sustentabilidade” na página oficial. http://riodoprado.pt/sustentabilidade/.

 

arquitectura sustentável - rio do prado

Projeto: Rio do Prado | Arquitecto Sousa Santos

 

Hoje em dia os seus clientes já valorizam estas questões? O que mais os preocupa?

A sustentabilidade é gradualmente uma preocupação transversal a todas as áreas de negócio. Acredito que na arquitetura não é diferente, contudo como referi acima há ainda alguns desafios a ultrapassar.

Aos desafios identificados, acresce o facto de, muitas vezes, o cliente não ser o utilizador final (no caso de um promotor imobiliário). Adicionalmente, as soluções são, frequentemente, inacessíveis monetariamente, só estando disponíveis para um público muito específico.

Dos anos que tenho de profissão e nos gabinetes onde trabalhei, a percepção que tenho é que as preocupações dos clientes quando procuram um arquitecto são essencialmente de ordem estética, ou de obter licenças conforme as normas camarárias, procurando, sempre, um baixo investimento (tanto na remuneração do próprio arquiteto como com gastos inerentes ao projeto de arquitectura). Contudo, ainda que sejam uma minoria, acredito que clientes com essas preocupações se dirijam a gabinetes “especializados”.

 

Sente que a arquitectura sustentável é uma moda ou é uma tendência que veio para ficar?

Acredito que a sustentabilidade seja uma tendência que veio para ficar e o sector da arquitectura não será diferente. A prática da arquitetura sustentável depende da acção de vários grupos/pessoas. Alguns destes grupos já estão a trabalhar neste sentido, sendo relevante mencionar os seguintes desenvolvimentos:

  • O Green Deal – Pacto Ecológico Europeu é um pacote de medidas da UE que visa promover uma economia mais sustentável e contempla, entre outros, a criação de um fundo para o financiamento de projectos sustentáveis;
  • Esse financiamento permitirá aos governos investir em programas como, em Portugal o “Programa de Apoio a Edifícios mais Sustentáveis”;
  • As câmaras municipais têm um papel fundamental no planeamento de soluções integradas (arquitectura, saneamento, transportes, urbanismo) detalhadas nos respectivos Planos Diretores Municipais (PDM).
  • Os promotores imobiliários, ao procurarem soluções mais sustentáveis, indubitavelmente, mostram que o utilizador final também está cada vez mais sensibilizado para estas questões.

Ainda que se verifique uma preocupação crescente, é importante referir que:

  • Financeiramente, o público geral não tem capital para investir em soluções de arquitectura sustentável, sendo esta, ainda, um produto de “nicho”;
  • A aplicabilidade destas soluções cinge-se, na sua maioria, a moradias e/ou construção nova, excluindo assim, grande parte da população que vive em apartamentos (em edifícios – nas zonas de Lisboa e do Porto – com mais de 40 anos);
  • Adicionalmente, o termo “arquitectura sustentável” ou “arquitectura verde” é, também, cada vez mais utilizado como ferramenta de marketing (greenwashing).

A título de conclusão e de reflexão futura refiro que o “Programa de Apoio a Edifícios mais Sustentáveis” mencionado acima, “tem como objetivo o financiamento de medidas que promovam a reabilitação, a descarbonização, a eficiência energética, a eficiência hídrica e a economia circular em edifícios, contribuindo para a melhoria do desempenho energético e ambiental dos edifícios.”

Concluindo, este programa refere “eficiência hídrica” algo que, até agora, tem sido esquecido (será?) em detrimento da “eficiência energética”. Numa altura em que a água começa a ser negociada no mercado de futuros, para quando será implementada uma estratégia circular hídrica dentro das nossas casas?

Se pensarmos que, no mínimo, são gastos 3Litros por cada descarga de autoclismo, se um casal fizer cerca de 10 descargas diárias, são, por dia, utilizados 30Litros de água potável em descargas. Ao final de um mês são 900L e ao final de um ano serão 10 800Litros. Se este número já é assustador, torna-se ainda mais quando considerada toda a população portuguesa. É, por isso, essencial e urgente criar sistemas de reutilização da água doméstica (dos lavatórios, duches e/ou banheiras) para as descargas do autoclismo e somente após esta utilização, encaminhadas para a rede de esgotos.

A arquitectura tem, por tudo isto, um papel preponderante na estratégia para um mundo mais sustentável. Se esta ainda não for uma preocupação individual, tornar-se-á obrigatoriamente no futuro, pois o nosso planeta não conseguirá suportar o impacto das nossas acções actuais!

 

Joana dos Reis Silva 

É arquitecta, tem 28 anos e é natural das Caldas Rainha. Desde muito cedo que se preocupa com as alterações climáticas e se interessa por descobrir propostas para o combate às mesmas, tentando incorporá-las no seu estilo de vida.

Formada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa (2010-2016), a sua Tese Final de Mestrado, intitulada “O Equipamento como motor de regeneração urbana da cidade de Luanda – O Centro Cultural Sustentável de Luanda”, resulta desta vontade de aliar a arquitetura à sustentabilidade.

Ao longo dos últimos três anos (2017-2020), trabalhou na sua área de formação, tornando-se Arquitecta inscrita na Ordem dos Arquitectos. Devido à pandemia ficou desempregada e aproveitou a baixa do mercado para investir na área pela qual tem paixão, inscrevendo-se na Pós-Graduação em “Gestão da Sustentabilidade” no ISEG.

Tendo o objetivo de construir a sua carreira na direção da Sustentabilidade, acredita que a Pós-graduação, aliada à sua formação de base, lhe permitirá ter um posicionamento diferenciador no mercado, permitindo mesmo prestar consultoria em projectos de arquitetura sustentável.

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Temos muito a aprender com a Inês Ribeiro em Sustentabilidade. Pela formação que tem e pela empresa que criou em parceria, mas essencialmente pelos projetos em que já participou.

 

 

És co-fundadora da BoG – Environmental Consulting. O que a motivou a lançar o projeto? Que problemas ajudam as empresas a resolver na área da sustentabilidade?

A BoG [de Back On Green] é um sonho partilhado, daqueles que nem sabia bem que tinha. Embora com poucos anos no mundo trabalho, após ter a oportunidade de conhecer e participar em alguns projetos nacionais e internacionais e de ficar muitas vezes com a perceção de não me identificar na totalidade com a forma como as coisas aconteciam, uma amiga, a Débora Carneiro, que à data era também ex-colega de trabalho, desafiou-me a começarmos uma coisa nossa, à nossa imagem… e disse-lhe logo que sim.

Assim, de uma vontade enorme de fazer as coisas de forma diferente, com que nos identifiquemos, que reflitam o que somos, os nossos valores e as coisas em que acreditamos, nasceu a BoG, oficialmente a 3 de abril de 2019.

Somos uma empresa de consultoria e prestação de serviços cujo propósito passa por conceber soluções técnicas adequadas para problemas complexos nas áreas de ambiente, sustentabilidade e economia circular. Trabalhamos com o setor privado e também para um conjunto de instituições públicas no mercado nacional e em diversos mercados internacionais, como Cabo Verde, Angola, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe, entre outros.

 

De todas as iniciativas levadas a cabo na BoG, qual destacas?

A sustentabilidade é mesmo um tema cada vez mais em voga, no entanto, em determinados contextos, como as cidades e territórios, temos verificado que para a gestão de topo por vezes torna-se difícil lidar com a complexidade do tema, com as diversas agendas e compromissos, com a articulação de todos os fatores numa perspetiva de curto, médio e longo prazo, assim como com a avaliação da sustentabilidade das ações e o impacte na qualidade de vida da população.

São necessárias ferramentas que monitorizem, avaliem e, mais do que isso, que apoiem a gestão. A BoG tem vindo a desenvolver a aplicação em contexto nacional dessas ferramentas, nas várias fases do processo.

Temos verificado também, de forma transversal às nossas várias áreas de trabalho, a existência de uma dificuldade de comunicação dos nossos clientes para com o seu público alvo das mais valias associadas a determinado projeto. Para colmatar essa dificuldade, estamos a desenvolver uma matriz de comunicação, que fornecemos aos clientes no contexto dos projetos, que facilite a transmissão de informação de forma mais eficaz e clara para todos.

 

Pertences à Smart Waste Portugal Young Professionals.

Qual o propósito deste movimento? Quais as suas principais iniciativas e metas?

O grupo de trabalho SWYP é um fórum para jovens profissionais, até 35 anos, com atividade profissional e/ou interesse no setor dos resíduos. O propósito prende-se com criar redes de trabalho e promover a partilha de conhecimento entre jovens que vejam nos resíduos importantes recursos económicos e sociais, apoiando o desenvolvimento das nossas carreiras e incentivando a troca de experiências.

Organizamo-nos em quatro áreas distintas para a concretização das atividades: educação, investigação & inovação, comunicação e marketing do grupo, mentoria e desenvolvimento de carreira. Todos os jovens com interesse na temática são bem-vindos!

 

sustentabilidade - 3 pilares

 

Estiveste em S. Tomé e Príncipe através da “TESE – Associação para o Desenvolvimento” a desenvolver um projeto de Sustentabilidade e Economia na Gestão de Resíduos.

Em que consistiu este projeto?

A TESE está em São Tomé e Príncipe há já alguns anos e pelo menos desde 2013 que trabalha no setor dos resíduos, com projetos cofinanciados pela União Europeia e Instituto Camões. Tive a oportunidade de colaborar no “+Valores | Sustentabilidade e Economia Verde na Gestão de Resíduos”, um projeto com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável e inclusivo, o reforço da boa governação e a redução das desigualdades socioeconómicas.

Era um projeto ambicioso, sobretudo porque não consistia apenas em “dar” bens materiais ou replicar soluções anteriormente aplicadas noutros contextos, mas sim em criar ferramentas de base e estratégias que permitissem ao país melhorar a sua gestão de resíduos e, consequentemente, a qualidade de vida da população, mesmo após a conclusão das atividades.

Claro que não foi tudo perfeito, mas senti sempre que passos importantes estavam a ser dados. A verdade é que temos de começar por algum lado, mas as verdadeiras mudanças demoram muito tempo a acontecer… basta olhar para o exemplo português: em 2000, a Sociedade Ponto Verde lançava um anúncio televisivo com o mote “Se o Gervásio consegue, tu também conseguirás”. Quase em 2021, continuamos longe do necessário. O problema é que STP não tem 20 anos, mas isso daria outra conversa!

O que aprendeste nesta passagem por S. Tomé relativamente à sustentabilidade?

Esta não é fácil, mas vou tentar resumir em três coisas:

  1. Consolidar a certeza de que a sustentabilidade não se pode individualizar em cada um dos seus pilares, porque sobretudo nestes contextos o benefício social e ambiental é ainda mais indissociável, quer um do outro, quer da questão económica;
  2. A convicção de que as pequenas coisas fazem a diferença no dia-a-dia e que soluções simples podem ser implementadas com um benefício enorme para a população;
  3. Por fim, foi a perceção de que eu não estava a fazer o suficiente – lá nem sempre era fácil, mas num país como Portugal, onde é tão fácil fazermos escolhas melhores, senti que tinha obrigação de fazer mais. Assim, quando voltei, a sustentabilidade passou a fazer ainda mais parte da minha vida e passei a fazer escolhas mais conscientes. A nível profissional, a minha passagem por STP levou a que me inscrevesse na Pós-graduação em Gestão da Sustentabilidade, para conseguir direcionar a minha atividade também para esse campo.

Para quem se quer iniciar e aprender mais sobre sustentabilidade, que livros recomendas?

Deixo dois! O primeiro é o “Factfulness”, do Hans Rosling, que interpreto como uma mensagem de esperança, que nos mostra que o mundo está melhor do que pensamos.

O segundo é o “Desafio Zero”, da Eunice Maia, fundadora da loja-projeto Maria Granel. A adoção do conceito de “zero waste” é uma necessidade, mas pode ser assustador quando não sabemos bem por onde começar e achamos que temos de fazer “tudo” ou, caso contrário, não valerá a pena. E isso não é verdade – todos os gestos contam e o livro é um ótimo ponto de partida para uma presença com menor impacte negativo no planeta.

Maria Inês Ribeiro

29 anos, apaixonada por livros, viagens e humor e a tentar todos os dias viver uma vida com a menor pegada possível. Mestre em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e pós-graduada em Gestão da Sustentabilidade pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, tem participado nos últimos cinco anos em diversos projetos na área do ambiente, com destaque para as áreas de Estudos Ambientais, Resíduos e Sensibilização, em Portugal e nos PALOP.

Descobre os projetos de consultoria da Inês em www.bog-ec.pt

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O documentário Cowspiracy alertou-nos para o impacto ambiental do consumo de produtos de origem animal, nomeadamente carne. A nossa conversa com Duarte Torres, professor universitário e fundador da Snood Foods, centra-se nas leguminosas, na forma como são sustentáveis, fundamentais para uma alimentação equilibrada e saudável e na Bean’Go, que comercializa snacks sustentáveis. 

Leguminosa - Manga e Pimentão

A Snood Foods, que já está presente em algumas grandes superfícies, como surgiu? Identificou alguma necessidade de mercado? 

Sim, neste momento os snacks Bean’Go estão disponíveis no Pingo Doce e na Go Natural e muito em breve estaremos em ainda mais cadeias do país. Tudo começou em 2015, quando estive envolvido no Inquérito Alimentar Nacional que pretendeu fazer um retrato do consumo e dos hábitos alimentares dos portugueses e percebi que, à semelhança do que acontece com outros países, o consumo de leguminosas estava bastante abaixo daquilo que é recomendado para a população portuguesa (de acordo com o Inquérito Alimentar Nacional www.ian-af.up.pt o consumo médio diário de leguminosas nas crianças e adolescentes portugueses é de 3 a 5 g e nos adultos e idosos situa-se entre os 7 a 10 g, em peso seco, um valor muito inferior às recomendações alimentares preconizadas pela roda dos alimentos portuguesa, 25 a 50 g).

A partir daí, comecei a pensar em formas de incorporar facilmente este alimento nas nossas rotinas. Devido à falta de variedade no mercado de snacks ao nível de alternativas simples e saudáveis começámos assim a explorar o potencial das leguminosas num snack, o que levou à criação dos Bean’Go.

 

Sente que a motivação principal das pessoas na procura por alimentos biológicos é a questão ambiental, ou uma questão individual de saúde? 

Sabemos, através de estudos realizados em outros países europeus, que um maior cuidado com a saúde e com o ambiente são as duas grandes motivações para o consumo de produtos biológicos. É difícil dizer qual é a principal. Em Portugal, não temos dados representativos sobre as motivações, mas sabemos que o consumo de produtos biológicos é maior em pessoas com maiores níveis de escolaridade que vivem em áreas predominantemente urbanas (resultados do IAN-AF).

Para a produção dos Bean’Go, procuramos os fornecedores de leguminosas com as melhores práticas ambientais, mas a oferta de leguminosas de produção biológica é ainda muito escassa.

 

É um defensor das leguminosas como alimentos cruciais para uma alimentação correspondente com o planeta que desejamos.

Pode explicar-nos um pouco melhor em que medida são fundamentais para um planeta sustentável?

Um dos grandes desafios que enfrentamos é, sem dúvida, o de produzir alimentos em quantidade e qualidade suficientes para todos, sem que isso afete de forma irreversível o equilíbrio do nosso planeta.

Produzir alimentos é uma atividade com grande impacto nos ecossistemas, ocupa grandes áreas da superfície do planeta, muitas vezes à custa da destruição de biodiversidade, consome muita água e liberta muitos gases com efeito estufa. O desafio que temos é o de fazer chegar mais alimentos aos pratos das pessoas, e, simultaneamente, reduzir a área ocupada para os produzir, gastando menos água e emitindo menos gases com efeito estufa.

Isto não se consegue sem uma forte redução do desperdício alimentar (ainda desperdiçamos cerca de 1/3 dos alimentos que produzimos), e uma forte diminuição do consumo de produtos de origem animal, cuja produção consome muito mais recursos que a produção alimentos de origem vegetal.

Por exemplo, para produzir igual quantidade de proteína, a emissão de gases com efeito estufa quando cultivamos leguminosas são centenas de vezes inferiores às que se observam quando produzimos carne de vaca.

Para além dos aspetos anteriores, as leguminosas fazem parte de um grupo restrito de plantas que vivem em simbiose com bactérias que desenvolveram a capacidade de fixar azoto atmosférico. Este processo, designado por “fixação biológica de azoto” é particularmente importante para a produtividade agrícola global, e pode ser considerada um dos processos biológicos mais importantes do planeta, segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO). O cultivo de leguminosas é portanto insubstituível para a preservação da fertilidade dos solos agrícolas. 

 

Tem algum produto estrela, com maior procura? Quais os seus principais atributos e benefícios?

Neste momento a Bean’Go oferece quatro sabores:

  1. grão-de-bico com sal
  2. ervilha com sal
  3. feijão com manga e pimentão
  4. grão-de-bico com tomate e orégãos

E em breve iremos lançar novos sabores. O sabor mais vendido é grão de bico tomate orégãos, mas o feijão manga pimentão, lançado recentemente também tem tido bastante procura.

Em termos nutricionais, apresentam menos de 99 calorias por pack, 2,5x mais proteínas, 50% menos gordura, 40% menos sal, e 2,8x mais fibras do que outras opções disponíveis no mercado.

leguminosas - tomate e oregãos

Fale-nos um pouco do processo de fabrico dos vossos produtos. Quais as principais etapas e qual o vosso compromisso com a sustentabilidade nesta fase?

A partir de uma seleção cuidada de leguminosas (grão de bico, ervilhas ou feijão), estas começam por ser cozidas e trituradas para formar uma massa que depois é recortada em pequenos círculos.

De seguida, estes vão ao forno onde, sem frituras, ganham a sua textura crocante. No final passam pela incorporação de aromas naturais, como tomate, ervas aromáticas, entre outros. 

Em relação ao nosso compromisso com a sustentabilidade, acreditamos que ao promover o aumento da produção de leguminosas para consumo humano estamos a contribuir para a um sistema agroalimentar mais sustentável, melhorando a fertilidade dos solos agrícolas, diminuindo as necessidades de utilização de fertilizantes e diminuindo a libertação de gases com efeito estufa.

O consumo de proteína vegetal através do consumo de leguminosas diminui a necessidade de produzir e consumir proteína de origem animal. Desta forma estamos também a diminuir o impacto ambiental do sistema de produção alimentar.

 

Quem é o público alvo da Snood Foods, um cliente mais jovem e informado ou de meia idade preocupado com a saúde? 

Temos um produto bastante versátil, que tanto pode ser consumido pelo jovem que o acompanha com uma cerveja, como pelo filho que o leva para a escola como lanche ou o pai entre reuniões do trabalho. Como tal, o nosso target são pessoas que procuram opções alimentares rápidas e saborosas, mas sem descurar da saúde. 

 

Têm existido alterações nos hábitos alimentares, por exemplo com o aumento de vegans. Como vê esta tendência e de que forma dão resposta a esta necessidade crescente?

O consumo vegan tem crescido e é natural que continue a crescer, embora ainda represente um pequeno nicho de mercado. Os Bean’Go não incluem qualquer ingrediente de origem animal e são perfeitamente adequados em regimes alimentares restritivos como o veganismo. Mas os Bean’Go são, mais do que qualquer outra coisa, uma forma de alargar os espaços e promover ocasiões para o consumo de leguminosas. As leguminosas são alimentos únicos, são simultaneamente uma boa fonte de proteínas, de fibras, e de várias vitaminas e minerais. A sua inclusão na dieta está associada a efeitos fisiológicos benéficos que contribuem para o controlo ou prevenção de várias doenças crónicas.

 

leguminosas - ervilha e sal

 

Tem existido uma perceção generalizada que, com a pandemia, as pessoas aumentaram as suas preocupações com o ambiente e alimentação. A Snood Foods sentiu isso de alguma forma?

A Snood Foods começou a produzir e comercializar os seus produtos poucos meses antes do início da pandemia, portanto não existe um histórico que nos permita estimar o real efeito da pandemia na procura por alimentos saudáveis e ambientalmente sustentáveis como os Bean’Go. No início da pandemia, acelerámos a criação da loja online para dar resposta a uma menor deslocação dos consumidores aos pontos de venda/retalho. Em relação a preocupações alimentares, apenas temos tido algumas perguntas sobre a sustentabilidade dos nossos produtos

 

Há uma preocupação com o packaging das vossas embalagens. O que tiveram em linha de conta para a escolha desta identidade gráfica? 

Em primeiro lugar, no que diz respeito ao nome, a marca Bean’Go remete, simultaneamente, para as leguminosas “bean” e para um alimento que pode ser consumido por qualquer pessoa em qualquer altura, mesmo em movimento “go”. Por outro lado, remete para uma escolha acertada e cheia de sorte, por ser foneticamente semelhante à expressão “bingo!”, sendo que quisemos também que a diversão e a irreverência fossem atributos da identidade da marca. 

Por outro lado, em relação ao packaging e à imagem visual, preocupamo-nos essencialmente em passar uma imagem de naturalidade. Por exemplo, usamos a janela para que o produto possa ser identificada da forma mais natural possível, o que não é normal neste tipo de produtos (snacks). Quisemos sobretudo diferenciar-nos, aumentando a transparência da embalagem para tornar visíveis os nossos snacks, e, ao mesmo tempo, comunicando as propriedades mais importantes do produto, como a sua naturalidade, crocância, isenção de glúten e o seu distinto valor nutricional.

 

O material das embalagens foi pensado para posterior reciclagem?

Sim, o material de embalagem é 100% reciclável.

 

Que sugestões gostaria de dar para que as pessoas possam ser mais conscientes no momento de realizar as compras para a sua alimentação?

Talvez o melhor conselho que posso dar é que as pessoas comprem os alimentos de que realmente precisam. Isso implica algum planeamento das refeições. Fazer uma lista de compras antes de sair de casa ajuda sempre.

Uma alimentação frugal, variada, essencialmente baseada em hortícolas, frutos, leguminosas e cereais integrais e complementada com porções moderadas de alimentos de origem animal.

Duarte Torres

Professor na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) e co-fundador da Snood Foods

Encontre todos os snacks em www.bean-go.com

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Slow fashion é um conceito relativamente conhecido, mas nem sempre bem compreendido. Fomos entrevistar a Inês Vaz, que acabou de realizar uma tese sobre Slow Fashion, para nos explicar o que é slow fashion e o que uma empresa da área da moda necessita incorporar para ser verdadeiramente sustentável. 

 

o que é slow fashion

 

O que é Slow fashion?

O slow-fashion (moda lenta) representa um movimento sustentável na indústria da moda. Este movimento junta alguns conceitos antecessores como moda sustentável e moda ética, utilizando o mesmo ideal do já conhecido método de cozinha lenta, o Slow-Food.

Neste sentido, não se reduz apenas à preocupação com questões ambientais, como o conceito de moda sustentável, nem apenas à consideração sobre questões sociais, como o conceito de moda ética, juntando também o desaceleramento do processo de produção e consumo destes artigos.

O objetivo é apostar na produção local e ética de artigos de moda com maior qualidade e durabilidade, de modo a promover a diminuição do seu consumo e descarte, onde no final da sua vida também possam ser reutilizados, reciclados ou reproduzidos. 

 

Pretende contrariar os impactos sociais e ambientais negativos desta indústria, como a exploração dos trabalhadores nas suas fábricas, intituladas, a depleção de recursos naturais, emissão de gases com efeito de estufa e poluição do ar e água

Como começou este “movimento”?

O movimento de Slow-Fashion surgiu em 2007 aliado a uma necessidade urgente de se mudar não só as estratégias e práticas das empresas presentes na indústria da moda como também alterar o pensamento e comportamento dos seus consumidores, no sentido de garantir a sustentabilidade do planeta.

Tal como o nome indica, este movimento pretende contrariar os impactos sociais e ambientais negativos desta indústria, como a exploração dos trabalhadores nas suas fábricas, intituladas de sweatshops (fábricas do suor), a depleção de recursos naturais, emissão de gases com efeito de estufa e poluição do ar e água, estando estes impactos associados principalmente ao modelo de moda rápida, conhecido como Fast-Fashion. Este último modelo promove também uma mudança frequente dos artigos nas lojas, como uma resposta rápida aos constantes novos desejos dos consumidores, sendo assim a indústria da moda identificada como uma das mais poluentes e menos éticas, com foco no crescimento económico e maximização da margem de lucro. 

 

slow fashion

 

Os consumidores estão a aderir a este conceito?

Em resultado dos desafios ambientais e sociais que o planeta enfrenta atualmente e que comprometem a sua sustentabilidade, um número crescente de consumidores encontra-se preocupado com estas questões e consequentemente a aderir a movimentos que garantem a satisfação das necessidades presentes sem comprometer as futuras, como é o caso do Slow Fashion. Assim, para além de se verificar uma mudança da mentalidade deste consumidor com a procura de qualidade em detrimento da quantidade, também se assiste a uma mudança comportamento, com a crescente procura de opções em segunda mão, aquisição de artigos de produção local e que garantem condições justas para os seus trabalhadores e valorização de materiais orgânicos e recicláveis. Para além disto, estes consumidores estão também a exercer uma pressão crescente sobre as empresas presentes nesta indústria, para que estas alterem as suas estratégias e práticas.

O que te motivou a fazer uma dissertação de mestrado sobre este tema?

Do ponto de vista pessoal, a sustentabilidade é um tema que me interessa bastante. Isto porque acredito que o futuro do planeta não está só nas mãos das grandes empresas e organizações, mas está também dependente de cada um de nós.

Em seguida, escolhi aplicar sobre a indústria da moda porque, como disse anteriormente, é uma das mais poluentes e menos éticas, onde as empresas Fast-Fashion têm sido as principais culpadas. É urgente mostrar o processo que está por trás dos artigos que vemos expostos nas lojas e quais são os seus impactos negativos para o planeta.

Para além disso, do ponto de vista empresarial, a sustentabilidade é uma das principais tendências do marketing. E o meu estudo, para além de pretender mostrar a urgência de mudarmos os nossos comportamentos como consumidores, tem também como principal objetivo demonstrar às empresas a urgência de alterarem as suas estratégias e práticas não só no sentido de contribuírem para o alcance das metas de sustentabilidade, mas também para sobreviverem nesta indústria cada vez mais competitiva.

 

É importante não confundir “linhas sustentáveis” com o real conceito de sustentabilidade, uma vez que a maioria destas empresas não garante um verdadeiro equilíbrio das dimensões ambiental, social e económica.

 

Quem é o consumidor orientado para o slow fashion? Como se caracteriza?

O consumidor orientado para o Slow Fashion mostra preocupação com questões ambientais e sociais na indústria da moda, atribuindo maior importância à maneira como os produtos são produzidos e preferindo técnicas artesanais, produção e comércio local em pequena escala.

Para além disso, tem preferência por desenhos mais simples e versáteis que não seguem tendências, escolhendo os artigos com base nas suas reais necessidades.  Estes consumidores sentem-se também mais atraídos por edições limitadas que lhes permitam uma maior capacidade de autoexpressão.

 

Algumas marcas de fast fashion estão a desenvolver linhas sustentáveis. Como interpreta esta tendência?

Algumas marcas de Fast-Fashion, no sentido de agradar a estes consumidores cada vez mais exigentes e preocupados, encontram-se a adotar práticas como o desenvolvimento de linhas “sustentáveis”. Contudo, é importante não confundir estas práticas com o real conceito de sustentabilidade, uma vez que a maioria destas empresas não garante um verdadeiro equilíbrio das dimensões ambiental, social e económica.

Isto acontece porque apesar de desenvolverem linhas com artigos compostos por materiais mais sustentáveis, o conceito de Fast-Fashion continua a focar-se na dimensão econômica, com a redução de custos e aumento de lucro, sem preocupação com os impactos sociais e ambientais negativos que possa advir dessa filosofia.

Para além disto, para que possam ser sustentáveis estes produtos têm também de garantir que em todas as fases do seu ciclo de vida – produção de recursos e matérias primas, extração, lavagem, tratamento, tingimento, tecelagem, montagem, transporte, distribuição, compra, uso e descarte – todos os impactos sociais e ambientais são minimizados, o que não acontece na maioria destas empresas. Estas práticas são assim entendidas como Greenwashing – onde o objetivo é passar uma imagem ambiental positiva perante a opinião pública, ocultando e desviando a atenção dos impactos negativos gerados pelas mesmas.

 

buy less

 

Que marcas de slow fashion são um bom exemplo, para ti, deste conceito?

O número de marcas de Slow Fashion tem aumentado bastante ao longo dos anos, com o exemplo das marcas portuguesas Siz e Miss Castelinhos Handmade, onde os artigos são feitos de fibras naturais e orgânicas e material reutilizado, em pequena escala, manualmente e localmente.

 

Quais as principais conclusões do teu estudo sobre Slow Fashion?

Com o meu estudo conclui-se que o grupo de consumidores com um médio a alto nível de orientação para o Slow Fashion tem uma dimensão significativa na amostra utilizada, sendo que esta dimensão representa um motivo de mudança das organizações no sentido de alcançar as metas de sustentabilidade e atender a este número elevado de consumidores.

Foi também possível verificar que são as mulheres com mais de 54 anos que possuem uma maior orientação para este movimento.

Para além disso, os consumidores deste grupo demonstram possuir valores ambientais, como proteção do meio ambiente e prevenção da poluição, valores altruístas, como paz no mundo e igualdade, crenças negativas associadas a horas excessivas de trabalho e trabalho infantil, e por fim, crenças negativas sobre questões ambientais na indústria da moda.

Por último, pode-se concluir que quanto maior a orientação do consumidor para o Slow Fashion maior a sua intenção em comprar estes produtos. Contudo, verifica-se um desfasamento entre as duas variáveis, sendo que uma orientação elevada nem sempre se pode traduzir em intenção de compra.

 

Com a pandemia, o que acreditas que vai mudar no mundo da moda? Os consumidores serão mais conscientes do que compram e a quem compra?

Uma das tendências que se tem verificado com a pandemia é a procura crescente por artigos de produção local, existindo assim uma maior preocupação em apoiar o comércio tradicional face ao grande consumo e a empresas de Fast-Fashion.

Para além desta questão, existe também uma maior consciência com o tipo de material utilizado nos artigos de moda, no sentido de uma maior preocupação com a saúde. O e-Commerce na indústria da moda é também uma tendência crescente, o que ao nível de sustentabilidade pode não se traduzir na melhor opção, uma vez que implica mais uma fase de transporte com consequentes impactos ambientais negativos.

Inês Vaz

Tem 24 anos e é uma apaixonada por Marketing, área que escolheu para realizar o seu mestrado. É também licenciada em Gestão e atualmente junta estas duas áreas profissionalmente, estando na função de Retail Marketing & ECommerce Assistant na Colgate-Palmolive.

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