BoG: Integrar os 3 Pilares da Sustentabilidade – Inês Rocha

por Ricardo Lopes

Temos muito a aprender com a Inês Ribeiro em Sustentabilidade. Pela formação que tem e pela empresa que criou em parceria, mas essencialmente pelos projetos em que já participou.

 

 

És co-fundadora da BoG – Environmental Consulting. O que a motivou a lançar o projeto? Que problemas ajudam as empresas a resolver na área da sustentabilidade?

A BoG [de Back On Green] é um sonho partilhado, daqueles que nem sabia bem que tinha. Embora com poucos anos no mundo trabalho, após ter a oportunidade de conhecer e participar em alguns projetos nacionais e internacionais e de ficar muitas vezes com a perceção de não me identificar na totalidade com a forma como as coisas aconteciam, uma amiga, a Débora Carneiro, que à data era também ex-colega de trabalho, desafiou-me a começarmos uma coisa nossa, à nossa imagem… e disse-lhe logo que sim.

Assim, de uma vontade enorme de fazer as coisas de forma diferente, com que nos identifiquemos, que reflitam o que somos, os nossos valores e as coisas em que acreditamos, nasceu a BoG, oficialmente a 3 de abril de 2019.

Somos uma empresa de consultoria e prestação de serviços cujo propósito passa por conceber soluções técnicas adequadas para problemas complexos nas áreas de ambiente, sustentabilidade e economia circular. Trabalhamos com o setor privado e também para um conjunto de instituições públicas no mercado nacional e em diversos mercados internacionais, como Cabo Verde, Angola, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe, entre outros.

 

De todas as iniciativas levadas a cabo na BoG, qual destacas?

A sustentabilidade é mesmo um tema cada vez mais em voga, no entanto, em determinados contextos, como as cidades e territórios, temos verificado que para a gestão de topo por vezes torna-se difícil lidar com a complexidade do tema, com as diversas agendas e compromissos, com a articulação de todos os fatores numa perspetiva de curto, médio e longo prazo, assim como com a avaliação da sustentabilidade das ações e o impacte na qualidade de vida da população.

São necessárias ferramentas que monitorizem, avaliem e, mais do que isso, que apoiem a gestão. A BoG tem vindo a desenvolver a aplicação em contexto nacional dessas ferramentas, nas várias fases do processo.

Temos verificado também, de forma transversal às nossas várias áreas de trabalho, a existência de uma dificuldade de comunicação dos nossos clientes para com o seu público alvo das mais valias associadas a determinado projeto. Para colmatar essa dificuldade, estamos a desenvolver uma matriz de comunicação, que fornecemos aos clientes no contexto dos projetos, que facilite a transmissão de informação de forma mais eficaz e clara para todos.

 

Pertences à Smart Waste Portugal Young Professionals.

Qual o propósito deste movimento? Quais as suas principais iniciativas e metas?

O grupo de trabalho SWYP é um fórum para jovens profissionais, até 35 anos, com atividade profissional e/ou interesse no setor dos resíduos. O propósito prende-se com criar redes de trabalho e promover a partilha de conhecimento entre jovens que vejam nos resíduos importantes recursos económicos e sociais, apoiando o desenvolvimento das nossas carreiras e incentivando a troca de experiências.

Organizamo-nos em quatro áreas distintas para a concretização das atividades: educação, investigação & inovação, comunicação e marketing do grupo, mentoria e desenvolvimento de carreira. Todos os jovens com interesse na temática são bem-vindos!

 

sustentabilidade - 3 pilares

 

Estiveste em S. Tomé e Príncipe através da “TESE – Associação para o Desenvolvimento” a desenvolver um projeto de Sustentabilidade e Economia na Gestão de Resíduos.

Em que consistiu este projeto?

A TESE está em São Tomé e Príncipe há já alguns anos e pelo menos desde 2013 que trabalha no setor dos resíduos, com projetos cofinanciados pela União Europeia e Instituto Camões. Tive a oportunidade de colaborar no “+Valores | Sustentabilidade e Economia Verde na Gestão de Resíduos”, um projeto com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável e inclusivo, o reforço da boa governação e a redução das desigualdades socioeconómicas.

Era um projeto ambicioso, sobretudo porque não consistia apenas em “dar” bens materiais ou replicar soluções anteriormente aplicadas noutros contextos, mas sim em criar ferramentas de base e estratégias que permitissem ao país melhorar a sua gestão de resíduos e, consequentemente, a qualidade de vida da população, mesmo após a conclusão das atividades.

Claro que não foi tudo perfeito, mas senti sempre que passos importantes estavam a ser dados. A verdade é que temos de começar por algum lado, mas as verdadeiras mudanças demoram muito tempo a acontecer… basta olhar para o exemplo português: em 2000, a Sociedade Ponto Verde lançava um anúncio televisivo com o mote “Se o Gervásio consegue, tu também conseguirás”. Quase em 2021, continuamos longe do necessário. O problema é que STP não tem 20 anos, mas isso daria outra conversa!

O que aprendeste nesta passagem por S. Tomé relativamente à sustentabilidade?

Esta não é fácil, mas vou tentar resumir em três coisas:

  1. Consolidar a certeza de que a sustentabilidade não se pode individualizar em cada um dos seus pilares, porque sobretudo nestes contextos o benefício social e ambiental é ainda mais indissociável, quer um do outro, quer da questão económica;
  2. A convicção de que as pequenas coisas fazem a diferença no dia-a-dia e que soluções simples podem ser implementadas com um benefício enorme para a população;
  3. Por fim, foi a perceção de que eu não estava a fazer o suficiente – lá nem sempre era fácil, mas num país como Portugal, onde é tão fácil fazermos escolhas melhores, senti que tinha obrigação de fazer mais. Assim, quando voltei, a sustentabilidade passou a fazer ainda mais parte da minha vida e passei a fazer escolhas mais conscientes. A nível profissional, a minha passagem por STP levou a que me inscrevesse na Pós-graduação em Gestão da Sustentabilidade, para conseguir direcionar a minha atividade também para esse campo.

Para quem se quer iniciar e aprender mais sobre sustentabilidade, que livros recomendas?

Deixo dois! O primeiro é o “Factfulness”, do Hans Rosling, que interpreto como uma mensagem de esperança, que nos mostra que o mundo está melhor do que pensamos.

O segundo é o “Desafio Zero”, da Eunice Maia, fundadora da loja-projeto Maria Granel. A adoção do conceito de “zero waste” é uma necessidade, mas pode ser assustador quando não sabemos bem por onde começar e achamos que temos de fazer “tudo” ou, caso contrário, não valerá a pena. E isso não é verdade – todos os gestos contam e o livro é um ótimo ponto de partida para uma presença com menor impacte negativo no planeta.

Maria Inês Ribeiro

29 anos, apaixonada por livros, viagens e humor e a tentar todos os dias viver uma vida com a menor pegada possível. Mestre em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e pós-graduada em Gestão da Sustentabilidade pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, tem participado nos últimos cinco anos em diversos projetos na área do ambiente, com destaque para as áreas de Estudos Ambientais, Resíduos e Sensibilização, em Portugal e nos PALOP.

Descobre os projetos de consultoria da Inês em www.bog-ec.pt

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